Mercado Livre: digitalização das pessoas se sobrepõe ao cenário macro, diz CFO

Da infraestrutura logística aos serviços financeiros, companhia constrói ecossistema integrado para reduzir custos, fidelizar usuários e manter ritmo de crescimento, diz Martín de los Santos à Bloomberg News

'Uma boa situação macroeconômica nos beneficia, mas o principal impulsionador é a tendência de pessoas se integrando ao mundo online', disse Martín de los Santos (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
Por Nina Trentmann
15 de Maio, 2025 | 07:00 PM

Bloomberg — Plataforma de e-commerce líder na América Latina, o Mercado Livre também oferece serviços bancários e financeiros, planeja aumentar sua força de trabalho em um terço neste ano, para 112.000 funcionários, e investir US$ 3,4 bilhões no México para expandir sua distribuição e logística.

Martín de los Santos está no Mercado Livre (MELI) há mais de uma década, incluindo quase oito anos como vice-presidente sênior da divisão de crédito antes de assumir o cargo de CFO em 2023.

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Nesta entrevista à Bloomberg News, ele discute a estratégia de investimento, o equilíbrio entre crescimento e lucratividade e sua perspectiva para a Argentina. Suas respostas foram editadas para maior concisão e clareza.

Qual é o cenário do e-commerce na América Latina e onde estão as oportunidades para o Mercado Livre?

A penetração do e-commerce na América Latina ainda é muito baixa em comparação com outras regiões do mundo. Nossa principal missão é ajudar as pessoas a se tornarem digitais. Como conseguimos isso? Desenvolvendo nossa infraestrutura logística e melhorando a experiência do usuário.

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Temos 18.000 desenvolvedores focados em facilitar as compras online. Acredito que, em grande parte, depende de nós manter o crescimento.

Nos últimos 25 anos de operação na América Latina, vivenciamos todos os tipos de altos e baixos. Uma boa situação macroeconômica nos beneficia, mas o principal impulsionador é a tendência de pessoas se integrando ao mundo online.

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No setor de fintech, a situação é semelhante. Se olharmos para a América Latina, a maioria das pessoas na região é mal atendida pelo setor bancário.

Qual é a estratégia de investimento da empresa? Qual a prioridade?

Se olharmos para o nosso e-commerce, há 10 ou 15 anos, nenhum pacote vendido por meio da nossa plataforma passava por nós. Hoje, 95% dos produtos passam pela nossa infraestrutura logística. Tivemos que construí-la do zero porque a infraestrutura na América Latina era muito precária.

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Precisávamos construir logística de longa distância. Para entregas, temos aviões, bicicletas e, em alguns casos, motoristas e entrega a pé. A principal área de investimento no comércio é continuar a construir uma infraestrutura logística que nos permita enviar a um custo menor e receber todo o estoque dos nossos vendedores em nossos próprios armazéns.

Também estamos investindo no desenvolvimento da nossa carteira de crédito. Mesmo após investir em logística, crédito e desenvolvedores, continuamos gerando um fluxo de caixa muito sólido.

Você trabalhou no Mercado Crédito antes de assumir sua função atual. Como essa parte do negócio se encaixa na estratégia do Mercado Livre?

Sim, liderei essa divisão por sete anos. Tomemos como exemplo o México, onde menos de 15% da população possui cartão de crédito. Os 85% restantes que tentam comprar online têm uma experiência negativa. Eles precisam sacar dinheiro, depositá-lo no sistema bancário e depois retornar à plataforma para concluir a compra.

Por isso, desenvolvemos um produto que permite comprar hoje e pagar depois; ou seja, oferecemos uma linha de crédito e cobramos juros. Em seguida, lançamos um cartão de crédito no México e no Brasil. Muitas pessoas também transferem seu dinheiro para o Mercado Pago, que é nossa plataforma de banco digital.

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Essa é a vantagem de contar com um ecossistema bidirecional: a plataforma de e-commerce se beneficia das soluções de pagamento, e o setor de pagamentos se beneficia de fazer parte de uma plataforma de e-commerce. Temos dados muito granulares sobre nossos usuários.

A empresa está listada na Nasdaq. Vocês preveem algum impacto das tarifas de Trump?

Operamos plataformas de e-commerce locais, e cada país tem seus próprios vendedores e compradores. Em geral, esse negócio não é afetado. Também temos um negócio cross-border, mas são principalmente exportadores que enviam da China e dos EUA para o México. Não exportamos nada para os EUA.

Como o Mercado Livre equilibra crescimento e lucratividade?

Temos muitas discussões internas. Em 2024, nosso valor total de mercadorias vendidas registrou um crescimento anual de 15%; mesmo depois de 25 anos, continuamos crescendo às taxas iniciais.

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Ao mesmo tempo, melhoramos a lucratividade nos últimos cinco anos e agora tentamos encontrar o equilíbrio certo entre lucro e crescimento. Às vezes, acreditamos que há certos investimentos estratégicos que devemos fazer, apesar da pressão sobre as margens no curto prazo.

Na verdade, temos um nome para isso; internamente, chamamos de “grofit”, que combina crescimento e lucro. Não devemos nos abster de investir nessas oportunidades, mesmo que isso crie alguma pressão sobre as margens no curto prazo.

Qual é a sua opinião sobre fazer negócios na Argentina? O presidente Javier Milei tenta atrair mais investimentos estrangeiros.

Temos um investimento muito significativo na Argentina. Se observarmos a situação macroeconômica do país, estamos muito otimistas. Todos os indicadores apontam na direção certa. A inflação caiu, as taxas de juros caíram, e isso é positivo para o consumo.

Anunciamos a abertura de um novo centro de armazenagem localizado na Argentina, que representa nosso primeiro investimento em sete ou oito anos. O governo é pró-negócios, o que beneficia não apenas as empresas que já estão lá mas também os investidores internacionais.

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