Bloomberg Línea — Prestes a completar 40 anos, a brasileira Ornare se especializou em um segmento pouco explorado por marcas globais no alto padrão: o mobiliário de luxo sob medida, que engloba desde armários planejados a estantes, portas e painéis.
“Quando fundamos a empresa, as opções que existiam para o mobiliário eram marcenaria ou móveis modulares tradicionais. Nós fomos atrás do design e, até hoje, segundo sabemos, somos únicos no mundo nessa proposta”, disse Esther Schattan, sócia-fundadora da Ornare, em entrevista à Bloomberg Línea.
Esther fundou a companhia em 1986, ao lado do marido, Murillo Schattan.
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Para marcar a aproximação das quatro décadas da marca, a Ornare tem reforçado o ritmo de crescimento, com apetite que abrange modernização da fábrica, abertura de dois a três novos showrooms por ano e a entrada no mercado imobiliário com a assinatura de empreendimentos de alto padrão.
O primeiro projeto assinado da marca foi o Autoria by Ornare, da incorporadora goiana O.M., lançado em 2024. “Já havíamos feito projetos inteiros para outros edifícios, mas nunca assinado”, afirmou Pitter Schattan, filho mais velho de Esther e diretor comercial da Ornare, durante a mesma entrevista.

A mudança aproveitou uma nova tendência para o mercado imobiliário brasileiro, que abraçou os projetos assinados nos últimos anos como um diferencial relevante na comercialização de empreendimentos de alto padrão.
A sugestão de assinatura da Ornare partiu da O.M., que enxergou uma oportunidade no mercado da cidade: Goiânia tinha recebido no mesmo ano dois lançamentos assinados pelo Pininfarina (escritório famoso pelo design de carros para a Ferrari).
A Ornare embarcou no movimento e vai expandir a frente de assinatura de empreendimentos imobiliários com dois novos projetos em 2025: o Ilha Pura by Ornare, no Rio de Janeiro, realizado em parceria com o BTG Pactual, e o Next Itaim by Ornare, em São Paulo, da Next Incorporadora.
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Com seis torres, o empreendimento do BTG foi lançado em junho e é o maior até agora já assinado pela marca, com VGV de R$ 938 milhões. O Next, que deve ser lançado no final do ano, tem projeção de R$ 98 milhões em VGV.
Já o valor geral de vendas (VGV) do empreendimento com da O.M. com a Ornare alcançou R$ 120 milhões.
Pitter calcula que a assinatura da marca elevou o VGV de cada projeto em 30%, além de incrementar a velocidade de vendas em até 50%.
A quantidade de mobiliário do projeto assinado varia a cada iniciativa. Pode abranger closet, cozinha, banheiro e até áreas comuns do prédio.
A estimativa da Ornare é que a nova frente represente 10% do seu faturamento – a empresa não abre números totais da operação.
Internacionalização acelera
Por enquanto, não há planos de levar a frente de assinaturas para fora do país.
Por outro lado, a expansão internacional do core business segue como principal objetivo da Ornare para os próximos anos.
A marca tem, no total, 32 lojas: 17 delas no Brasil, 12 nos Estados Unidos, uma na Europa, em Milão, e outra no Oriente Médio, em Dubai.
Até 2026, a Ornare deve abrir mais quatro showroons internacionais: Washington DC, Boston e Austin, nos Estados Unidos, e Lisboa, em Portugal.
A Arábia Saudita também está na mira após o sucesso do showroom de Dubai.
Com as aberturas, a frente internacional deve passar a responder por 50% das vendas da empresa contra os atuais 35%.
Os cálculos são de Stefan Schattan, filho mais novo de Esther, que está baseado em Milão desde 2023 para reforçar a ambição global da Ornare, e é atualmente o diretor de expansão internacional da marca.
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Apesar do foco recente, a internacionalização não é exatamente uma novidade na Ornare. Esther e o marido Murillo fundaram a empresa em 1986 e, já nos anos 1990, abriram a primeira loja nos Estados Unidos, em Miami.
A falta de concorrentes diretos abriu as portas do mercado internacional para a marca.
Isso porque os grandes nomes do setor de mobiliário de luxo têm foco no segmento de móveis soltos, um portfólio que inclui sofás, camas e poltronas assinados. É o caso de marcas internacionais como Fendi Casa, Natuzzi e Armani/Casa, além da brasileira Artefacto.
“Ainda assim, temos concorrência. Até uma viagem pode ser um concorrente indireto do nosso móvel”, disse Esther.
Todas as entregas são feitas a partir de uma única fábrica em Cotia, na Grande São Paulo. O objetivo é trazer tecnologia e escala para projetos personalizados, à semelhança do que faz a alta costura.
“O grande diferencial está na capacidade de oferecer móveis sob medida de alto padrão de todas as cores, acabamentos e medidas desejados, algo incomum em outros modelos de produção. Desenvolvemos uma logística própria para isso”, afirmou.
“Eu e o Murillo somos engenheiros e trouxemos disso muita inovação. Gavetas que deslizam sem fazer barulho, um detalhe para o topo de cabide que o impede de arranhar, portas que não batem e fecham com suavidade”, exemplificou sobre soluções hoje mais disseminadas, mas que não eram assim quando lançaram.
Recentemente, em outra frente, a Ornare participou do projeto de retrofit do Hotel Unique, em São Paulo, de Ruy Ohtake. A renovação liderada pelo arquiteto João Armentano contou com participação da marca em todas as unidades.
A proximidade dos 40 anos da marca traz ainda um desafio de sucessão.
Os fundadores têm se preparado para deixar a frente operacional nas mãos dos dois filhos, que já estão em cargos de liderança dentro da empresa.
“O plano é migrar ao longo dos anos para o conselho. Mas ainda há muito o que fazer. Vamos contribuir ainda por muito tempo”, disse Esther Schattan.
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