Vai viajar após a vacina? Confira 10 tendências da retomada do turismo

Turistas vão encontrar produtos e serviços mais caros, vão exigir conexão 5G, hotéis “pet friendly” e maior respeito à natureza e à diversidade

Turistas brasileiros vacinados vão conseguir viajar para EUA, a partir de novembro, e para Argentina, a partir de outubro
26 de Setembro, 2021 | 06:20 PM

São Paulo — A hashtag #partiu está de volta. Em outubro, brasileiro vacinado contra a Covid já poderá viajar para a Argentina. Em novembro, para os EUA. Esses são os dois destinos internacionais preferidos pelos turistas. E os mais lucrativos para a indústria do turismo. Mais de 100 países já aceitam a entrada de brasileiros imunizados, o que marca a retomada das rotas internacionais para valer.

Para a presidente da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagem), Magda Nassar, o mercado ainda está se adaptando aos novos tempos, com os empreendedores buscando compreender melhor o momento e captar as tendências que vão se consolidar nos próximos anos.

Veja mais: Dólar turismo pode ficar mais caro com a retomada dos voos para os EUA

Por enquanto, ela vê a confirmação do fenômeno do “revenge travel” (viagem da desforra), ou seja, as pessoas querem se “vingar” do tempo perdido no “lockdown” e compensar isso planejando diversas viagens dos sonhos. “Em função do ‘revange travel’, que está fortíssimo, da maior vacinação, que dá segurança às pessoas, e da pequena reincidência de casos de Covid, acreditamos que o mercado internacional volte a responder por 40% dos pacotes vendidos no Brasil”, afirma Magda.

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A retomada dos voos para os EUA e Argentina representa ainda o fim de uma longa espera e até uma pausa nas reclamações sobre as deficiências estruturais dos destinos domésticos. “Trabalho muito com o público de alta renda, que se viu obrigado a viajar pelo Brasil. A pandemia mostrou que o mercado nacional não está preparado para receber o turista acostumado a viajar para fora. A infraestrutura de nossos destinos é muito diferente do que se encontra no exterior”, diz Roberto Nedelciu, que preside a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).

Mas para onde os viajantes estão indo neste momento? A Ásia virou um continente da moda, segundo ele, atraindo turistas de maior poder aquisitivo em busca de retiros espirituais, prática de meditação e ioga. “São viajantes que buscam coisas diferenciadas e evitam roteiros massificados. Temos dificuldades no Brasil de encontrar opções assim”.

A seguir, dez tendências que podem se fortalecer e marcar esse novo capítulo da indústria do turismo com a onda de viajantes vacinados em busca do tempo perdido nas diversas fases do confinamento e da maior crise sanitária do século, segundo os especialistas.

# 1 - Inflação do turismo

Um dos legados econômicos da pandemia é a volta da inflação após a interrupção dos serviços, fechamento de negócios, onda de demissões e prejuízos acumulados durante o “lockdown”. O dólar elevado, acima de R$ 5, impacta os preços dos pacotes, principalmente para viagens ao exterior. Passagens aéreas para destinos populares, como os EUA, já estão mais caras. Países já elevaram ou vão aumentar os juros para segurar os preços

Tulum é um destino emergente após México focar no público brasileiro e divulgá-lo com influencers, segundo a Braztoa

#2 - Novos destinos

Para acelerar a recuperação do setor, os países apostam em novidades nos roteiros. O México quer ver mais brasileiros no litoral de Tulum, na Riviera Maya. O Egito promove atrações, como a visita às pirâmides, com operadoras nacionais. No Nordeste, Alagoas e Rio Grande do Norte trabalham para ser opção ao Ceará e Bahia. O Taiti, Grécia, Canadá e países da Ásia, como Tailândia e Ilhas Maldivas, também devem receber mais brasileiros

