Tenda vê casas pré-fabricadas como um ‘extra’ ao negócio. Falta convencer o investidor

Plano da incorporadora para baixa renda é diminuir a queima de caixa operacional da subsidiária a ponto de eliminar seu peso nos resultados do grupo, destravando valor da ação versus seus pares, segundo contou o CEO Rodrigo Osmo a jornalistas

Empreendimento da construtora Tenda
23 de Dezembro, 2025 | 05:30 AM

Bloomberg Línea — Passados cinco anos da pandemia, a Tenda avalia que o turnaround no negócio foi bem-sucedido. A margem bruta, que caiu do patamar de 30% para 8% no pior momento pós-Covid, já superou o nível anterior e alcançou 35% no último resultado divulgado, no terceiro trimestre de 2025.

Ainda assim, a ação da incorporadora segue negociada abaixo dos pares no mercado de imóveis para famílias de baixa renda. A Tenda opera em múltiplo de preço/lucro de 5,7 vezes no indicador projetado para 2026, enquanto concorrentes como Cury e Direcional têm múltiplos de 9 vezes e 9,2 vezes, respectivamente.

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Segundo os executivos da companhia, um dos fatores que impede a valorização é o peso de sua subsidiária de casas pré-fabricadas, a Alea, no balanço do grupo.

O esperado breakeven da divisão de casas não aconteceu em 2025, como previsto, e a Alea ainda representa uma queima de caixa de R$ 175 milhões.

A meta é diminuir o consumo de caixa operacional da subsidiária a ponto de “apagar” seu peso no balanço.

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A Tenda apresentou um plano de reformulação do negócio que diminui a área de atuação da Alea de sete regiões para apenas três. O plano inclui ainda investir na verticalização total das operações, dado que encontrar mão-de-obra foi um dos grandes desafios de escala do negócio no ano.

É uma mudança também de narrativa. O resultado final transformaria a Alea em uma “opcionalidade”: o investidor compraria a ação mirando o negócio principal, a Tenda, e ganharia de “bônus” a Alea.

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Rodrigo Osmo, CEO da companhia, estima que esse movimento pode equalizar os múltiplos da construtora com seus pares e, assim, elevar o preço da ação.

“Para isso, é preciso que o mercado atribua um risco baixo de volatilidade à Alea e não atribua nenhum valor [detrator] a ela: se torna uma opção gratuita. Se isso acontecer, já teríamos um acréscimo de 60% no valor das ações da companhia”, afirmou o Osmo a investidores durante o Tenda Day neste mês.

Osmo reforçou que o grupo enxerga a Alea como um investimento que, no futuro, pode ser ainda maior que a Tenda.

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Uma das apostas é o protagonismo no setor de casas, que ainda representa 70% do mercado brasileiro e no qual não há nenhum concorrente com capital aberto em atuação.

Outro ponto de inflexão pode ser o agravamento da crise de mão -de-obra na construção civil. Diante da escassez de trabalhadores, companhias do setor devem se voltar cada vez mais para processos industriais como os da Alea, que oferece casas pré-fabricadas.

De olho no potencial de longo prazo, a gestora Good Karma Partners (GKP), de Eduardo Mufarej, comprou 6,97% do capital social da Alea em dezembro de 2024 por R$ 80 milhões. Na época, a operação chegou a avaliar a subsidiária em R$ 1,17 bilhão – valor que representava o equivalente a 73% do market cap da Tenda no momento da operação.

Mas, enquanto sustenta uma visão otimista no longo prazo, o mantra atual é colocar o “pé no freio”. O breakeven da subsidiária foi adiado para 2027, e Osmo espera que – ao menos até lá – o ativo seja entendido pelo mercado como um investimento.

“É um investimento de altíssimo potencial que vai representar 1% da nossa receita. É um valor baixo, já que um orçamento normal de pesquisa e desenvolvimento costuma ser de 3% a 4%”, afirmou a jornalistas.

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Rodrigo Osmo, CEO da Tenda, espera que protagonismo do faixa 1 do MCMV continue impulsionando resultados da construtora

Luiz Maurício Garcia, CFO da Tenda, destacou ainda um segundo desafio para destravar valor para os papéis: atrair o investidor estrangeiro para a base acionária da companhia.

A Tenda tem 22% de estrangeiros na sua base, versus 57% das concorrentes Cury e Direcional.

“Ficamos cinco anos sem fazer roadshows no exterior. Tem um espaço grande e entendemos que isso explica parte do desconto da ação”, afirmou Garcia a investidores.

Apesar de as três empresas atuarem no Minha Casa Minha Vida (MCMV), Cury e Direcional estão focadas nas faixas de maior renda do programa, para compra de imóveis de até R$ 500 mil. Já a Tenda opera na faixa 1, de entrada no programa, que tem teto de R$ 270 mil.

Osmo disse não acreditar, no entanto, que a diferença de faixa de atuação seja um detrator para os potenciais investidores estrangeiros.

“O investidor não enxerga o faixa 1 como de maior risco – é um segmento que tem inclusive recursos mais preservados que as outras faixas", afirmou.

A despeito do desconto para os pares, a ação da Tenda (TEND3) sobe mais de 90% neste ano, com um valor de mercado aproximado de R$ 3 bilhões.

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