Whirlpool aposta em produtos para apartamentos menores e vê retomada da demanda

Em entrevista à Bloomberg Línea, Gustavo Ambar, VP para LatAm e general manager no Brasil, conta como novas tendências impactam a estratégia da fabricante das marcas Brastemp e Consul

Gustavo Ambar, general manager para o Brasil e VP para LatAm da Whirpool
24 de Novembro, 2023 | 10:01 AM

Bloomberg Línea — O início dos cortes nas taxas de juros deixou a indústria de eletrodomésticos confiante com a retomada das vendas dos bens duráveis. A redução dos custos, aliada a inovações em lançamentos, também contribui para uma melhora das perspectivas para o faturamento do segmento em 2024.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Gustavo Ambar, VP para a América Latina e general manager da operação brasileira da gigante global Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, disse que o volume de vendas pode fechar o ano com crescimento de até dois dígitos com a recuperação da demanda.

Uma das principais alavancas é justamente a Black Friday, em que aposta na venda de produtos novos no país como fogão com air fry e lavadora front load (abertura frontal do cesto).

De olho nas mudanças nas preferências dos consumidores, a Whirlpool também aposta em eletrodomésticos com a cor preta, uma tendência no segmento. A lavadora double wash (dois cestos para separar roupas brancas e coloridas em lavagens simultâneas) é outro exemplo citado de produto com demanda crescente, segundo Ambar, devido à economia de energia, água e tempo.

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“Temos buscado soluções de lava e seca para casas e apartamentos menores de 30 e 40 metros quadrados, um mercado crescente”, observou.

“Há cinco meses, eu estava mais cético com a melhora do mercado, mas revisei as perspectivas e consigo enxergar até um crescimento de duplo dígito. A queda do juro é um sinal positivo. A concessão de crédito traz certo otimismo. Tivemos um reabastecimento de estoques no terceiro trimestre que aponta um viés positivo para o quarto”, avaliou.

O executivo, que assumiu o cargo para o Brasil no segundo trimestre, reconheceu as dificuldades financeiras enfrentadas por algumas das maiores redes varejistas, mas disse que houve um esforço conjunto da indústria e de revendedores com bancos e seguradoras para evitar efeitos maiores de crédito.

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Neste ano, grandes players no varejo de eletrodomésticos, como Americanas (AMER3), em recuperação judicial, Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3), acumulam desvalorização anual das ações na B3, de 76% e 20%, ante ganho de 14% do Ibovespa, índice acionário de referência.

“Os revendedores estão com menor patamar de estoques. As negociações de preços nunca são fáceis, mas não foram mais difíceis do que em trimestres anteriores”, disse Ambar.

A expectativa do executivo é que as vendas do segmento na Black Friday sejam melhores do que dos últimos dois anos, quando o consumidor estava mais endividado devido ao maior custo do crédito com a taxa Selic, que chegou ao pico de 13,75% ao ano em agosto de 2022.

No último dia 1º de novembro, o Cupom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, fez o terceiro corte consecutivo do juro, que caiu para 12,25% ao ano, sinalizando novas reduções na mesma magnitude (0,50 ponto percentual) após apontar uma tendência de desinflação.

“Notamos no terceiro trimestre um crescimento gradativo na categoria de eletrodomésticos, apontando um crescimento alto de volume, perto de 10% na comparação anual. Pesquisas de mercado mostram maior probabilidade de o consumidor se interessar e comprar eletrodomésticos, mais do que nos anos anteriores. Estamos confiantes em uma boa Black Friday”, afirmou.

No começo do segundo semestre, a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), que monitora os indicadores de comercialização da indústria para o varejo, projetava um crescimento anual nas vendas entre 4% e 6% em relação à 2022.

A entidade compila dados de quatro segmentos: ar-condicionado, linha branca (fogões, lavadoras de roupas e geladeiras), linha marrom (televisores) e linha portátil (de liquidificadores a air fryers).

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No primeiro semestre, segundo a Eletros, foram vendidas 44 milhões de unidades, com aumento de 13% ante as 39 milhões de unidades no mesmo período do ano anterior.

Chineses e portfólio

A Whirlpool, que repassou a alta de custos de produção para os preços em 2021 e no início de 2022, teve dificuldades de manter o market share no mercado, mas essa fase é dada como passado.

“Neste terceiro trimestre, ganhamos quase quatro pontos de market share em refrigeradores, lavadoras e fogões. Estamos no caminho certo”, contou Ambar.

Ao comentar a competição com grupos asiáticos nos últimos anos, como as fabricantes chinesas Midea, Hisense, Gree e TCL, disse que isso contribui para aumentar o mercado e expor os diferenciais das marcas da companhia.

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A Whirlpool iniciou no terceiro trimestre um trabalho de reposicionamento da marca Brastemp, disse o executivo, que aponta a necessidade de interação com todas as faixas etárias e de nova identidade visual.

“Um das nossas prioridades operacionais é a recuperação de market share”, reforçou o executivo.

A aposta na inovação é outra pauta urgente da companhia. Ele disse que 4% do faturamento é investido em pesquisa de inovação e que a Whirlpool desenvolve colaborações com universidades.

Novidades produzidas em unidades fora do Brasil são importadas para distribuição no país. A operação brasileira chega trazer, por exemplo, produtos da fábrica da multinacional na Argentina , como lavadoras front lead, um modelo sem abertura superior em que concorrentes asiáticas apostam.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.