De Uberaba à Faria Lima: os planos da WNT, nova acionista de Light, Westwing e TC

Valério Marega Junior, fundador da gestora de distressed assets, disse à Bloomberg Línea que atende famílias do agro e comentou negócios com Nelson Tanure e Banco Master

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Bloomberg Línea — O investidor mineiro Valério Marega Junior, fundador e principal acionista da gestora WNT, atraiu a atenção do mercado nas últimas semanas com a compra de participações acionárias relevantes em quatro empresas listadas na bolsa brasileira. Em comum, as dificuldades financeiras.

A WNT se tornou a principal acionista da Light (LIGT3), em recuperação judicial, da Westwing (WEST3), do TC (TRAD3) e da Metalfrio (FRIO3). Anteriormente, no fim de 2022, já havia se tornado um investidor relevante da Veste (VSTE3), ex-Restoque, empresa do varejo de moda.

Investidor egresso das mesas de commodities agrícolas como café, boi, soja e milho, Marega Junior é filho de fazendeiros de Uberaba, na região do Triângulo Mineiro.

Hoje ele dá expediente na Faria Lima, no edifício Pátio Malzoni, onde fica o escritório da WNT, com vizinhos como BTG Pactual (BPAC11) e Google, entre outras empresas, em São Paulo.

Marega e a WNT se especializaram na compra de ações de empresas em dificuldades - os chamados distressed assets ou ativos problemáticos -, em parceria com duas figuras mais conhecidas do mercado: o veterano investidor Nelson Tanure, acionista de referência da Prio (PRIO3), da Gafisa (GFSA3) e da Alliança (AALR3), e o Banco Master, do também investidor Daniel Vorcaro.

Na Light, a WNT montou gradualmente uma posição que chegou a 30% do capital, o que a tornou a maior acionista da principal distribuidora de energia do estado do Rio de Janeiro. Essa compra de ações aconteceu em parceria com Tanure, segundo Marega Junior, o que alimentou rumores no mercado de que todos os movimentos recentes da gestora foram feitos em nome do experiente investidor.

Em entrevista à Bloomberg Línea, no entanto, o investidor mineiro negou a relação mais ampla e ironizou os comentários no mercado e em redes sociais. “Já nos chamaram de Wealth Nelson Tanure, uma tradução de nossa sigla. Não é correto. O nome da gestora nasceu da expressão em inglês Why Not: por que não investir em ativos problemáticos? Já disseram também que W seria Walério”, contou.

Marega Junior disse que a WNT tem hoje cerca de R$ 11,5 bilhões sob gestão em 112 fundos e que atende cerca de 200 famílias que, segundo ele, são oriundas principalmente do agronegócio. Ele construiu muitas conexões no setor com negócios nas principais regiões agrícolas de Minas Gerais. Começou com a negociação de contratos futuros com tradings globais como Bunge e Cargill.

“As famílias que apoiam a WNT são do agro, eram minhas clientes de Minas Gerais - um mix balanceado de Minas, São Paulo, Bahia e exterior. Fui a ponte de acesso às fontes mais baratas de crédito desses fazendeiros com a Faria Lima”, disse Marega Junior, sem citar nomes em respeito ao sigilo.

O Banco Master, de Daniel Vorcaro, e Tanure utilizam a WNT para realizar algumas de suas operações no mercado. O fundador disse que a casa faz uma “gestão totalmente discricionária” dos recursos.

Um gestor do mercado ouvido pela Bloomberg Línea que pediu anonimato disse que a aproximação entre WNT, Banco Master e Tanure é vista como uma estratégia de partilha de deals, em que as três partes ganham com o ingresso no capital de companhias em dificuldades com assentos em boards para influenciar planos de negócios e lucrar após processos de turnaround.

“No caso da Light, temos um grupo de cotistas alinhado para solucionar o problema momentâneo [recuperação judicial] e indicamos o Tanure para o conselho de administração, numa eleição em que mais de 80% dos acionistas votaram na chapa, ou seja, ele tem o apoio de mais de 80% dos atuais acionistas da Light para conduzir as negociações”, disse Marega.

A WNT atua também como DTVM, ou seja, uma distribuidora de valores autorizada, com dados públicos e regulados tanto pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) como pelo Banco Central.

Marega Junior disse que os rumores que relacionam todos os negócios da gestora com os planos de Nelson Tanure não incomodam as famílias cujo patrimônio é administrado pela WNT.

“O Tanure é muito agressivo, gosta de negócios de que também gostamos. Ele é um self made man e tem uma visão diferente do consenso. A associação do nome da WNT com ele é positiva”, afirmou.

Procurado pela Bloomberg Línea, Tanure informou por meio de um representante que não iria comentar as relações com a WNT.

Marega Junior disse descartar a entrada de um novo sócio na estrutura societária da gestora. “Isso não está no radar. Nosso foco é entregar o máximo de rentabilidade aos clientes.”

Ele exemplificou com os ganhos com a gestão de empresas em dificuldades financeiras, cujos créditos foram adquiridos muitas vezes em restruturações. “A Veste [ex-Restoque, dona de marcas de moda como Le Lis Blanc e John John] já consegue dar lucro de R$ 55 milhões em um ano.”

Ao comentar o caso da Metalfrio, fabricante de refrigeradores, Marega Junior disse que a WNT se prepara para realizar um aumento de capital para se tornar acionista relevante, depois de ter resgatado a companhia durante a pandemia, assumindo sua dívida com os bancos. “O controle da Metalfrio não é nosso alvo”.

Marcelo Faria de Lima, acionista majoritário da Metalfrio e da Veste, foi indicado recentemente para compor o conselho consultivo da plataforma de investidores TC, depois que a WNT adquiriu a participação do co-fundador Rafael Ferri em leilão. A gestora entrou no bloco de controle da companhia, que perdeu mais de 80% do valor de mercado desde a chegada à B3 em julho de 2021.

“Temos um posição de quase 25% no TC após o leilão público realizado há 30 dias. O deal despertou nossa atenção por causa dos 700 mil clientes da base da plataforma de dados, após comprar a Economática e a Dibran DTVM. Achamos que o preço da ação se depreciou muito devido às rixas públicas com a Empiricus [casa de análise que pertence ao BTG], o que levou a uma perda de foco”, disse.

O sócio majoritário da WNT disse ainda projetar que o TC consiga atingir o breakeven em breve, ao equilibrar receitas com custos menores. “Houve uma grande redução de pessoal. Com certeza, o TC está perto de deixar de perder dinheiro, está perto do breakeven”, afirmou o gestor.

Valério revelou uma nova investida, mas fora do mercado: vinho de Minas. Em setembro, sua vinícola Arpuro terá sua primeira safra, resultado do cultivo de 14 variedades na fazenda de Uberaba.

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