Bloomberg Línea — Enquanto a Tesla (TSLA), de Elon Musk, e a BYD disputam os holofotes e a liderança global do mercado de carros elétricos, outra marca chinesa ganha posições sem alarde no ranking de vendas globais do segmento: a GAC.
Até agora desconhecida no Brasil, a Guangzhou Automobile Group planeja ganhar espaço no mercado local e tornar o país um hub para a América Latina, afirmou o CEO da GAC no país, Alex Zhou, em entrevista à Bloomberg Línea.
Há pouco mais de um ano e sete meses no Brasil, o executivo relatou que o primeiro desafio que enfrentou no país foi justamente a diferença cultural.
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“A China está no lado oposto da Terra. São culturas totalmente diferentes e o nosso primeiro desafio é mudar a nós mesmos para sermos competitivos.”
Em sua avaliação, não basta apenas adaptar o produto ao mercado local. “O desafio é a diferença de culturas, por isso precisamos mudar para tentar entender o brasileiro.”
O primeiro passo dado pela montadora foi a mudança da pronúncia da marca, que originalmente é em inglês. “Mudamos a pronúncia para ‘gêacê’."
O segundo – e relevante – desafio enfrentado pelo executivo e pelo grupo foi a complexidade tributária.
“As mudanças tributárias são frequentes. Em cerca de um ano, o imposto do setor mudou duas ou três vezes e isso dificulta o planejamento”, disse Zhou. “No curto prazo, passamos muito tempo apenas estudando e aprendendo sobre isso tudo”, acrescentou.
Considerando modelos 100% elétricos e híbridos, a GAC se tornou uma das marcas mais vendidas do mundo em 2024, de acordo com levantamentos de consultorias especializadas. BYD e Tesla lideram os emplacamentos globais.
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Estratégia de lançamento
O plano da GAC no Brasil prevê o lançamento inicialmente de cinco modelos, sendo quatro elétricos e um híbrido. Os preços vão de R$ 169.990 até R$ 349.990.
“Não temos intenção de ser uma marca de luxo. Esperamos ser uma marca confiável e acessível”, disse Zhou.
No futuro, a montadora deve ampliar a faixa de preços para atender os consumidores de maneira mais abrangente.
A montadora promete entregar eficiência energética e segurança, inclusive em relação a riscos de combustão espontânea de bateria, além de tecnologia, como comandos de voz baseados em Inteligência Artificial, entre outras inovações. “Esperamos que nosso público-alvo se interesse pelas novidades e pelas tecnologias que traremos em nossos carros.”
O executivo evitou falar sobre metas de vendas.
“Queremos nos aproximar dos clientes, receber feedbacks e posteriormente conversar com nossos revendedores”, afirmou.
A empresa, por sua vez, divulgou à imprensa que pretende comercializar 8.000 carros até dezembro de 2025 e alcançar 29 mil unidades vendidas em 2026.
A operação comercial da chinesa terá inicialmente 83 pontos de venda, que incluem 33 concessionárias tradicionais e 50 pontos em shopping centers. A capilaridade é resultado de parcerias com 27 grupos do setor automotivo.
A expectativa é expandir a rede para 120 pontos nomeados até o final de 2025, com presença em todas as regiões do país.
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Apesar do portfólio de eletrificados, a produção local deve incluir também modelos a combustão. “Temos uma oferta completa para o mercado, não só em relação a motores mas também em termos de SUVs e sedãs, por exemplo”, disse.
Exportações a partir do Brasil
A montadora não abriu ainda detalhes sobre valores de investimentos e onde deve ser a unidade para produção local, mas o executivo afirmou que a estratégia envolve iniciar a montagem dos carros no país já no ano que vem.
“Nosso entendimento é que precisamos dar um sinal ao mercado de que a marca pretende ter um projeto de longo prazo no país”, disse Zhou. Ele afirmou que a companhia deve anunciar o local da produção “o mais breve possível”.
A partir da produção local, o grupo irá avaliar a exportação para outros países da América Latina. “Quando falamos de Brasil, estamos falando de todos os países da região”, destacou.
O executivo acrescentou que o grupo montou estoque de peças antes mesmo de vender o primeiro carro no país.
“Nossos parceiros concessionários nos disseram que a empresa fez a coisa certa, porque o brasileiro se preocupa muito com o pós-venda, que é crucial na tomada de decisão de compra de um carro”, relatou.
Nas concessionárias da marca, a intenção também é oferecer estações de recarga rápida de veículos elétricos.
“Planejamos abrir essa rede para todo o público, mesmo que seja um carro de outra marca. Dessa forma, queremos ajudar os consumidores”, disse Zhou.
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