Investidores buscam a ‘próxima Argentina’ com eleições na América Latina

Gestores de fundos especializados em mercados emergentes avaliam que as próximas eleições no Brasil, no Chile e na Colômbia podem levar a uma mudança política pró-mercado, favorecendo ativos da região

Brazilian Real Outperforms As Tariffs Fail To Inflict Much Pain
Por Carolina Wilson - Vinícius Andrade - Liza Tetley
23 de Novembro, 2025 | 06:14 PM

Bloomberg — Gestores de recursos especializados em mercados emergentes estão de olho na América Latina em busca de sua próxima grande aposta, à medida que uma onda de eleições pode redesenhar o mapa político da região e aproximar vários países de Donald Trump.

A atenção renovada ganha destaque após a forte disparada dos ativos argentinos depois da vitória de Javier Milei nas eleições legislativas, impulsionada por um apoio norte-americano sem precedentes.

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Para muitos, o resultado transformou o país em um estudo de caso sobre como mudanças políticas à direita — especialmente quando vistas como alinhadas a Trump — podem destravar ganhos nos ativos do mundo em desenvolvimento.

“Estamos diante de uma possível mudança do pêndulo para a direita na América Latina”, afirmou Pramol Dhawan, chefe de gestão de portfólios de mercados emergentes da Pacific Investment Management Co. (Pimco).

“Se houver essa guinada à direita, esses ativos vão disparar — não haverá nada remotamente próximo dos retornos que você terá nos mercados locais do Brasil ou da Colômbia.”

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Chile, Colômbia e Brasil — algumas das maiores economias da região — terão eleições presidenciais nos próximos 12 meses, e investidores apostam em uma mudança rumo a uma postura mais favorável ao mercado nos três países.

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No centro das apostas, ao lado da Argentina, estão países como El Salvador e Equador, que investidores veem como mais alinhados aos interesses dos Estados Unidos.

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Os títulos em dólar dos três países entregaram ganhos de pelo menos 24% desde a eleição de Trump no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. Isso se compara a um retorno de 13% de um índice de referência da dívida soberana de nações emergentes.

A disparada destaca como alguns fundos vêm apostando em resultados eleitorais específicos como motor de movimentos de mercado.

O Zaftra, hedge fund brasileiro especializado em apostas relacionadas a eleições, registrou em outubro o melhor mês de sua história, com ganho de 9,2% após taxas, impulsionado pela vitória de Milei nas eleições legislativas.

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O fundo, lançado em 2023, também montou uma posição otimista no peso chileno antes do primeiro turno no país, que ampliou a força de outro candidato de direita, segundo Felipe Sze, gestor do ASA — instituição financeira do bilionário Alberto Safra, que administra o fundo.

Dinâmica em mudança

“A forma como o governo Trump vê o hemisfério ocidental é como seu quintal, com os Estados Unidos não apenas tendo o direito, mas a obrigação de intervir — especialmente quando se trata de conter a influência da China em países com forte dependência de mineração, como o Chile”, afirmou Petar Atanasov, co-chefe de pesquisa soberana da Gramercy Funds Management.

A gestora mantém uma visão positiva para o Chile na aproximação do ciclo eleitoral de 2026, avaliando tanto os títulos soberanos quanto o peso.

“Acreditamos que o Chile ainda tem espaço para recuperar valor no câmbio”, disse Atanasov, acrescentando que qualquer melhora nas relações com Trump seria um grande fator favorável.

O primeiro turno das eleições no Chile, realizado no último fim de semana, colocou o ultraconservador José Antonio Kast como favorito para o segundo turno em 14 de dezembro, o que desencadeou uma valorização do peso antes de o apetite por risco enfraquecer globalmente.

Pesquisas na Colômbia e no Brasil apontam para crescente frustração com os presidentes de esquerda Gustavo Petro e Luiz Inácio Lula da Silva, elevando as chances de resultados mais pró-mercado no próximo ano — cenários que operadores veem como favoráveis aos ativos da região.

“Nos lugares onde esperamos mudança, é porque os eleitores estão frustrados com quem está no poder”, disse Graham Stock, estrategista sênior de dívida soberana de mercados emergentes da RBC Bluebay. “Isso é verdade no Chile, e provavelmente na Colômbia, onde Petro decepcionou.”

Influência limitada

Os ativos emergentes, no geral, acumularam ganhos em 2025, à medida que investidores reduziram sua exposição aos mercados dos Estados Unidos em meio à volatilidade de políticas.

Reestruturações de dívida, avanços em acordos com o FMI e a alta das commodities também ajudaram a sustentar os mercados. E a proximidade com o líder norte-americano nem sempre se traduz em benefícios — Narendra Modi, da Índia, por exemplo, ainda não conseguiu fechar um acordo comercial com a maior economia do mundo.

Ainda assim, o nome de Trump tem pesado sobre os mercados emergentes. Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orban mencionou a possibilidade de um “resgate ao estilo argentino” — o que deixou investidores perplexos, já que o país vive uma das melhores valorizações entre ativos emergentes.

Na América Latina, o realinhamento político diante da mudança de política dos Estados Unidos chegou até um dos créditos mais problemáticos do mundo.

Uma postura mais dura de Trump em relação à Venezuela vem impulsionando os títulos inadimplentes do país, alguns dos quais dobraram de preço à medida que operadores apostam na possível saída do líder socialista Nicolás Maduro.

“A probabilidade de mudança de regime ficou muito maior — passamos de nenhuma esperança de mudança para algo mais próximo de 50/50”, afirmou Atanasov, da Gramercy.

-- Com a colaboração de Abhinav Ramnarayan e Andras Gergely.

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