Juro menor vai ampliar ainda mais o mercado de dívida, diz CFO do BTG Pactual

Renato Cohn diz que atual cenário de redução gradual na taxa Selic vai beneficiar áreas de wealth e asset management também com retomada de IPOs e operações de M&A

BTG Pactual teve lucro e receita recorde no terceiro trimestre com impulso de franquias de clientes
08 de Novembro, 2023 | 06:14 PM

Bloomberg Línea — Companhias brasileiras devem acessar mais o mercado de emissão de títulos de dívida em 2024 com o avanço do ciclo de cortes na taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano, segundo expectativa do CFO do BTG Pactual (BPAC11), Renato Cohn, em entrevista na tarde desta quarta-feira (8).

O movimento deve beneficiar a performance do maior banco de investimento da América Latina nos próximos trimestres com o crescimento contínuo de suas receitas com operações de DCM (Debt Capital Market, mercado de dívida) de suas áreas de investment banking e de asset management, disse o executivo.

“O mercado espera mais duas quedas de 0,50 ponto percentual da Selic. O cenário de juro mais baixo permite que mais empresas acessem o mercado de dívida, pois o custo é reduzido. Mais operações significam mais receitas para investment banking e para nossa área de distribuição de títulos”, afirmou Cohn.

Ele avaliou que um patamar de juro menor torna mais evidentes as vantagens competitivas do BTG Pactual. “Ampliamos nossa força de distribuição e capacidade de captação. Com o cenário de juro mais baixo, vamos captar mais do que antes”, indicou.

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Além de elevar receita com emissão e distribuição de títulos de dívida, o banco espera que a Selic próxima de 10% ao ano motive mais operações no mercado de ações e private equity com o esperado fim do hiato de mais de dois anos de ofertas públicas de abertura de capital (IPOs) no Brasil. Transações de M&A (fusões e aquisições) também devem aumentar.

“Não vai ter IPO neste ano, não dá mais tempo entrar com o processo na CVM [Comissão de Valores Mobiliários], mas as empresas estão prontas para que em 2024 a bolsa volte a ter novos IPOs. Aí sim haverá crescimento da receita do banco de investimento”, disse Cohn.

Já o pipeline de fusões e aquisições dependerá da melhora das condições da economia no Brasil e no mundo. A execução desse tipo de operação ocorre em uma série de etapas, com duração de seis a 18 meses, lembrou o executivo, fazendo referência às projeções de receitas com M&A para trimestres seguintes.

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Renda fixa ainda forte

Mesmo com a tendência de queda da Selic, Cohn considera que as aplicações em renda fixa vão continuar atrativas para investidores, descartando uma hipótese de aceleração dos resgates nos fundos.

“Mesmo com os juros chegando ao patamar próximo dos 10% [ao ano], isso não é suficiente para causar grandes migrações [de recursos]. Ainda haverá grande demanda por títulos de renda fixa”, avaliou.

O executivo lembrou o estresse observado no primeiro semestre após o pedido de recuperação judicial primeiro da Americanas (AMER3) e depois da Light (LIGT3).

“No começo do ano, com a confusão de Americanas e Light, houve um momento de resgates maiores da indústria de fundos de renda fixa, mas isso já normalizou quase que totalmente. A emissão de títulos de renda fixa não voltou ainda a 100% da normalidade, mas estamos quase lá.”

Durante a teleconferência com o mercado pela manhã, com a presença do CEO da instituição, Roberto Sallouti, analistas perguntaram sobre os possíveis impactos do ciclo de cortes de juros na rentabilidade e na estratégia do BTG Pactual nos próximos trimestres.

Sallouti considerou que juros mais baixos beneficiam a área de asset management e que criam condições para a expansão da carteira de crédito.

O banco que tem André Esteves como presidente do conselho planeja usar o excesso de capital para reforçar as funcionalidades de sua plataforma de investimentos, a exemplo do que fez em agosto com o anúncio da compra da Magnetis, e para aumentar a escala de sua distribuição de produtos financeiros, caso da aquisição da corretora Órama no mês passado.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.