Bloomberg Línea — A bolsa brasileira medida pelo Ibovespa caminha para fechar o ano com ganhos de mais de 30% – boa parte impulsionada pelo fluxo de capital estrangeiro em busca de diversificação em meio à tendência global de baixa do dólar.
O rali pode se estender em 2026 com apoio do cenário local, segundo Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP.
O estrategista destacou dois grandes eventos que devem fazer com que o Brasil comece a descolar de outros mercados emergentes: a tendência de corte de juros e as eleições presidenciais.
“A bolsa negocia hoje em torno de 9 vezes o lucro para o ano que vem, contra uma média histórica mais próxima de 11 vezes o lucro. Enxergamos espaço para que esses múltiplos de avaliação sigam melhorando e convergindo para mais próximos da média histórica na medida em que os juros no Brasil caiam no ano que vem”, afirmou Ferreira em entrevista coletiva na segunda-feira (8).
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O estrategista da XP apontou que, historicamente, a bolsa brasileira tem uma performance “bastante sólida” durante ciclos de corte de juros.
A expectativa da XP é que os cortes sejam iniciados pelo Banco Central em março, com uma taxa terminal de 12% ao ano, versus os atuais 15% ao ano. Nesta quarta-feira (10), o Copom manteve a taxa inalterada nesse patamar, como amplamente esperado no mercado.
“Em 2025, o grande tema de precificação e do rali dos mercados foi a rotação para os mercados emergentes. No próximo ano, o cenário de juros e eleições deve começar a fazer mais preço nos ativos brasileiros”, acrescentou o estrategista durante a apresentação do relatório “Onde Investir em 2026” com outros profissionais da equipe da XP.
A expectativa da XP é que a volatilidade característica do período eleitoral só comece a se tornar mais evidente no mercado brasileiro a partir de março ou abril, quando houver em tese a definição dos candidatos que irão disputar o pleito.
“A volatilidade do mercado sobe bastante nos seis meses anteriores às eleições. Na última sexta-feira tivemos um preâmbulo disso – o mercado já está com esse tema bastante na pauta", disse.
O pregão da última sexta-feira (5) representou a maior queda para a bolsa brasileira desde 2021: o Ibovespa caiu 4,31% após o senador Flávio Bolsonaro afirmar que foi o escolhido para disputar a eleição com o apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente inelegível e condenado a 27 anos de prisão por planejar um golpe de Estado após sua derrota em 2022.
Apesar da expectativa de volatilidade futura, o cenário-base da XP é positivo: a projeção é que o Ibovespa alcance 185.000 pontos ao final de 2026 – o que representaria uma alta de 17% frente ao fechamento de segunda-feira (8).
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No cenário mais pessimista, por outro lado, em que o desafio fiscal não é endereçado, o índice cairia para 144.000 pontos nos cálculos da XP.
No mais otimista, caso o governo sinalize que conseguiu controlar a trajetória da dívida, o Ibovespa poderia alcançar 223.000 pontos no próximo ano.
Outro ponto que pode favorecer o Ibovespa em 2026 é a continuidade do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos. Nesta quarta, o Fed reduziu as taxas pela terceira reunião seguida, para o intervalo de 3,50% a 3,75% ao ano.
A carteira recomendada da XP para o mês de dezembro segue com apostas em setores considerados defensivos, como o elétrico, com Axia (AXIA3) e Copel (CPLE3); e o bancário, com recomendações para Itaú (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11) e B3 (B3AS3).
Além deles, a equipe de equity research da corretora tem apostado em papéis de empresas mais expostas ao cenário doméstico, como construção civil, com Cyrela (CYRE3), e shoppings centers, com Iguatemi (IGTI11).
“O core das nossas carteiras segue sendo os setores mais defensivos, com empresas geradoras de caixa e pagadoras de dividendo. Isso porque, mesmo em um cenário de queda de juros, a taxa Selic continuará alta”, afirmou Ferreira.
“Portanto, empresas com maior previsibilidade e em setores mais previsíveis devem ter uma performance sólida.”
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