Nuvemshop cresceu com foco nos pequenos negócios. Marcas médias entraram na mira

Plataforma para e-commerce investe R$ 50 milhões em IA e aposta na Nuvemshop Next para conquistar empresas consolidadas que faturam milhões por mês; segmento já responde por 35% do GMV e deve chegar a 50% ou 60%

Nuvemshop avalia que há muitas oportunidades em ajudar empresas médias a montar e operar negócios de vendas pela internet
19 de Novembro, 2025 | 06:36 AM

Bloomberg Línea — Depois de 14 anos com foco em ajudar pequenos empreendedores a vender online, a Nuvemshop tem acelerado os passos para atrair um novo perfil de clientes: marcas consolidadas ou em expansão e com faturamento na casa dos milhões de reais mensais.

Em 2022, a plataforma de criação de e-commerces começou esse movimento com o lançamento da Nuvemshop Next, que soma 2.000 clientes e responde por 35% de todo o GMV (volume bruto de mercadorias) que transita pelo negócio.

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A base de clientes no país é de 180 mil empresas. Entre as marcas, nomes como ShortsCo, Billabong, Mais Mu e Graco.

“O principal foco da Nuvemshop hoje é o Brasil, em particular com o NuvemShop Next”, disse o argentino Alejandro Vázquez, CEO e co-fundador da empresa, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Essa base de clientes do Next tem dobrado ano a ano e vai continuar nesse ritmo, é a nossa expectativa. Em dois ou três anos, estimamos que esse grupo representará entre 50% e 60 % do nosso GMV.”

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Vázquez contou que a plataforma continuará a investir na base de clientes menores, que cresce ao ritmo de 25% ao ano, e é a origem do negócio. “Temos a missão de potencializar histórias de sucesso”, disse.

A trajetória da Nuvemshop começou na Argentina em 2011, três anos depois de Vázquez e seus quatro sócios tentarem criar um marketplace para conectar redes sociais ao comércio eletrônico.

A ideia não prosperou, mas revelou a necessidade ainda embrionária à época de criação de sites próprios por pequenos e médios lojistas, frente ao avanço dos modelos de marketplaces.

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A primeira rodada de investimento captou US$ 300 mil de investidores-anjo ligados à tecnologia, incluindo fundadores da OLX. Era o suficiente para lançar a operação no Brasil, o maior mercado da região e que hoje gera cerca de 60% da receita da Nuvemshop.

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Quando a pandemia chegou em 2020, a companhia tinha 30.000 clientes e 170 funcionários. Os números saltaram para os atuais 180 mil clientes e 1.500 funcionários.

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Além do Brasil, a Nuvemshop tem escritórios na Argentina e no México e opera ainda na Colômbia e no Chile, sob o nome de TiendaNube.

“Quando olhamos para o mercado médio, ainda não somos tão óbvios”, disse o CEO e co-fundador.

“Na Argentina, temos uma posição muito dominante tanto para os pequenos negócios quanto para os médios. Como conseguir essa posição aqui no Brasil? Acreditamos que seguindo quase o mesmo playbook.”

O movimento passa, segundo Vásquez, por contribuir para que os clientes ampliem as vendas e melhorem o lucro, com mais investimento em desenvolvimento de produtos e tecnologia e em construção de marca.

“Quanto mais marcas nos acompanharem, mais esse movimento terá influência na percepção do mercado”, resumiu o CEO.

A oportunidade que a Nuvemshop enxerga está no que considera uma “lacuna deixada por concorrentes. Segundo Vázquez, plataformas como Shopify e VTEX migraram o foco para marcas internacionais ou empresas gigantes.

“A própria VTEX, que focava muito no Brasil, hoje olha muito mais para o enterprise, principalmente nos Estados Unidos e na Europa”, afirmou.

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Por outro lado, os demais concorrentes não têm capacidade de acompanhar o crescimento dessas marcas em termos de produto e serviços.

Como consequência, empresas pequenas e médias têm atendimento distante, precisam contratar terceiros e convivem com custos elevados.

“Há casos de take rate de 5% só de plataforma, sem meio de pagamento”, disse. “É aí que enxergamos o nosso espaço [para crescer].”

Momento de crescimento

Nos últimos anos, a Nuvemshop vem construindo um ecossistema, conectado com o negócio principal de hospedagem de e-commerces.

A NuvemPago, meio de pagamento que responde por 60% do GMV movimentado na plataforma, foi o primeiro dos produtos. A empresa ainda conta com um serviço logístico negociado com transportadoras parceiras, plataforma de CRM e uma solução de PDV, de gestão para o varejo físico.

As últimas novidades são uma vertical de crédito, criada em 2024 e que prevê a concessão de R$ 100 milhões neste ano em capital de giro pelos empreendedores. E a NuvemChat, plataforma que permite pagamentos dentro do WhatsApp, em um primeiro passo de “comércio agêntico”.

“Hoje, nós falamos em ser um ecossistema em que as marcas do mundo do varejo têm tudo do que precisam para ser bem-sucedidas na venda direta ao consumidor”, afirmou Vázquez.

A Nuvemshop cresce mais de 70% ao ano, ritmo que pretende manter ao longo dos próximos cinco anos. “Se fizermos isso, estaremos em um patamar de companhia bastante único na região”, disse.

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Os números são projetados levando em conta a ainda baixa penetração de compras online no país, na casa dos 13%.

Segundo o CEO, a empresa chegou ao breakeven em alguns momentos, mas o foco atual está na estratégia de expansão de “forma saudável”.

O negócio ainda conta com o caixa dos dois últimos aportes realizados em 2021, que somaram US$ 600 milhões e elevaram à startup ao status de unicórnio, com um valuation de US$ 3,1 bilhões.

Fundos internacionais como Tiger Global, Insight Partners e Kaszek Ventures estão no cap table do negócio.

“Hoje não temos necessidade de caixa para financiar ou alavancar o crescimento nos próximos anos”, afirmou Vázquez.

Os investimentos são feitos com caixa próprio e o capital reservado. Neste ano, por exemplo, terá desembolsado R$ 50 milhões em novos produtos e tecnologia com IA para transformar a forma como os clientes constroem os sites em sua plataforma.

“Com IA, cada marca consegue montar landing pages e lançamentos de produto de forma muito mais personalizada.” Segundo ele, o NuvemChat, o primeiro projeto do gênero no mundo, foi criado com parte desses recursos.

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