Bloomberg Línea — Apesar do cenário econômico com incertezas, o Brasil tem consolidado sua posição de destaque como mercado consumidor em diferentes segmentos. É o caso da indústria de eletrodomésticos da linha branca e da Whirlpool, gigante global norte-americana conhecida por marcas como Brastemp, Consul e KitchenAid.
Diante de números sucessivos de crescimento, a Whirpool inaugurou nesta terça-feira (9) em Rio Claro, a 170 quilômetros de São Paulo, a chamada “Fábrica do Futuro”, um centro de capacitação em manufatura avançada que projeta treinar 6.000 pessoas em 2026. A companhia investe R$ 500 milhões por ano em pesquisa, desenvolvimento e automação.
“A expectativa é bem positiva. Com a queda dos juros esperada para 2026, acreditamos que vamos conseguir mais um ano de expansão. Seria o quarto ano de crescimento contínuo”, afirmou Gustavo Ambar, diretor-geral da Whirlpool no Brasil, à Bloomberg Línea.
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A taxa Selic está em 15,00% ao ano, mas o mercado trabalha com projeções que apontam para juros básicos na casa de 12% ao ano ao fim de 2026.
Além disso, o aumento da renda média do trabalhador brasileiro e a queda do desemprego deram impulso para as vendas, segundo o executivo. O mercado brasileiro de eletrodomésticos da linha branca cresceu em vendas em volume e em valores.
A Black Friday de 2025 superou a do ano anterior, com a categoria de refrigeração na liderança do crescimento, segundo Ambar, que está no cargo há dois anos e meio.
A companhia fechou o primeiro semestre de 2025 com perda de participação de mercado, mas se recuperou no segundo semestre.
“Estamos perto de recuperar tudo até dezembro”, disse o diretor geral da Whirlpool no Brasil. Fogão e microondas foram as categorias que mais ganharam participação por causa da competitividade de preços, segundo ele.
Primeira operação global
A Fábrica do Futuro é a primeira iniciativa do gênero na rede global da Whirlpool. O projeto reúne competências em robótica, inteligência artificial, aprendizado de máquina, visão computacional, gêmeo digital, internet industrial das coisas e realidade aumentada.
A meta é aumentar a produtividade em 50% nos próximos quatro a cinco anos em todas as unidades brasileiras, segundo Vinicius Tokuda, diretor de operações da unidade de Rio Claro.
A unidade, que concentra pouco mais de 3.000 dos 11.000 colaboradores da Whirlpool no Brasil, registrou 38.000 sugestões de melhorias operacionais no último ano.
“Nossa primeira etapa foi convidar os colaboradores na jornada de transformação por meio do programa de excelência operacional WCM [manufatura de classe mundial]”, afirmou Vinicius Tokuda, diretor de operações da unidade.
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“A tecnologia potencializa o que as pessoas trazem. Se você aproveita bem as pessoas capacitadas com tecnologia, cada negócio vai se tornar mais competitivo”, disse Evelyn Veronese, vice-presidente da cadeia de suprimentos para América Latina, durante o evento de inauguração do hub.
A operação brasileira é a segunda maior da companhia no mundo, atrás apenas dos EUA.
A fabricação local responde por mais de 95% dos produtos comercializados no país, com fornecedores locais que representam 82% da cadeia de suprimentos.
Concorrência asiática
A principal categoria sob pressão pela oferta chinesa é a de ar-condicionado, em que atuam marcas como Midea, TCL e Hisense.
“O ponto é que esses players estão migrando também para outras categorias”, afirmou Ambar.
Atualmente TCL, Hisense e Midea já aparecem em grandes varejistas em outras linhas de produtos.
O avanço chinês ocorre não apenas com marcas mas também na cadeia de fornecedores - o que representa o outro lado do fenômeno.
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“Quando você olha do ponto de vista de fornecedor, tem uma oferta grande, por exemplo, de aço, o que é uma alternativa para nós”, disse o executivo.
Varejo pressionado
Segundo o executivo, a cadeia varejista de eletrodomésticos continua pressionada.
Além das taxas de juros elevadas e das dívidas, grandes redes como Casas Bahia e Magazine Luiza enfrentam concorrência de Mercado Livre e Amazon em segmentos em que estas antes não atuavam, além de players chineses no mercado online.
“A combinação do custo de capital, acentuado pelas dívidas existentes, mais a competição extra, torna a vida deles bem desafiada”, disse o executivo.
Diante desse quadro, a Whirlpool tem ajustado sua logística para reduzir a pressão sobre varejistas. A estratégia passa por uma leitura mais precisa de demanda, abastecimento eficiente dos centros de distribuição e adoção de calendário promocional que demande menos capital de giro, segundo Ambar.
A companhia trabalha com dólar projetado a R$ 5,50 para 2026, segundo o diretor geral - uma métrica importante diante dos insumos e da estratégia de exportação para países como Colômbia e México.
A Argentina, por sua vez, teve retração por causa da abertura abrupta da fronteira. A exportação de Joinville para o país vizinho, principalmente de geladeiras, caiu a partir do segundo trimestre de 2025.
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