Temporada de unicórnios: Seis startups devem entrar para o clube do bilhão no Brasil

Entre as apostas estão banco digital, gestora cripto, edtech, health tech e empresa de contabilidade; investidores falam sobre os fatores que devem gerar valuations bilionários no Brasil

Por

Bloomberg Línea — A digitalização acelerada e o amadurecimento do ecossistema de startups têm despertado o interesse de fundos locais e internacionais por empresas que de alto potencial de crescimento.

Os números

  • Startups brasileiras receberam um recorde de US$ 5,2 bilhões de fundos de venture capital no primeiro semestre de 2021, segundo dados da plataforma de inovação aberta Distrito;
  • Quatro novos unicórnios surgiram no período: a empresa de produtos digitais Hotmart, a corretora de criptomoedas Mercado Bitcoin e o e-commerce MadeiraMadeira, além do banco digital C6 Bank, que teve 40% adquiridos pelo JPMorgan Chase.

“O capital estava aguardando a disponibilidade de talento e a produção de grandes resultados – e temos visto muitos exemplos nestas duas frentes”, diz Scott Sobel, fundador do Valor Capital Group, fundo que investe em unicórnios brasileiros como a Gympass e Loft.

Veja mais: Startup de educação recebe aporte para acelerar formação de profissionais de tecnologia

  • O Brasil vê algo parecido com a “máfia” do PayPal no Vale do Silício, diz Maria Fernanda Musa, diretora de aceleração de negócios da Endeavor;
  • “Temos capital disponível e exemplos de fundadores de sucesso que inspiram outros a construir algo similar”, argumenta.
  • O ecossistema brasileiro tem um quê da euforia do Vale no início dos anos 2000, mas os fundamentos são diferentes, diz Sobel: “Uma grande população conectada e um alto engajamento nas redes sociais são características únicas do Brasil”;

O que mudou com a Covid-19

Critérios para escolher possíveis unicórnios, como receita e mercado endereçável, continuam os mesmos, mas o leque de oportunidades aumentou.

  • “A intensidade no uso e a penetração da Internet aumentaram significativamente, e isso nos permite imaginar mercados maiores do que no passado”, diz Hernan Kazah, cofundador do fundo Kaszek Ventures, que investe em unicórnios como Nubank e Creditas.
  • Fabien Mendez, CEO da Loggi, unicórnio brasileiro de logística e investidor anjo, associa a atual ebulição de startups a uma nova revolução industrial, impulsionada pelo acesso a poder computacional, além da conectividade e a automação;
  • “Essa mudança secular na economia, combinada à disponibilidade de talento e capital devem gerar muitos unicórnios”, prevê.

Veja mais: Sete de doze ações de ‘tech’ valem menos que no IPO; Quem são as ‘stonks’ brasileiras?

  • Há uma “descentralização do Vale do Silício” em curso, diz Brian Requarth, cofundador do marketplace imobiliário Viva Real, vendido para a OLX no ano passado por R$2,9 bilhões, e cofundador do fundo pré-seed Latitud: “As condições de acesso a capital serão mais equitativas”;
  • A migração do capital para empresas de base tecnológica traz um poder inédito para certos fundadores, diz Gustavo Araújo, sócio do Distrito;
  • Há liquidez de sobra, e investidores precisam provar que são o melhor parceiro para uma startup muito disputada”.

Apostas para o futuro

Segundo Requarth, da Latitud, todos os segmentos da economia estão sendo conduzidos a uma “era tech-first”: “A prioridade passa a ser encontrar quem vai construir estas empresas,” diz.

Mas: Investidores continuam fiéis a certos segmentos. Requarth ressalta que fintech continuará sendo a “droga de entrada” para investidores no Brasil.

  • “Ainda veremos muitas inovações em fintech, tanto em serviços para consumidores quanto para empresas e infraestrutura”, diz Kazah, da Kaszek Ventures.
  • “Vemos o Brasil como um dos maiores mercados de cripto no mundo, e que mercados emergentes obterão muito valor com o blockchain”, acrescenta Sobel, da Valor Capital.

