Bloomberg Línea — O ano de 2026 deve ser desafiador para o setor bancário dado o nível de incerteza com as eleições presidenciais e a taxa de juros ainda elevada. Ainda assim, não será um cenário de desaceleração para o Itaú Unibanco (ITUB4), segundo o CEO Milton Maluhy Filho.
“Em um cenário de mais incerteza, todos operam com um nível de cautela um pouco maior. Dito isto, não temos dificuldade de encontrar oportunidades de crescer”, afirmou Maluhy em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira (5), para comentar os resultados do banco.
“O banco nunca esteve tão preparado para enfrentar qualquer que seja o cenário. O importante é que o balanço do banco está muito protegido, muito bem provisionado e a gente vai entrar em 2026 com uma solidez enorme.”
O Itaú apresentou um lucro líquido recorrente de R$ 11,876 bilhões no terceiro trimestre – avanço de 11,3% em base anual e de 3,2% em três meses. O resultado ficou levemente acima da expectativa de analistas consultados pela Bloomberg, que estimavam um saldo de R$ 11,78 bilhões na última linha do balanço.
Segundo Maluhy, o crescimento virá especialmente “naqueles segmentos e clientes que consideramos ser resilientes num ciclo mais longo”. Entre eles, estão os clientes pessoa física de média e alta renda.
O Itaú alcançou R$ 1,402 trilhão na carteira de crédito expandida ao final do terceiro trimestre, alta anual de 6,4%. O banco não abre dados da carteira ou de sua expansão por segmento de renda, mas os executivos reforçaram o potencial de penetração do Itaú nas camadas mais altas com o crescimento no cartão de crédito – sua maior carteira em PF.
No agregado, o Itaú registrou R$ 142,2 bilhões em cartão de crédito, um crescimento de 6,7% em 12 meses. Mas nos segmentos Personnalité e Uniclass, dedicados às classes de renda mais alta, o avanço anual foi de 23,9%.
“É nos segmentos de média e alta renda que temos conseguido imprimir um ritmo importante de crescimento, de quase 24%”, disse o CEO.
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Sem crise de crédito
O cenário de juros altos traz cautela também para o segmento de pessoas jurídicas, dado o alto nível de alavancagem de algumas empresas. A preocupação ganhou contornos mais dramáticos depois de casos de recuperação judicial como o da Ambipar, no final de outubro.
Houve impacto na inadimplência do Itaú. No segmento de grandes empresas, o indicador de curto prazo, de 15 a 90 dias, saltou de 0,1% no segundo trimestre para 1% ao final do terceiro trimestre. Sem citar nomes, o banco citou o impacto de cliente corporativo específico que especula-se que seja a Ambipar.
“Os indicadores na margem sugerem que algumas empresas estão com mais dificuldade, não vemos um cenário de crise de crédito”, afirmou.
Maluhy reforçou ainda que o impacto neste trimestre faz parte da gestão de risco do banco. “O nível de incerteza é maior do que observamos nos últimos anos, mas continuamos confortáveis com nossos números”, disse.
A expectativa do Itaú é que os juros no Brasil comecem sua trajetória de queda a partir de janeiro de 2026, dando certo alívio para a economia como um todo e, especialmente, para o nível de endividamento dos clientes.
O CEO reforçou que o banco segue confortável com o nível de rentabilidade medido pelo ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido Médio), que ficou em 23,3% – estável na comparação trimestral, mas ainda assim em patamar recorde.
O Itaú não fornece guidance de rentabilidade, mas a projeção é manter a tendência acima dos 20%, a depender do custo de capital do banco.
“A rentabilidade depende muito do nível de custo do capital do banco. Porque, no final do dia, é a criação de valor. Queremos sempre encontrar o ponto ótimo do crescimento e da rentabilidade alocando bem o capital”, afirmou.
“Não vejo, no curto prazo, nenhuma mudança de tendência [de rentabilidade acima] dos 20%.”
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