Impacto econômico do El Niño está subestimado, alerta esta gestora global

Britânica Schroders, uma das pioneiras em investir e avaliar ativos ESG, diz que fenômeno climático representa risco estagflacionário para emergentes como o Brasil

Redução do nível de reservatórios de usinas hidrelétricas é apenas uma das ameaças à economia que o El Niño pode trazer para países como o Brasil (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
12 de Julho, 2023 | 04:50 AM

Bloomberg Línea — Enquanto uma desaceleração nos principais índices de inflação começa a dar espaço para que bancos centrais de mercados emergentes, como o brasileiro, possam vir a cortar os juros, a crescente probabilidade do El Niño no inverno do Hemisfério Norte pode pesar contra essa tendência.

Para a gestora britânica Schroders, embora um El Niño moderado não altere significativamente as perspectivas para a inflação, “qualquer coisa mais grave seria preocupante”.

“De fato, é possível que, após declínios acentuados no final do ano, a inflação média dos alimentos em mercados emergentes possa se recuperar rapidamente para dois dígitos durante 2024″, escreveu David Rees, economista sênior de mercados emergentes da Schroders, em relatório recém-publicado.

O El Niño é um fenômeno climático que acontece a cada dois ou sete anos, em que o aquecimento das águas do mar no Oceano Pacífico perturba o clima, afetando o regime de chuvas em diferentes continentes, principalmente no Hemisfério Sul.

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Embora o impacto do El Niño possa variar, em geral leva a condições mais secas em partes da América Latina, como o norte do Brasil e Colômbia, Austrália, Índia e África Austral.

Por outro lado, tende a haver maior precipitação em partes mais ao sul da América Latina, dos Estados Unidos e da África Oriental.

A avaliação da Schroders, que tem cerca de US$ 890 bilhões em ativos sob gestão ao redor do mundo e é uma das gestoras pioneiras no mundo na avaliação e no investimento em ativos ligados à tese ESG, é a de que o El Niño é um risco estagflacionário para as previsões de emergentes.

“Considerando todas as outras variáveis constantes, a inflação alimentar mais alta colocaria um aperto renovado nas rendas reais em detrimento dos bens não alimentares e deixaria menos espaço para os bancos centrais reduzirem as taxas de juros.”

O cenário-base da casa é de cortes de 350 a 600 pontos base nas taxas de juros no Brasil, Colômbia e Chile – três economias diretamente impactadas pelo El Niño – nos próximos 12 meses. Por isso, eventos relativamente fortes do El Niño podem ter algum impacto nos mercados financeiros, disse Rees.

“Ao contrário dos mercados desenvolvidos, onde os legisladores tendem a analisar os efeitos das commodities e se concentrar no núcleo da inflação, os bancos centrais dos países emergentes têm sido historicamente sensíveis aos movimentos da inflação de alimentos”, ressalvou.

Exportações e energia

Para economias emergentes que são grandes exportadoras de alimentos, o movimento poderá significar uma perda de receitas com as vendas caso o desempenho da produção seja pior do que qualquer aumento nos preços, apontou a gestora.

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É o caso do Brasil, cuja economia se beneficou no primeiro semestre de 2023 de uma produção agrícola abundante, mas que pode perder tal apoio se as condições do El Niño se intensificarem.

Além da pressão sobre alimentos e sobre as exportações, Rees chamou a atenção para o impacto na geração de energia, principalmente em países da América Latina, como Brasil, Colômbia e Venezuela, que tendem a depender da geração de energia hidrelétrica - e do regime de chuvas, portanto.

O fenômeno pode levar à escassez de energia, elevando os preços e sufocando a atividade econômica, destacou o economista.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.