Bloomberg — A petroleira estatal brasileira tem acelerado a produção no maior campo marítimo do mundo, num momento em que os preços do petróleo se mantêm próximos do menor nível em cinco anos e o mercado global se prepara para um novo excesso de oferta.
A produção da Petrobras (PETR3; PETR4) no campo de Búzios — localizado na costa do Rio de Janeiro — alcançou 1 milhão de barris por dia no mês passado, depois que a sexta plataforma flutuante do local atingiu sua capacidade total três meses antes do previsto.
O campo, parte da área do pré-sal que há 18 anos transformou o Brasil em uma das regiões petrolíferas mais promissoras do mundo, é hoje o último grande motor de crescimento da Petrobras.
Seu rápido desenvolvimento permitiu que o país aumentasse a produção mais do que qualquer outro fora da Opep, com exceção dos Estados Unidos, no último ano, garantindo à estatal uma fonte crucial de receita enquanto busca uma nova grande descoberta.
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A enxurrada de petróleo de Búzios ocorre em meio a uma queda de 15% nos contratos futuros globais da commodity neste ano, à medida que a Opep e seus aliados ampliam a produção, alimentando temores de que o mercado logo fique inundado de petróleo.
O presidente-executivo da gigante de commodities Mercuria afirmou, em uma conferência em Abu Dhabi na quarta-feira (5), que o excedente pode chegar a 2 milhões de barris por dia em 2026.
Quando a Petrobras divulgar seus resultados do terceiro trimestre nesta quinta-feira (6), analistas esperam que o recorde de exportações ajude a limitar o impacto dos preços mais baixos e do aumento dos investimentos sobre o lucro.
A companhia deve anunciar US$ 2,2 bilhões em dividendos, segundo a média de seis estimativas compiladas pela Bloomberg.

No campo de Búzios, a plataforma flutuante Almirante Tamandaré atingiu produção de 225 mil barris por dia em agosto, antes do prazo previsto, contribuindo para o recorde de exportações. Na semana passada, a produção chegou a 270 mil barris por dia, acima do pico inicialmente esperado.
As expectativas em torno de Búzios sempre foram altíssimas. Petrobras e suas parceiras chinesas pagaram um bônus de assinatura recorde de R$ 68 bilhões pelo campo quando ele foi licitado em 2019.
A SBM Offshore NV opera a Almirante Tamandaré e outras oito plataformas flutuantes de produção e armazenamento (FPSOs) no Brasil. A fornecedora de equipamentos offshore disputa um contrato para construir o que será a 12ª unidade do tipo em Búzios — o que pode elevar a produção total do campo para quase 2 milhões de barris por dia, volume superior ao de qualquer outro país da América Latina.
“O maior mercado está aqui no Brasil”, afirmou o CEO da SBM, Oivind Tangen, em entrevista à Bloomberg News. “Metade das oportunidades que vemos para o futuro próximo estão no país.”
Búzios continuará garantindo ao Brasil um lugar entre as principais fontes de crescimento da produção fora da Opep — o que pode contribuir para prolongar o excesso global. Outra plataforma já está no local e se prepara para iniciar as operações.
A geologia da chamada região do pré-sal consolidou o Brasil como o principal fornecedor de petróleo da América Latina. Poços individuais do pré-sal chegam a produzir até 70 mil barris por dia.
“É um fenômeno da natureza”, disse Olivier Bahabanian, diretor-geral da TotalEnergies no Brasil, durante uma conferência de petróleo no Rio na semana passada.

Uma hora de helicóptero separa a costa do Rio de Janeiro de Búzios, que se assemelha a uma cidade industrial flutuando no Atlântico. As seis plataformas em operação abrigam centenas de engenheiros e técnicos, e há hotéis flutuantes atracados ao lado de algumas delas.
Diferentemente dos campos de xisto dos Estados Unidos, onde os produtores podem ajustar a produção quando os preços caem, o pré-sal é praticamente imune às oscilações do mercado. Cada unidade de produção, ou FPSO, custa cerca de US$ 4 bilhões e leva anos para ser construída. Operadoras como a Petrobras buscam recuperar os custos o mais rápido possível, independentemente do preço do barril.
Embora Búzios continue crescendo rapidamente, o tempo corre para que a Petrobras encontre uma nova descoberta. O campo deve começar a declinar perto do fim da década, o que pode reduzir a produção total da companhia se não forem encontrados novos volumes de petróleo.
“Uma petroleira não tem futuro sem exploração”, afirmou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, durante uma conferência de petróleo no Rio de Janeiro na semana passada. “Repor nossas reservas é fundamental.”
-- Com a colaboração de Mariana Durão.
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