Ibovespa fecha em queda e dólar sobe a R$ 5,14 depois de decisão dividida do Copom

Investidores reagiram nesta quinta à decisão do Copom de reduzir a Selic em 0,25 ponto por um placar apertado de cinco votos a quatro; resultado abriu margem para interpretação de um BC mais leniente com a inflação no futuro

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09 de Maio, 2024 | 05:53 PM

Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou com queda de 1,00%, aos 128.188 pontos, nesta quinta-feira (9), com os investidores repercutindo a decisão do Copom do dia anterior, que mostrou o colegiado dividido e um comunicado mais “hawkish” do Banco Central. O desempenho foi na contramão dos índices de Nova York, que fecharam em alta. O dólar (USDBRL) subia 0,96% e era negociado a R$ 5,14 no fechamento.

Embora o corte de 0,25 ponto percentual do Copom fosse esperado por grande parte do mercado, uma decisão dividida por um placar apertado de cinco votos a quatro foi uma surpresa para muitos economistas e gestores.

A ala vitoriosa, capitaneada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor Diogo Guillen, se opôs aos membros do Copom indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, que defendiam um corte de 0,50 ponto.

A divergência abriu margem para diferentes interpretações da postura do BC pelo mercado, incluindo a avaliação de que o Copom pode ser mais leniente com a inflação no futuro. Os diretores indicados por Lula devem compor a maioria dos membros do colegiado a partir de 2025, com o fim do mandato de Campos Neto.

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“Embora acreditássemos que dissidências fossem altamente prováveis, a divisão de 5 a 4 foi surpreendente. Isso indica um comitê profundamente dividido, tornando plausível a ocorrência de mais dissidências em futuras reuniões. Além disso, todos os votos a favor da decisão mais ‘dovish’ vieram de novos membros, o que pode afetar as percepções dos mercados sobre a função de reação do comitê a partir de 2025″, escreveram os analistas da área de pesquisa macroeconômica do BTG (BPAC11), Claudio Ferraz, Bruno Martins e Bruno Balassiano, em relatório.

Leia também: Copom: economistas veem comunicado ‘hawkish’ e incerteza sobre próximos passos

Os economistas ressaltam que aguardam a divulgação da ata do Copom na semana que vem para ter mais mais clareza sobre o voto dissidente e o rumo da política monetária, uma visão compartilhada também sobre economistas do Itaú Unibanco (ITUB4).

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“Os quatro membros do comitê nomeados mais recentemente votaram a favor de um corte de 50 pontos base, apesar de concordarem com a avaliação altista, de forma geral, sobre as perspectivas de inflação. Com certeza saberemos mais sobre a opinião das autoridades com a divulgação da ata, na próxima terça-feira. No momento, esperamos outro movimento de 25 pontos-base na próxima reunião, com chance não-nula de ser o último do ciclo”, afirmou a equipe do Itaú, liderada por Mario Mesquita.

Além da ata, investidores aguardam agora os dados da inflação de abril medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que serão divulgados amanhã (10). As preocupações com uma maior pressão de preços também crescem em meio à tragédia no Rio Grande do Sul, cujos 425 dos seus 497 municípios têm algum relato de problema relacionado ao temporal. Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas.

Dos 86 ativos do Ibovespa, 61 fecharam em queda. As ações de 3R (RRRP3), Lojas Renner (LREN3), Ultrapar (UGPA3), Cogna (COGN3) e Eletrobras (ELET3) caíram e ficaram entre as maiores perdas do dia.

Os papéis dos grandes bancos também recuaram e contribuíram para o desempenho negativo, incluindo Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander Brasil (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3).

O Banco do Brasil (BBAS3) apresentou uma queda no lucro e na rentabilidade nos primeiros três meses de 2024, na comparação com o quarto trimestre. O balanço, divulgado na noite de ontem (8), revelou ainda o impacto negativo da exposição ao mercado argentino, após a forte desvalorização do peso em dezembro.

Entre janeiro e março, o banco mais antigo do Brasil, fundado em 1808, teve um lucro líquido ajustado de R$ 9,3 bilhões, uma queda de 1,5% no comparativo trimestral (R$ 9,4 bilhões no quarto trimestre), mas uma alta de 8,8% na base anual (R$ 8,5 bilhões no primeiro trimestre de 2023).

O guidance (projeção) anunciado pelo banco é de um lucro líquido ajustado entre R$ 37 bilhões e R$ 40 bilhões em 2024.

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Entre os destaques positivos, as ações de Petrobras (PETR3; PETR4), Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3) fecharam em alta e ficaram entre as principais contribuições positivas. LWSA (LWSA3), Minerva (BEEF3), Rede D’or (RDOR3), Magazine Luiza (MGLU3) e BRF (BRFS3) também avançaram e lideraram os ganhos.

Nos Estados Unidos, o mercado de ações atingiu seu nível mais alto desde o início de abril, estendendo uma recuperação impulsionada pela especulação de que o Federal Reserve será capaz de cortar as taxas de juros este ano.

As ações subiram à medida que os pedidos de seguro-desemprego, maiores do que o estimado, reforçaram as apostas em uma flexibilização da política dos EUA. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego nos EUA subiram na semana passada para o nível mais alto desde agosto, superando as estimativas.

Os formuladores de políticas dos EUA estão observando de perto a demanda por trabalho e o crescimento dos salários enquanto debatem quando pode ser apropriado reduzir os juros. A presidente do Federal Reserve Bank de San Francisco, Mary Daly, disse que as taxas estão atualmente contendo a economia, mas pode levar “mais tempo” para retornar a inflação para sua meta.

- Com informações da Bloomberg News.