Veja a seguir seis apostas do mercado de possíveis futuros unicórnios brasileiros:


Contabilizei

O que é:

  • Startup que fornece serviços de contabilidade e abertura de empresa com a proposta de democratizar o acesso e redução de burocracia para autônomos e pequenos negócios;
  • Fundada em 2013, tem mais de 30 mil clientes e automatiza processos e rotinas contábeis. Clientes da empresa tem acesso a atendimento telefônico e a opção de uma conta bancária integrada gratuita;
  • A startup diz ter gerado mais de R$ 650 milhões em economias a pequenos e microempresários com seu modelo desde sua fundação.

Veja mais: Agfintech LeveAgro quer captar R$ 10 milhões ainda em 2021 para expandir atuação

Cifras: Em janeiro de 2021, a Contabilizei recebeu um aporte Série C liderado pelo Latin America Fund do SoftBank, que já investe em unicórnios como Creditas, QuintoAndar e MadeiraMadeira.

Mercado: Mais de 1 milhão de pequenas e microempresas foram abertas entre janeiro e abril deste ano, segundo pesquisa do Sebrae, que elenca a digitalização de processos como um dos temas mais frequentes neste segmento, atrás apenas de obtenção de crédito.


Hashdex

O que é:

  • Gestora focada em criptoativos, a Hashdex diz ter mais de 150 mil investidores, incluindo os acionistas de seu Exchange Traded Fund (ETF, fundo negociado em bolsa) de criptoativos e dos seus demais fundos, com cerca de R$ 4 bilhões sob gestão.
  • Em fevereiro deste ano, lançou na Bermuda Stock Exchange o primeiro ETF de criptoativos aprovado no mundo, que segue o Nasdaq Crypto Index (NCI), índice co-desenvolvido pela startup e a Nasdaq. Em abril, estreou o primeiro ETF de criptoativos da Bolsa brasileira (B3), movimentando R$ 156 milhões na estreia.
  • Em junho, anunciou que irá distribuir fundos de investimento nos Estados Unidos com a gestora norte-americana Victory Capital, com produtos que seguem o NCI.

Veja mais: Bayer investe em startup que busca reduzir uso de fertilizantes

Cifras: No início de maio, a Hashdex recebeu um investimento de US$ 26 milhões, em uma rodada liderada pelo Valor Capital Group, com participação de Softbank, Coinbase Ventures e outros investidores.

Mercado: Há um forte movimento global de valorização de criptomoedas em curso, e o Brasil não é exceção. Mais de R$ 95 bilhões em cripto foram declarados por brasileiros à Receita nos primeiros cinco meses de 2021, ante R$ 32,91 bilhões em 2020.


Olist


O que é:

  • Plataforma que ajuda lojistas a venderem em marketplaces nacionais e internacionais com tecnologias de vendas e inteligência de mercado que apoiam mais de 100 mil lojas virtuais em 170 países;
  • Em fevereiro deste ano, a empresa fundada em 2015 anunciou um investimento na nocnoc, startup que viabiliza a comercialização de produtos oriundos de vendedores estrangeiros em marketplaces na América Latina, principalmente o Brasil.
  • Investimentos em M&As e novas unidades de negócio fazem parte do plano estratégico atual da startup. Além da nocnoc, a Olist comprou a PAX Logística, que conecta varejistas a marketplaces, e a Clickspace, especializada em soluções para marketplaces e comércio via redes sociais no final de 2020.

Veja mais: Amazon estreia em gestão de patrimônio na Índia via fintech Smallcase

Cifras: Em novembro de 2020, a empresa levantou R$ 310 milhões com o Softbank em uma rodada Série D. O mega-fundo japonês já havia investido R$ 190 milhões na empresa no final de 2019.

Mercado: Marketplaces passaram a representar mais da metade do comércio online mundial desde a emergência da pandemia, segundo a Statista. O e-commerce brasileiro gerou R$ 30 bilhões em faturamento no primeiro semestre do ano passado através de lojas que atuam nestas plataformas, segundo a E-Bit Nielsen, uma alta de 56% em relação a 2019.


