Inter avança em ambição global com cartão de crédito para residentes nos EUA

Em entrevista à Bloomberg Línea, Cassio Segura, diretor de Operações Internacionais, e Ray Chalub, COO para os EUA, contam como esperam que o produto, que contará com o Buy Now Pay Later, alavanque a base de clientes no mercado americano

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Bloomberg Línea — João Vitor Menin não esconde as ambições do Inter: tornar o banco nascido no Brasil, no estado de Minas Gerais, uma instituição de alcance global, com presença em vários países, com base em uma plataforma tecnológica que permite a oferta de produtos financeiros para diferentes públicos e mercados.

Um novo passo nessa trajetória acaba de ser dado com o lançamento de seu cartão de crédito voltado para o público residente nos Estados Unidos, denominado Inter Passport Credit Card, em informação antecipada pela Bloomberg Línea.

O lançamento acontece nesta noite de domingo (10) no clássico local entre Orlando City e Inter Miami às 20h no horário local, pela MLS (Major League Soccer), no estádio que leva o nome do banco, o Inter & Co Stadium.

O jogo está no holofote do esporte americano porque encerra a rodada do fim de semana, no que é conhecido como Sunday Night Soccer. E poderá contar com a presença da principal estrela do futebol nos Estados Unidos, Lionel Messi, além de outros atletas de destaque das duas equipes.

As ações previstas incluem o salto de um paraquedista a partir de um avião que sobrevoe o estádio no intervalo da partida.

Para se diferenciar perante o consumidor americano em um dos mercados mais competitivos do mundo, o Inter aposta na oferta de crédito por meio do modelo conhecido como Buy Now Pay Later (BNPL), segundo contaram Cassio Segura, diretor de Operações Internacionais, e Ray Chalub, COO (Chief Operations Officer) do Inter para os EUA, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Há uma mudança fundamental em relação ao que é praticado localmente: pagamento em parcelas mensais, em vez de semanais - como é mais comum nos EUA -, para compras acima de US$ 300, em até quatro vezes.

“O Inter já oferecia outros produtos para o residente nos EUA, como remessas e conta, além de outros produtos. Mas entendemos que o cartão de crédito é um marco fundamental dentro da estratégia”, disse Chalub.

Segundo ele, o cartão de crédito é um produto que estimula a recorrência de uso da conta e que amplia o share of wallet de um cliente, o que se espera que seja potencializado com o Buy Now Pay Later com “pegada” brasileira.

Chalub disse que menos de 10% do volume transacionado pelo e-commerce no mercado americano faz uso do BNPL, o que indica que o potencial da solução. “Será a principal funcionalidade para aumentar o nosso share of wallet.”

O cartão nasce com uma base potencial de mais de 300 mil clientes do Inter que estão localizados nos EUA e que, portanto, têm uma propensão maior a utilizá-lo.

Além disso, o banco conta com mais de US$ 280 milhões em depósitos nos EUA, o que significa que o crédito via cartão não só está equacionado do ponto de vista de funding como ajudará a rentabilizar esses recursos.

O novo produto também proporcionará acesso a ferramentas para a construção de um histórico de crédito nos EUA, uma condição fundamental na forma como funciona o sistema bancário no país - e valioso para imigrantes e expatriados, em particular os recém-chegados. Estima-se que haja 2 milhões de brasileiros no país.

Na proposta de valor, que tem apelo maior para a população que vive na Flórida mas foi pensada para todo o território americano, há vantagens associadas à vida em duas das principais cidades do estado, Miami e Orlando, como ingressos e acesso a eventos no Inter & Co Stadium e benefícios associados ao super app do banco e ao seu programa de recompensas Inter Loop.

O cartão de crédito para residentes nos EUA faz parte de uma “esteira” de produtos que tem sido pensada e direcionada de acordo com as necessidades de cada público que está no alvo do Inter, de acordo com Segura.

