Banco do Brasil tem queda no lucro, mas mantém rentabilidade acima de 20%

Banco estatal reportou lucro de R$ 9,3 bi entre janeiro e março deste ano, uma redução de 1,5% no comparativo trimestral; ROE avançou de 21% para 21,7% na base anual

Agência do Banco do Brasil
09 de Maio, 2024 | 08:02 AM

Bloomberg Línea — O Banco do Brasil (BBAS3) apresentou uma queda no lucro e na rentabilidade nos primeiros três meses de 2024, na comparação com o quarto trimestre. O balanço, divulgado na noite de quarta-feira (8), revelou ainda o impacto negativo da exposição ao mercado argentino, após a forte desvalorização do peso em dezembro.

Entre janeiro e março, o banco mais antigo do Brasil, fundado em 1808, teve um lucro líquido ajustado de R$ 9,3 bilhões, uma queda de 1,5% no comparativo trimestral (R$ 9,4 bilhões no quarto trimestre), mas uma alta de 8,8% na base anual (R$ 8,5 bilhões no primeiro trimestre de 2023).

O guidance (projeção) anunciado pelo banco é de um lucro líquido ajustado entre R$ 37 bilhões e R$ 40 bilhões em 2024.

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Em rentabilidade, o BB perdeu para o Itaú Unibanco (ITUB4) o título de dono do maior ROE (retorno sobre patrimônio líquido) entre os maiores bancos de varejo.

O indicador ficou em 21,7%, abaixo do registrado no quarto trimestre (22,5%), mas acima de igual período do ano passado (21%). O Itaú liderou esse quesito com ROE de 21,9%. com lucro de R$ 9,771 bilhões, também o mais alto da temporada.

Confira o ranking de rentabilidade (ROE) e o lucro líquido ajustado dos maiores bancos no 1º trimestre:

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  1. Itaú Unibanco: 21,9%, lucro de R$ 9,7 bilhões (ante 21,2% e R$ 9,401 bilhões no quarto trimestre)
  2. Banco do Brasil: 21,7%, lucro de R$ 9,3 bilhões (ante 22,5% e R$ 9,442 bilhões no quarto trimestre)
  3. Santander Brasil: 14,1%, lucro de R$ 3 bilhões (ante 12,3% e R$ 2,204 bilhões no quarto trimestre)
  4. Bradesco: 10,2%, lucro de R$ 2,8 bilhões (ante 10% e R$ 2,878 bilhões no quarto trimestre)

Efeito Patagonia na margem com mercado

A margem financeira bruta do BB também veio com leve variação negativa (0,1%) em relação ao trimestre anterior, totalizando R$ 25,7 bilhões. Na base anual, houve um crescimento de 21,6%.

Em relatório, o BB citou ainda que o decréscimo de 4,6% das receitas financeiras em três meses (-2,4% em operações de crédito e -10,4% em tesouraria) foram compensados pela redução de 9,7% nas despesas financeiras, influenciadas pela queda de 11,5% nas despesas de captação comercial.

No primeiro trimestre, a margem com clientes obteve crescimento trimestral de 0,6%, influenciada pelo desempenho positivo da margem de crédito.

Na mesma comparação, a margem com mercado apresentou retração de 2,7% “devido, principalmente, ao desempenho da margem financeira do Banco Patagonia [controlado pelo BB], influenciado pelo cenário macroeconômico da Argentina e pela maxidesvalorização ocorrida em dezembro”, segundo o balanço do BB.

“O contexto inflacionário na Argentina afeta a situação financeira, os resultados e os fluxos de caixa do Banco Patagonia”, alertou o relatório do BB.

A receita financeira de operações de crédito totalizou R$ 34,3 bilhões, decréscimo trimestral de 2,4%, influenciado, principalmente, pelas operações de crédito da rede externa. “Estas por sua vez, foram impactadas pela redução nas receitas do Banco Patagonia, fruto da maxidesvalorização do peso argentino frente ao dólar”, justificou o documento.

Carteira de crédito e guidance

A carteira de crédito ampliada, que inclui TVM (títulos e valores mobiliários) privados e garantias, contabilizou saldo de R$ 1,14 trilhão em março, crescimento de 10,2% na comparação em 12 meses, com destaque para os empréstimos concedidos ao agronegócio. O guidance (projeção) do banco para 2024 é de crescimento da carteira entre 8% e 12%.

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A carteira ampliada voltada para o agronegócio teve saldo de R$ 372,5 bilhões, um crescimento anual de dois dígitos (15,5%), com melhor desempenho em linhas de investimentos (+3,9% no trimestre e + 19,2% em 12 meses) e de custeio (+8,2% no trimestre e +19,7% em 12 meses).

No segmento de pessoa física, segmento de maior inadimplência, houve um crescimento de apenas 1,4% no trimestre e 5,8% em 12 meses, alcançando R$ 317,4 bilhões. O resultado foi influenciado pelo desempenho na carteira de crédito consignado (+3,5% no trimestre e +10,3% em 12 meses) e do crédito salário (+4,5% no trimestre e 9,3% em 12 meses), segundo o BB.

Já a carteira ampliada de pessoa jurídica teve crescimento de 8,5% em 12 meses, atingindo R$ 393,5 bilhões, com performance mais acentuada no portfólio direcionado para micro, pequenas e médias empresas, que evoluiu 12,7% em 12 meses. A carteira de grandes empresas, por sua vez, cresceu 5,8%.

Acordo com Casas Bahia

Sem citar nominalmente a Casas Bahia (BHIA3), que entrou em recuperação extrajudicial no final do mês passado, o balanço do BB trouxe referência ao acordo de renegociação da dívida da quarta maior varejista do país com o banco, um dos seus principais credores financeiros, ao lado do Bradesco (BBDC4). O BB responde por R$ 1,272 bilhões do total (R$ 4,2 bilhões) dos títulos reestruturados pela rede varejista.

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O banco também é credor da telecom Oi, que entrou em recuperação judicial pela segunda vez em março, com um crédito de R$ 5,088 bilhões a receber. Já com a varejista Americanas (AMER3), também em RJ, o crédito com o BB soma R$ 1,6 bilhão.

Uma provisão de R$ 2,546 bilhões foi desmontada no primeiro trimestre, e houve o reconhecimento de perda, mas o BB não revelou o nome do cliente, dentro da política do setor de proteger o sigilo bancário.

No primeiro trimestre, o BB registrou um crescimento do risco de crédito de 141,1% em 12 meses, embora a comparação com o trimestre anterior tenha apontado uma redução de 4%.

Ao justificar as variações, o relatório do BB citou o “reperfilamento de dívida de cliente do segmento large corporate, que ocorreu no 1T23, com desconstituição de provisão no montante de R$ 2,546 bilhões e concomitante reconhecimento de perda por imparidade de debênture originada no contexto da mudança do perfil de dívida (de operação de crédito para títulos e valores mobiliários)”.

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O BB também mencionou o “agravamentos de risco de crédito nos segmentos empresa e agronegócios”. Desde o ano passado, produtores rurais estão decretando mais falências no país, um quadro visto como preocupante por grandes players do setor.

As despesas de PCLD ampliada (Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa) totalizaram R$ 8,5 bilhões no primeiro trimestre, um aumento de 45,9% em 12 meses, mas uma queda de 14,4% em três meses. O número corresponde às despesas com o risco de crédito, somada aos valores recuperados de perdas, além de descontos concedidos e perdas por imparidade.

Neste ano, as ações do BB têm ganhos de 3,65%, superando o desempenho do principal índice de ações do mercado brasileiro, o Ibovespa (IBOV) (queda de 2,42% em 2024).

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.