Bloomberg Línea — A experiência de startups brasileiras de serviços financeiros com o Pix tem ajudado as empresas a expandir os negócios na América Latina, à medida que países da região lançam seus próprios sistemas de pagamentos instantâneos similares ao do Brasil.
O exemplo mais recente vem da Colômbia, que inaugurou neste mês o Bre-B, uma plataforma de transferências instantâneas desenvolvida sob coordenação do Banco Central local.
A infraestrutura tecnológica do projeto contou com a participação da Dock, fintech brasileira avaliada em US$ 1,5 bilhão que tem entre seus investidores os fundos Lightrock, Silver Lake Waterman e Riverwood.
A fintech, que opera na Colômbia há alguns anos, foi a responsável pela tecnologia usada pelo Credibanco, uma das seis instituições licenciadas a operar o sistema.
Segundo Antonio Soares, fundador e CEO da Dock, a startup teve uma participação ativa nas discussões sobre segurança e prevenção a fraudes, e ainda sobre os casos de usos para o novo método de pagamento.
“Dado a nossa expertise em tecnologia, no Pix e em pagamentos brasileiros, entendemos em conjunto que poderíamos levar não só a tecnologia, mas também o aprendizado que tivemos com o Pix”, disse Soares, em entrevista à Bloomberg Línea.
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Em operação desde 2020, o Pix se tornou rapidamente o método de pagamentos mais popular no Brasil, permitindo transferências eletrônicas entre contas de forma instantânea, 24 horas por dia, sete dias por semana, e gratuita para pessoa física.
Mais de 161 milhões de pessoas e 16 milhões de empresas são cadastradas nos sistema brasileiro, segundo dados do Banco Central. Em setembro, as transações via Pix somaram R$ 3,18 trilhões, um volume recorde que tem sido quebrado quase mensalmente desde o lançamento há quase cinco anos.
O fundador e CEO da Dock disse que, ao longo do desenvolvimento do Bre-B, em conversas que levaram 18 meses, ele buscou mostrar, a partir do exemplo brasileiro, que o sistema pode cumprir um papel importante não só entre as pessoas físicas, mas também para os microempreendedores.
“Essa é uma primeira ponta de um mercado maior, o de crédito, que também pode ser bem explorado na Colômbia”, diz Soares. “Pagamentos instantâneos são, de fato, revolucionários. Eles mudam a relação das pessoas com o dinheiro e criam bases para dar crédito a quem hoje não tem histórico financeiro”, afirmou.
A Dock e o Credibanco estão em conversas sobre os próximos passos do sistema, acompanhando o planejamento do Banco Central colombiano, que prevê novas funcionalidades nos próximos meses.

O ambiente regulatório do país guarda similaridades com o brasileiro, até por causa da cooperação técnica entre os bancos centrais de ambos países.
O Bre-B tem semelhanças com o Pix, mas com uma diferença estrutural importante: na Colômbia, as chaves de pagamento são divididas entre o Banco Central e os participantes do sistema, como o próprio Credibanco, em um modelo considerado mais distribuído, similar ao UPI (Unified Payments Interface) indiano.
Novos mercados
A presença da Dock no projeto é mais um passo na internacionalização da empresa, iniciada em 2021 com a aquisição de uma operação no México. Desde então, a fintech ampliou a presença na região chegando a 11 países, incluindo Colômbia, Chile e Argentina.
A operação hispânica responde por mais de 10% da receita e segue com viés de alta, segundo a empresa, com o crescimento impulsionado pela vertical de embedded finance, com a emissão e o processamento de cartões para empresas não financeiras. No primeiro semestre, a Dock registrou uma receita bruta de R$ 450 milhões.
“Nós já superamos a previsão na região e estamos literalmente dobrando de tamanho em LatAm. Está sendo um negócio bem interessante”, afirmou Soares.
-- Correção 15/10/2025, às 9h28: a receita bruta da Dock no primeiro semestre de 2025 foi de R$ 450 milhões, e não R$ 152 milhões como informado anteriormente no penúltimo parágrafo. O valor de R$ 152 milhões se refere apenas a intermediação financeira.
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