Casas Bahia com novo dono? Plano de dívida prevê 78% do capital com credores

Varejista divulga plano para reduzir a alavancagem pela metade após conversão de parte de debêntures em ações, o que tornaria Bradesco e Banco do Brasil os seus maiores acionistas

Loja da Casas Bahia
06 de Junho, 2025 | 11:52 AM

Bloomberg Línea — A Casas Bahia (BHIA3) anunciou na noite de quinta-feira (5) um novo plano para otimizar sua estrutura de capital e reestruturar parcela relevante de suas dívidas, o que deve transformar dois bancos credores em acionistas com até 77,58% de seu capital e resultar em diluição dos atuais investidores.

Se o plano for aprovado, o que é esperado pelo mercado, a companhia liderada pelo CEO Renato Franklin reduzirá pela metade seu nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda), de 1,6x (março) para 0,8x, com a dívida bruta encolhendo 27%, de R$ 5,840 bilhões para R$ 4,273 bilhões.

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A principal proposta é a conversão antecipada por credores de debêntures da série 2 - Bradesco e Banco do Brasil, segundo o mercado - em ações, o que pode alterar o seu controle, caso aprovada pelos debenturistas e pelos maiores acionistas em reunião do conselho marcada para a próxima quinta-feira (12).

Os dois bancos, entre os maiores do país, no entanto, não teriam interesse em controlar a rede varejista, que seria repassada a um investidor não identificado.

Essa opção de converter debêntures em equity já era prevista no plano de recuperação extrajudicial divulgado em abril de 2024, quando o Banco do Brasil (BBAS3) e o Bradesco (BBDC4) aceitaram um prazo de carência em vencimentos daquele ano e de 2025.

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A conversão de debêntures em ações poderia ocorrer em um prazo entre 18 e 36 meses. Safra e BTG Pactual (BPAC11) também são credores da varejista, que não citou os nomes dos debenturistas atingidos pelo plano.

“A companhia e os detentores de aproximadamente 99,99% das debêntures da 2ª Série em circulação pretendem antecipar o período de conversão das debêntures da 2ª Série, permitindo que tais debêntures sejam convertidas em ações ordinárias da companhia a partir de junho de 2025″, informou a Casas Bahia no fato relevante na noite de quinta.

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A varejista acrescentou, sem fornecer nomes, que “está em discussões avançadas com determinados credores e contrapartes” a fim de adotar as seguintes medidas:

  • Antecipação do prazo de conversão das debêntures da 2ª série: atinge um saldo nominal de R$ 1,566 bilhão. Seriam emitidas 328,952 milhões de novas ações, com cronograma de lock-up. Os debenturistas ficariam com 77,58% do capital do grupo.
  • Reperfilamento das debêntures da 1ª série: postergar a data do primeiro pagamento de juros de novembro de 2026 para novembro de 2027; o cronograma de amortização com o pagamento do saldo do valor de principal seria alterado.
  • Autorização para dispensa de cash sweep: companhia pediu prazo de 12 meses para usar até R$ 500 milhões sem obrigação de destiná-los à amortização antecipada, podendo aplicar esses recursos para o crescimento e aprimoramento de suas operações.

O objetivo do plano, segundo a companhia, é “proporcionar maior fluxo de caixa livre, provendo flexibilidade financeira para investir no crescimento e aumento de eficiência de suas operações”.

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O plano não menciona que novo acionista ficaria com o controle da companhia. Atualmente, 78,06% do seu capital estão pulverizados, segundo dados da B3.

O fundo de investimentos Goldentree, segundo acionista mais relevante, detém 7,85%, enquanto o fundo Twinsf tem outros 6,95%. Já Michel Klein, um dos filhos herdeiros do fundador da varejista, Samuel Klein, é dono de 3,68%.

Klein teria interesse de voltar ao comando do conselho de administração da companhia em abril de 2026, quando acaba o mandato do atual colegiado, segundo O Estado de S. Paulo, sem citar fontes, em reportagem de dia 20 de maio.

Fluxo de caixa e redução de despesas

Foram citados quatro benefícios decorrentes do plano:

  • Economia de R$ 230 milhões anuais em despesas financeiras;
  • R$ 400 milhões de fluxo de caixa adicional nos próximos 24 meses com o reperfilamento da série 1;
  • Melhora no fluxo de caixa de curto e médio prazo, incluindo as condições com fornecedores, seguradoras e futuros credores;
  • E contínuo foco da gestão nas alavancas operacionais.

“O reperfilamento das debêntures da 1ª série foi discutido com titulares das debêntures da 1ª série, os quais manifestaram sua intenção de aprovar a celebração de aditamento à 10ª escritura de emissão”, citou o grupo.

O anúncio do plano ocorre no contexto de cenário desafiador para o varejo de móveis e eletrodomésticos, em que com o ciclo de alta dos juros provoca desaceleração da atividade econômica e cautela na concessão de crédito devido ao risco de inadimplência.

As ações da companhia acumulam valorização de 39% em 2025, reflexo do balanço do primeiro trimestre, que apontou expansão com avanço do crediário e melhora operacional devido ao processo de turnaround conduzido por Renato Franklin há dois anos.

Nesta sexta-feira, em reação de investidores ao anúncio do plano, as ações subiam perto de 10% por volta das 11h30 na bolsa brasileira.

Em uma janela de dois anos, no entanto, a queda ainda era de 93% até o fechamento da quinta-feira.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.