China perde espaço e investidores buscam ações de emergentes como Brasil e México

Ativos do ETF EMXC, que investe em emergentes “ex-China”, subiram 50% em dois meses, para US$ 8 bilhões, e superam maior ETF de ações com foco no país asiático

México é considerado um dos principais beneficiários do nearshoring
Por Carolina Wilson - Vinícius Andrade e John Cheng
20 de Dezembro, 2023 | 09:14 AM

Bloomberg — Com a China perdendo a preferência como o principal destino para investidores que buscam oportunidades de crescimento em mercados emergentes, os fluxos para o maior fundo de índice dedicado a ações de economias em desenvolvimento fora do país estão em alta.

Os ativos totais do ETF EMXC, que investe em ações de emergentes excluindo a China, deram um salto de quase 50% nos últimos dois meses, para US$ 8 bilhões, ultrapassando o maior ETF de ações com foco no país asiático. Há apenas três anos, este último superava em mais de 50 vezes o fundo que exclui a China.

Essa migração nos fundos só tende a ganhar força, de acordo com analistas e gestores de ativos. Os mercados acionários de Índia, Brasil e México atingiram recordes na semana passada em meio à perspectiva de queda dos juros nos EUA, enquanto o índice de referência da China, o CSI 300, caiu para o menor nível em quase cinco anos.

O indicador de ações negociadas em Hong Kong conseguiu se recuperar em relação à mínima de 13 meses.

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A América Latina é “nossa geografia favorita no espaço dos mercados emergentes”, disse Todd Jablonski, diretor de investimentos para alocação de ativos da Principal Asset Management. “México, Brasil e Chile têm sido negociados com profundos descontos históricos em relação aos seus ‘valuations’ tradicionais.”

A projeção do Morgan Stanley (MS) de 17 de novembro de que o índice MSCI Emerging Markets Latin America atingiria 2.900 pontos até o final de 2024 já corre o risco de parecer conservadora. Com o rali no último mês, a previsão representaria um ganho de apenas 12%.

Ainda assim, o indicador tem ampla margem para subir ainda mais, sendo negociado a cerca de 9,1 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, bem abaixo da média de 10 anos, de 12,1 vezes.

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“Mesmo que o desempenho econômico decepcione, os preços dos ativos estão muito baixos para serem ignorados na Colômbia e na América Latina em geral”, disse Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa da Ashmore, de Londres.

“Investidores que ficam de fora devido à desconfiança em relação a políticos de esquerda ignoram o fato de que esses países têm proporcionado estabilidade macroeconômica e fortes retornos.”

‘Orfanato’ emergente

Do outro lado do mundo, a China começa a parecer um “orfanato de mercados emergentes”, à medida que muitos investidores retiram o país de seus portfólios com foco nessas regiões, segundo estrategistas do JPMorgan (JPM).

O banco afirma que investidores buscam substituir o país em suas carteiras de renda variável por geografias que ofereçam perspectivas de crescimento convincentes – como Índia, Arábia Saudita e México. Também olham para países com exposição indireta à China – como o Brasil e o Chile – com base nas expectativas de que o crescimento do gigante asiático irá impulsionar os preços das commodities.

“A Índia surge progressivamente como uma oportunidade a longo prazo, com sua força de trabalho em expansão e um sistema bancário mais estável, ambos contribuindo para um ciclo ascendente de crédito e investimento”, disse Sunny Ng, gestor de portfólio da PineBridge Investments.

Ativos totais do ETF EMXC, que investe em ações de emergentes excluindo a China, deram um salto de quase 50% nos últimos dois meses. Fonte: Bloombergdfd

O índice MSCI China negocia a 10,2 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, contra uma média de 10 anos de 12,6 vezes, mostram dados compilados pela Bloomberg. No entanto, isso não é suficiente para atrair investidores preocupados com tensões geopolíticas persistentes, riscos regulatórios e receio de interferência estatal.

“Numa visão de médio prazo, não tenho muita confiança no lado chinês”, disse Dubravko Lakos-Bujas, estrategista-chefe de ações globais do JPMorgan. “Prefiro colocar meus ovos na Índia, na Arábia Saudita e no Brasil. E no México, porque está cada vez mais ligado aos EUA.”

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No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou um marco fiscal que ajudou a sustentar os preços dos ativos, enquanto o mexicano Andrés Manuel López Obrador adotou uma abordagem orçamentária rigorosa durante a pandemia.

O México também foi considerado um dos principais beneficiários de empresas americanas que deslocaram suas cadeias de suprimentos para estarem mais próximas dos consumidores.

Agora, o Banco Central corta os juros no Brasil para estimular o crescimento, e o México deve fazer o mesmo no próximo ano.

“Estamos enfatizando mais a América Latina em nosso portfólio”, disse Kunjal Gala, chefe de mercados emergentes da Federated Hermes. “A perspectiva de cortes das taxas de juros é muito maior do que antes. E há apenas algumas empresas de muito boa qualidade negociadas com ‘valuations’ razoáveis.”

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