Alice

O que é:

  • Gestora de planos de saúde individuais, e se autodenomina primeira empresa de saúde do país que foca na promoção da saúde de seus “membros”, ao invés da doença.
  • Além de uma equipe de especialistas como médicos e nutricionistas que conduzem um plano de ação de saúde com o segurado online, a Alice disponibiliza telemedicina e consultas presenciais em um centro médico em São Paulo e atendimento através de instituições parceiras como o Hospital Albert Einstein e a rede de laboratórios Fleury.
  • Quando a empresa anunciou seu último aporte, tinha 1.100 clientes e pretende quintuplicar a base até o fim do ano.

Veja mais: SEC aumenta escrutínio de IPOs de empresas chinesas nos EUA

Cifras: Sete meses depois de seu lançamento em 2020 e um aporte seed que incluiu a participação de David Vélez, do Nubank, a empresa recebeu em fevereiro deste ano um investimento de US$ 33,3 milhões, a maior rodada série B recebida por uma healthtech até então.

Mercado: Com a telemedicina regulamentada pelo Ministério da Saúde em 2020, o setor de healthtechs passa por um ponto de inflexão. Há oportunidades para aumentar a adesão a novos formatos e funcionalidades, por consumidores, que buscam alternativas a atual oferta de convênios médicos.


Descomplica

O que é

  • Plataforma de educação a distância com cursos preparatórios para Enem, vestibulares concursos públicos, além de reforço universitário e ensino superior. A empresa diz alcançar 5 milhões de usuários por mês em todas as suas frentes educacionais.
  • Foi a primeira edtech a entrar no segmento de ensino superior e oferece cursos de graduação e pós-graduação através da Faculdade Descomplica, lançada em 2020. A meta é chegar a um milhão de alunos nessa frente, com uma rápida expansão de cursos;
  • A estratégia de crescimento da startup fundada em 2011 tem a aquisições de tecnologias e faculdades entre seus principais pilares.

Cifras: Em fevereiro de 2021, a startup recebeu um aporte de R$450 milhões, liderado coliderada pelos fundos de investimento Invus Opportunities e SoftBank, com participação do fundo Valor Capital Group, Península Participações, a Chan Zuckerberg Initiative (CZI) e Amadeus Capital Partners. The Edge, guitarrista da banda irlandesa de rock U2, também co-investiu.

Mercado: Segundo a Global Market Insights, o mercado de ensino a distância deve ultrapassar US$ 1 trilhão até 2027, puxado pela migração para o ensino híbrido. No Brasil, 63,8% das edtechs mantiveram ou aumentaram o faturamento em 2020, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). A grande maioria (70,6%) está concentrada na educação básica.

Veja mais: Sete principais investidores na América Latina descrevem o que impulsiona a região: segunda parte


Neon

O que é

  • Banco digital, com cerca de 12 milhões de clientes. O perfil típico do cliente da startup é o trabalhador das classes C e D.
  • Com um portfolio de serviços para pessoa física, a startup também atende o segmento de microempreendedores individuais (MEIs), fortalecido com a compra da startup MEI Fácil em 2019.
  • Além de mais aquisições, áreas de foco atuais para a empresa incluem a oferta de produtos de crédito e investimento para pessoas físicas, além de serviços para MEIs.

Cifras: Em setembro de 2020, o Neon recebeu um aporte de US$ 300 milhões em um aporte Série C, liderado pela General Atlantic. Outros investidores como a gestora global de ativos BlackRock, Vulcan Capital e Endeavor também participaram. À época, a empresa relutou em se autodeclarar unicórnio, mas a próxima rodada deve oficializar o fato.

Mercado: Em meio ao desemprego crescente, o número de MEIs no Brasil chegou a 11,3 milhões em 2020, segundo dados do Sebrae. Serviços para microempreendedores são apontados por especialistas como uma das maiores oportunidades para a diferenciação de bancos digitais, e podem incluir ofertas de crédito, além de maquininhas e antecipação de recebíveis.

Leia também

Mensagem dos empregadores americanos é clara: tome a vacina ou caia fora

OnlyFans abandona plano de banir conteúdo explícito

Santander prevê 55 novas companhias listadas na B3 em 2021 com onda de IPOs