Vinland e Kapitalo se destacam em ano positivo para fundos multimercados

Fundos caminham para encerrar o ano com um retorno superior ao da taxa de referência (CDI) pela primeira vez desde 2022. Posições que se beneficiaram da queda das taxas de juros e do avanço do Ibovespa figuraram entre os maiores ganhos

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Por Felipe Saturnino
30 de Dezembro, 2025 | 02:17 PM

Bloomberg — Fundos multimercados caminham para encerrar o ano com um retorno superior ao da taxa de referência (CDI) pela primeira vez desde 2022, conforme gestores da categoria colhem os frutos de apostas no ciclo de corte de juros e na valorização da bolsa.

As posições que se beneficiaram da queda das taxas de juros no Brasil e no avanço do Ibovespa figuraram entre os maiores ganhos dos fundos de algumas das principais gestoras da categoria.

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Como resultado, o índice de hedge funds — o IHFA — da Anbima, a associação brasileira de entidades do mercado de capitais, acumula ganho de 15% em 2025, pouco acima da alta de mais de 14% da taxa do CDI, segundo dados disponíveis até 23 de dezembro.

Na Legacy Capital, a posição aplicada — que ganha com a queda — em juros no Brasil foi uma das principais contribuições para os ganhos do multimercado da casa, combinada a apostas em commodities.

Na Vinland Capital, cujo principal fundo multimercado entrega mais de 20% de retorno após taxas até 23 de dezembro, um dos maiores ganhos também veio em juros locais.

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Na Absolute Investimentos, a valorização da bolsa doméstica, que subiu a novos recordes acima do patamar de 160.000 pontos neste ano, foi aposta certeira que compôs um dos principais ganhos da estratégia.

“Nossa principal convicção está no ciclo de cortes de juros”, disse José Oswaldo Monforte, gestor da Vinland, sobre o posicionamento do fundo no mercado brasileiro.

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“Acreditamos que, independentemente de quando o BC comece, em janeiro ou março, veremos entre 3 e 3,5 pontos percentuais de redução. Como o mercado atualmente precifica algo em torno de 2,4pp, vemos essa assimetria como uma boa oportunidade.”

O ciclo de cortes da Selic, que hoje está em 15%, tem fundamentos econômicos sólidos “e, portanto, menor influência do processo eleitoral, que vem se mostrando volátil e desafiador”, mesmo com tempo ainda até as eleições, segundo Monforte.

Segundo Ana Rodela, diretora de investimentos da Bradesco Asset Management, “o ‘call’ direcional de juros foi bastante consensual” na indústria, diante da proximidade do início do ciclo de cortes do Banco Central.

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Os ciclos de cortes no Brasil e nos EUA são “previsíveis e tangíveis” para 2026, o que torna mais fácil operá-los do que as eleições, por exemplo, disse ela.

A própria Vinland lucrou com apostas em juros menores em países desenvolvidos e emergentes, outro tema importante do ano.

A Kapitalo Investimentos também se beneficiou das apostas em queda dos juros nominais e reais no Brasil, mas os seus maiores ganhos foram no recuo de taxas globais, “com posições diversificadas em Estados Unidos, Zona do Euro, Suécia, dentre outros”, disse Bernardo Feijó, sócio e responsável pelas áreas de risco e de relações com investidores da gestora.

Thiago Mendez, sócio e gestor de renda fixa e multimercados da Bahia Asset, avalia que, em 2025, deve haver expansão fiscal, “o que, de certa maneira, rouba um espaço do tamanho do ciclo” — o que coloca um risco para se carregar posições aplicadas em juros.

Ainda assim, “as condições para iniciar um ciclo de queda estão ganhando probabilidade”, dado que a inflação no Brasil “melhorou bastante ao longo do ano”, disse Mendez. “Certamente, muito dessa melhora veio da apreciação cambial”, afirmou.

Apesar dos ganhos dos multimercado no acumulado do ano, os fundos foram pegos no contrapé das suas posições em ativos brasileiros depois que o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência da República gerou um ‘selloff’ dos mercados locais.

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Desde 4 de dezembro, um dia antes de Flávio dizer que seu pai Jair Bolsonaro o havia escolhido como candidato, o IHFA cai 0,6%.

“O cenário se modificou bastante nos primeiros dias de dezembro com o senador Flávio Bolsonaro se colocando como candidato a presidente e invocando a primazia da família em liderar o campo à direita do espectro político na próxima eleição”, disse a Verde Asset Management em carta mensal divulgada no começo do mês.

