Bloomberg — A criação de vagas nos Estados Unidos superou as expectativas em setembro, mas a taxa de desemprego continuou avançando, reforçando a fragilidade persistente do mercado de trabalho.
O mais recente relatório do Bureau of Labor Statistics (BLS), atrasado por causa da paralisação do governo, mostrou que as folhas de pagamento (payroll) do setor não agrícola aumentaram em 119.000 no mês, após queda em agosto.
A taxa de desemprego, por sua vez, subiu ao maior nível em quase quatro anos — reflexo tanto da dinâmica positiva de mais americanos entrando na força de trabalho quanto da realidade de um número maior de pessoas perdendo seus empregos.
Esse retrato defasado não tende a mudar muito a visão dos dirigentes do Federal Reserve, muitos dos quais já vinham se afastando da ideia de cortar juros novamente no mês que vem. Mas o dado traz luz para movimentos contraditórios em jogo na economia americana na reta final do ano.
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O aumento das vagas foi restrito, sustentado principalmente por contratações em saúde, lazer e hospitalidade. Outros setores — como manufatura, transporte e armazenagem, além de serviços empresariais — eliminaram postos.
Para muitas empresas, o ambiente de poucas contratações e poucas demissões deu lugar a uma onda de anúncios de cortes, ampliando a preocupação dos americanos com sua segurança no emprego.

“A primeira vista, o aumento do payroll em setembro parece reconfortante, mas um olhar mais atento revela que o crescimento do emprego continuou frágil e concentrado em poucos setores na véspera da mais longa paralisação do governo”, escreveu Lydia Boussour, economista sênior da EY-Parthenon, em nota.
Dados separados, divulgados nesta quinta-feira (20), mostraram que os pedidos semanais de seguro-desemprego caíram ao menor nível em três semanas no período encerrado em 15 de novembro, informou o Departamento do Trabalho.
Os pedidos contínuos, que funcionam como indicador das pessoas que já recebem o benefício, subiram na semana anterior ao maior nível desde o fim de 2021.
“Minha expectativa é de que isso resulte em um número bem mais fraco para o payroll de outubro”, disse Veronica Clark, economista do Citigroup.
O relatório de setembro — originalmente previsto para 3 de outubro — foi o primeiro grande dado que teve sua divulgação adiada durante o shutdown. Mas como o BLS já havia concluído a coleta das informações quando a paralisação do governo começou, em 1º de outubro, o documento está entre os primeiros a serem publicados após a reabertura.
O BLS informou na quarta-feira (19) que o relatório de outubro, previsto para 7 de novembro, não será divulgado. Em vez disso, os dados serão incorporados ao relatório de novembro, previsto para 16 de dezembro, após a próxima reunião do Fed. Estatísticas essenciais como a taxa de desemprego, porém, não serão incluídas.
A pesquisa domiciliar que gera esses indicadores não pôde ser coletada durante a paralisação, e o BLS afirmou que não é possível recolher os dados retroativamente.
Taxa de participação
Diante da forte desaceleração da imigração neste ano, a pesquisa domiciliar pode oferecer um retrato mais claro da dinâmica do mercado de trabalho americano.
A taxa de participação — a parcela da população que está trabalhando ou procurando emprego — subiu em setembro ao maior nível em quatro meses, impulsionada pelas mulheres.
A taxa para trabalhadores de 25 a 54 anos, o chamado grupo em idade ativa principal (prime age), permaneceu no maior nível em um ano.
Enquanto isso, o número de pessoas trabalhando em tempo parcial por razões econômicas caiu no maior ritmo em um ano, e a proporção de desempregados de longo prazo recuou.
As folhas de pagamento do setor privado tiveram, em setembro, o maior aumento em cinco meses. Ainda assim, o número de pessoas que perderam o emprego de forma permanente subiu ao nível mais alto desde o fim de 2021.
O que diz a Bloomberg Economics…
“Apesar de defasado, o forte relatório de setembro não reforçou o argumento por um corte de juros na reunião do FOMC de 9 e 10 de dezembro. O aumento na taxa de desemprego pode chamar atenção, mas decorreu mais da alta na participação do que de uma criação fraca de vagas.”
Anna Wong, Chris G. Collins e Eliza Winger
Ao mesmo tempo, o relatório mostrou que o ganho mensal do salário médio por hora foi o menor desde junho, após uma revisão para cima do número de agosto.
Economistas acompanham esse dado de perto por ser um motor do consumo das famílias — que ficou ainda mais concentrado, com os americanos mais ricos respondendo por quase metade dos gastos totais.
Olhando à frente, embora os dados de outubro venham a ser publicados, eles não necessariamente trarão um retrato claro.
Economistas esperam uma forte queda no emprego público, já que os funcionários federais que aceitaram as ofertas de renúncia diferida do governo serão oficialmente retirados das folhas de pagamento.
-- Com a colaboração de Julia Fanzeres, Chris Middleton, Molly Smith e Jarrell Dillard.
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