Bloomberg Línea — Os mercados da América Latina superaram o desempenho de países emergentes e dos Estados Unidos até o momento em 2025, apesar de enfrentar um ambiente global adverso marcado por tensões comerciais.
Embora a região seja considerada um participante passivo na dinâmica tarifária, ela também foi afetada pela mudança global para ativos de menor risco e o último relatório do Bank of America observa que a América Latina “é um passageiro na montanha-russa tarifária, mas ainda assim foi afetada negativamente pelo movimento de redução de risco”.
Desde 2 de abril, quando as primeiras tarifas foram anunciadas pelo governo dos EUA, os principais índices do mercado de ações da região registraram quedas mais moderadas do que outros mercados, mesmo em um contexto de queda acentuada nos preços das principais commodities para a América Latina, com quedas nos preços do petróleo, cobre, minério de ferro e alumínio.
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Em meio a esse cenário, o Bank of America mantém sua recomendação de overweight para o Brasil, com uma visão mais dovish sobre as taxas de juros do que o consenso do mercado e “com uma preferência por ações domésticas, especialmente títulos de renda fixa com risco limitado de lucros e ações de crescimento de qualidade“.
Essa postura tem como pano de fundo a desaceleração da atividade econômica, o dólar abaixo de R$ 6 e preços mais baixos do petróleo, embora permaneçam os riscos locais, como a expansão do crédito e uma política fiscal mais frouxa.
No México, a empresa mantém uma postura defensiva. Embora as tarifas tenham sido adiadas, o Bank of America acredita que a ameaça, por si só, poderia limitar os investimentos. O banco mantém sua postura neutra em relação ao mercado, com exposição a empresas defensivas e geradoras de fluxo de caixa com receitas denominadas em dólares.
No caso da Argentina, os analistas do BofA mantêm uma visão construtiva, apoiada por sinais de recuperação macroeconômica, desinflação e menor risco regulatório. O relatório argumenta que a recente visita ao país reforçou essa visão.
No Chile, a exposição por meio do Santander foi mantida, aproveitando o bom desempenho dos mercados andinos durante 2025.
Menos Colômbia e mais Brasil
O relatório do Bank of America vem dias depois de um relatório do Morgan Stanley, no qual ele fez ajustes em seu portfólio modelo para a América Latina, destacando uma postura mais tática diante da crescente incerteza macroeconômica e política na região.
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Em seu relatório de 9 de abril de 2025, a empresa elevou o Brasil para equal weight e rebaixou a Colômbia para underweight, citando preocupações fiscais no último país após uma forte recuperação do mercado de ações.
De acordo com o documento, “realizamos lucros na Colômbia após o forte desempenho do mercado até agora neste ano, excluindo o Bancolombia. Conforme observamos em nossa nota recente Consequências de um déficit orçamentário maior, estamos preocupados com a trajetória fiscal da Colômbia“.
Além disso, o documento sugere que os riscos fiscais são ampliados pela possibilidade de um ambiente de preços do petróleo menos favorável, o que poderia enfraquecer ainda mais as finanças públicas.
O Brasil é um dos focos positivos dessa nova estratégia, com adições como BTG Pactual, Itaú Unibanco, XP e Eletrobras.
A opinião do Morgan Stanley é apoiada por um cenário de taxas mais baixas, políticas domésticas mais fortes e um dólar mais fraco, o que beneficiaria os ativos com orientação doméstica.
O relatório argumenta que “as taxas globais e locais mais baixas são positivas para as ações voltadas para o mercado doméstico; o enfraquecimento do dólar americano é um vento favorável para a história“.
O Morgan Stanley acredita que o ambiente político pode representar um risco adicional antes do ciclo eleitoral de 2026. A esse respeito, ele adverte que “acreditamos que 2026 será um ano eleitoral importante para o Chile e a Colômbia, onde os políticos em exercício têm índices de aprovação baixos e recordes. Isso abre a possibilidade de mudança de política“.
A estratégia setorial do banco na região favorece serviços financeiros, energia, materiais e agricultura, com ênfase em empresas expostas a exportações agrícolas e commodities dolarizadas.