#3 - Lugares instagramáveis

A procura por consultoria sobre como “fabricar” um destino está em alta. As preferências de viagens dos influencers em redes sociais como Instagram ajudam a bombar uma cidade ou uma atração. De olho na tendência do turista de escolher um pacote pelas opções de lugares que permitem produzir imagens interessantes, que rendam muitas curtidas, operadoras e agências apostam suas fichas em roteiros que atendam a essa necessidade dos clientes

#4 - Longa temporada

O fenômeno dos nômades digitais (quem está em trabalho remoto, mas mora em outra cidade, estado ou país) faz crescer a procura por hospedagem de longa duração, favorecendo as imobiliárias digitais, que alugam, sem burocracia, apartamentos ou estúdios por longa temporada. Em áreas como TI, o homeoffice permite viagem híbrida: o visitante trabalha e faz turismo. A hotelaria tradicional se adapta e entra no segmento de aluguel por temporada

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Viajar com o animal de estimação a tiracolo é um comportamento que especialistas apontam como uma tendência pós-pandemia

#5 - Hóspede pet

Os lucros recordes do mercado pet durante a pandemia comprovaram o avanço do processo de humanização dos animais de estimação. Cachorros e gatos ganharam um lugar especial no orçamento familiar com a diversificação de serviços e produtos. Lugares “pet friendly”, como restaurantes e shoppings, se multiplicaram. As companhias aéreas e hotéis verificaram o aumento de turistas que desejam viajar com seus bichos quando estão em férias

#6 - Aluguel de ilhas

Para um público premium, agências do turismo de luxo são consultadas sobre o aluguel de ilhas, lugares ecológicos, distantes, em que grupos de turistas podem se isolar do mundo. Apps como Airbnb e Booking recebem anúncios desse tipo. Já a última edição da revista “Private Islands”, que lista 77 ilhas para aluguel ou venda, indicou duas que merecem ser visitadas em 2021: Ilha Paraíso, em Santa Cruz Cabrália (BA) e Ilha Japão, em Angra dos Reis (RJ)

Canudo de vidro ecológico vira opção sustentável para o turista que valoriza a sustentabilidade

#7 - Exigência ecológica

Viajantes estão mais atentos ao debate sobre sustentabilidade, exigindo medidas práticas de preservação ambiental. Aquele canudo de plástico fincado no coco servido à beira da praia ou piscina já causa má impressão. A gestão errada de resíduos pode prejudicar a reputação de um hotel, resort ou uma praia famosa do Nordeste. A geração fã da ambientalista sueca Greta Thunberg não tolera o turismo predatório e socialmente irresponsável

#8 - Viagem segura

O medo de ficar doente longe de casa, durante uma viagem, cresceu com a tragédia dos casos e mortes pela Covid-19 em todo o mundo. A procura por seguros de viagem está em alta, com os visitantes considerando a adesão a esse tipo de produto, a fim de se sentirem mais tranquilos. A pandemia ainda está em andamento, com o surgimento de novas variantes do vírus, cenário que recomenda cada vez mais precaução em relação a situações inesperadas

Turistas querem conexão mais rápida, como a da tecnologia 5G, para mostrar suas experiências nas redes sociais em tempo real

#9 - Conexão rápida

Mesmo com a tendência do “detox digital”, período longe dos estímulos digitais, das redes sociais, os turistas, em sua maioria, preocupam-se cada vez mais com a disponibilidade e a qualidade dos serviços de conexão nos lugares visitados durante suas viagens. Não só para a checagem de e-mails, ligações e publicação instantânea de fotos e vídeos de suas experiências, também pela sensação de segurança dada por esse tipo de infraestrutura

#10 - Respeito à diversidade

Reflexo do amadurecimento da sociedade, o respeito à diversidade humana virou um mantra da indústria do turismo, que investe em treinamento para melhor atender a visitantes de perfis tão distintos. Não se tolera, por exemplo, decorar quartos de casal com cores azul e rosa, como era comum em toalhas e roupões no passado. Novas gerações de turistas tendem a rejeitar locais onde flagram qualquer tipo de preconceito, discriminação e violência

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.