A gestora notou que, em novembro, os ativos locais haviam refletido uma “combinação de vento favorável” para emergentes e um cenário político local construtivo.

Resgates

Mesmo com a performance superior à do CDI, os resgates dos multimercado continuaram em 2025, ainda que em volume menor do que no ano passado.

Até novembro, a categoria acumulava saídas líquidas de R$ 61,7 bilhões no ano, um valor bem abaixo do registrado no mesmo período de 2024, quando os resgates somavam R$ 315,9 bilhões, de acordo com dados da Anbima.

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Ainda assim, os multimercados não sabem o que são captações líquidas desde 2021. De 2022 até novembro deste ano, os fundos da categoria já viram saídas líquidas de R$ 675,2 bi.

“Quando a Selic efetivamente começar a cair, movimento projetado pelo mercado para o primeiro trimestre do próximo ano, e as expectativas de novas reduções se consolidarem, os resgates nos multimercados devem diminuir de forma mais consistente, abrindo espaço para uma recuperação da captação líquida”, disse Pedro Rudge, diretor da Anbima.

Diante do histórico recente, “é natural que os investidores aguardem um pouco mais para confirmar se a melhora será sustentável antes de voltar a investir nessa classe”, especialmente considerando que 2026 deve trazer volatilidade por conta das eleições, segundo ele.

“Parece que o investidor está realmente machucado” com a classe de multimercado, “e, para ele voltar, está difícil”, disse Ana Rodela, da Bradesco Asset.

Para ela, após anos de desempenho fraco e mudanças regulatórias, o multimercado pode precisar ser redesenhado, com uma revisão estrutural da precificação para alinhar risco e taxas.

“O ano de 2026 será particularmente relevante para a indústria de fundos, um divisor de águas em função das eleições presidenciais”, disse Feijó, da Kapitalo.

“Neste contexto, o desempenho dos ativos brasileiros tende a se tornar cada vez mais sensível à dinâmica eleitoral, sobretudo em um ambiente competitivo, sem a presença de um candidato claramente favorito.”

Veja detalhes de desempenhos de alguns fundos multimercados no ano:

Absolute Investimentos

O fundo obteve retornos no ano principalmente com apostas otimistas em bolsas no Brasil e no exterior.

  • Absolute Vertex FIC: +10,6% no acumulado do ano até 23 de dezembro.

Ace Capital

A Ace Capital lucrou com uma série de operações de valor relativo. Entre elas, uma que se beneficiou do diferencial de FRA de juros locais curtos e longos, além de uma posição long — otimistas — em uma carteira de ações locais contra um short — aposta pessimista — no Ibovespa.

  • Ace Capital FIC FIM: +15% no mesmo período.

Bahia Asset Management

Posições em aumento de inclinação — crescimento do diferencial de juros entre taxas curtas e longas — dos juros reais e de valor relativo, com aposta em queda da inflação implícita e em alta dos juros reais, ficaram entre as mais ganhadoras no ano.

  • Bahia AM Marau FIC: +15,2%.

Ibiuna Investimentos

Ibiuna teve maior parte dos ganhos do fundo com posições aplicadas em emergentes ao longo do ano, de acordo com carta divulgada em novembro. As posições em juros no Brasil e real foram detratoras.

  • Ibiuna Hedge STH FIC: +10,8%.

Kapitalo Investimentos

A maior persistência de fluxos de captação levou o patrimônio sob gestão da gestora para aproximadamente R$ 28 bilhões, disse Bernardo Feijó.

  • Kapitalo Kappa FIN: +17,1%.

Legacy Capital

Além da posição aplicada em juros no Brasil, posições otimistas no ouro e em urânio ficaram entre as principais contribuições positivas do fundo no ano.

  • Legacy Capital FIC: +14,4%.

Verde Asset

Verde tinha como seus principais ganhos no ano posições em juros globais e na curva do DI, de acordo com carta referente à performance do fundo novembro.

  • Verde FIC FIM: +16%.

Vinland Capital

Vinland lucrou com posições long-short, operação relativa entre pares de ações, e arbitragens na bolsa local, além dos ganhos em juros globais, tanto em economias desenvolvidas como emergentes, e a aposta aplicada no Brasil.

  • Vinland Macro FIC FIM: +20,3%.

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