“A nossa estratégia de internacionalização é atender o cliente que é cada vez mais global e conectado, com um super app que possa atender às suas necessidades bancárias e de serviços financeiros onde quer que ele esteja”, disse Segura.

“Esse cliente pode ser brasileiro, argentino, como anunciamos neste ano, ou americano. E desenvolvemos produtos e soluções financeiras para cada mercado”, disse o executivo que comanda as operações internacionais do Inter.

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Outra persona para a qual o produto deve ter apelo é justamente o cliente que valoriza a experiência digital - da Geração Z ou não -, dada a priorização da experiência do usuário por meio da navegação no super app, segundo os executivos.

O avanço pelo mercado americano ajuda a alimentar a expansão para outros países, de acordo com Segura e Chalub, dados a relevância e o tamanho da operação.

Recentemente, o banco decidiu explorar também o universo de brasileiros que estudam em universidades e outras instituições de ensino no exterior, por meio de uma parceria com a BRASA (Brazilian Studies Association).

Como parte do acordo anunciado em junho, o Inter passou a oferecer a estudantes associados da entidade um cartão de crédito em dólar com limite até US$ 3.000, sujeito à aprovação, abertura da global account apenas com CPF e e-mail da faculdade e participação no seu programa de pontos, além de benefícios.

Segundo os dois executivos, novos produtos estão em fase de desenvolvimento e serão anunciados ao mercado nos próximos meses.

“Os próximos passos estarão muito relacionados à pessoa jurídica. Temos já muita experiência em servir e entender as necessidades do pequeno e médio empresário nos EUA, com uma base com mais de 2 milhões de clientes”, disse Chalub.

Tecnologia como base para expansão global

As ambições globais do Inter foram comentadas por João Vitor Menin em outubro do ano passado, em entrevista à Bloomberg Línea em evento em Miami, onde mora há alguns anos e de onde comanda o Inter como CEO global.

“Agora que estamos focados na expansão global, não vemos mais o Brasil como nosso único mercado. Ele será um mercado importante, mas apenas um entre outros no futuro”, disse Menin na ocasião.

“Contar com a tecnologia como nossa espinha dorsal é algo que nos ajudou a evoluir muito rapidamente na oferta de produtos [...] Podemos fornecer soluções globais de pagamentos e finanças para milhões de clientes em todo o mundo”, disse o executivo na entrevista há pouco menos de um ano.

A ofensiva de negócios do Inter em mercados para além da América Latina, com foco no varejo, é incomum para players do setor financeiro brasileiro, sejam bancos incumbentes como Itaú e Bradesco ou neobanks nativos digitais como Nubank e C6 Bank, sem contar bancos de investimento como o BTG Pactual.

Em comum, essas instituições, se já atuam no mercado americano, têm o foco em clientes brasileiros e latinos de private e wealth.

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O novo produto do Inter (INTR), por sua vez, faz parte de uma jornada iniciada há cerca de quatro anos rumo a uma presença de relevância crescente no mercado de varejo dos EUA. Um passo importante inicial se deu com a aquisição da fintech Usend, especializada em remessas internacionais.

No período desde então, o banco que faz parte do império de negócios montado pelo empresário Rubens Menin tem executado uma jornada estratégica para avançar no mercado local: concluiu sua listagem na Nasdaq e investiu principalmente em tecnologia para crescer em base de clientes e receitas.

Atualmente são cerca de 40 milhões de clientes nos mercados em que atua, dos quais cerca de um décimo - 4 milhões - com a conta global em dólar.

Em sua entrevista em 2024, Menin avaliava que o Inter teria condições no futuro de ingressar em outros mercados da América Latina - em março deste ano, anunciou a entrada na Argentina em parceria com uma instituição local, o Grupo Bind.

E, eventualmente, chegar à Espanha e a Portugal, com o disclaimer de que não se tratava de uma decisão já tomada e que, portanto, esses não eram planos imediatos.

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