‘Década dos emergentes’ não vingou? Gestora do Morgan Stanley reafirma previsão

Jitania Kandhari, do braço de investimentos do banco de Wall St, disse que 2023 foi um ponto de inflexão para mercados como o do Brasil e apontou distorções na classe de ativos com a China

Escritório do Morgan Stanley em Nova York
Por Selcuk Gokoluk
20 de Dezembro, 2023 | 03:03 PM

Bloomberg — A gestora Jitania Kandhari, do braço de investimentos do Morgan Stanley (MS), argumenta que sua previsão de que a “década dos mercados emergentes” havia começado não estava tão equivocada quanto possa parecer.

A vice-diretora de investimentos e chefe de pesquisa macroeconômica para mercados emergentes do Morgan Stanley Investment Management previu no final de janeiro que a era do domínio das ações americanas havia acabado.

Com o ano quase no fim, tudo indica que ela se enganou.

As ações no índice MSCI de mercados emergentes como um todo tiveram o pior desempenho em relação aos papéis dos EUA desde 1987 e perderam cerca de 5% desde que a previsão de Kandhari foi publicada pela Bloomberg News em 24 de janeiro.

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O Morgan Stanley IM, com US$ 1,3 trilhão em ativos sob gestão, não estava sozinho no otimismo. Gigantes da renda fixa como Pimco e Goldman Sachs (GS) publicaram opiniões positivas sobre mercados emergentes no início do ano.

Mas, na análise dos números de perto, a previsão não estava tão errada quanto parece, disse Kandhari. Excluindo as ações da China, como Kandhari aconselhou em janeiro, os papéis dos mercados emergentes ganharam quase 16% até agora neste ano, rumo ao seu melhor desempenho em quatro anos.

Por outro lado, nos EUA, Kandhari apontou para ganhos impulsionados em grande parte pelas gigantes de tecnologia ligadas à inteligência artificial, que subiram entre 50% e 250%: Nvidia, Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla. Sem elas, o desempenho do mercado americano é inferior ao da Europa e ao dos mercados emergentes excluindo China, diz ela.

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“Agora tenho mais convicção ainda”, disse Kandhari sobre sua previsão de início da década dos emergentes. Excluindo as sete gigantes tech, “o mercado americano mal subiu. Há muitas distorções acontecendo.”

Ela ainda acredita que 2023 foi um ponto de inflexão para os mercados emergentes, uma classe de ativos que teve desempenho inferior ao dos EUA em nove dos últimos 10 anos.

“Minha previsão foi baseada em fundamentos”, disse ela. “Acho que os fundamentos estão alinhados para que essa classe de ativos tenha um bom desempenho.”

Esses fundamentos incluem expectativas de crescimento relativo mais elevadas para mercados emergentes, melhor dinâmica da inflação, alavancagem reduzida, mais ortodoxia fiscal e monetária e menos ressaca de estímulos fiscais extremos durante a pandemia.

“Eles não aplicaram estímulos fiscais na mesma medida que os EUA fizeram”, disse ela.

Embora preferisse não citar nomes específicos, Kandhari disse que gosta de empresas em países como Índia, Indonésia, México, por seu papel na cadeia de abastecimento global, e também mercados ricos em matérias-primas como o Brasil.

Ela também está de olho nos mercados emergentes que se beneficiarão dos ganhos de produtividade associados à inteligência artificial, assim como papeis baratos em mercados menores e fronteiriços.

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“Hoje mesmo disse aos meus analistas para olharem para alguns destes mercados realmente menores, onde as moedas se depreciaram mais de 45%, 50%”, disse ela. “Podemos encontrar luz no fim do túnel para reformas e para uma tendência de alta?”

O índice MSCI das principais moedas de mercados emergentes subiu cerca de 3,9% este ano. Mas existem mercados de câmbio discrepantes, como Líbano, Argentina, Nigéria, Angola, Turquia, Zâmbia, Paquistão e Egito, todos com moedas que caíram pelo menos 20% em relação ao dólar em 2023.

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