Dólar fraco e realinhamento global impulsionam ativos latino-americanos, diz UBS

Mudança de contexto abre uma janela estratégica para investimentos na América Latina, disse Alejo Czerwonko, Managing Director e Chief Investment Officer para mercados emergentes nas Américas do banco em entrevista à Bloomberg Línea

CIO do banco argumenta que a América Latina tem se destacado como “um porto relativamente mais seguro do que outros na tempestade” do comércio global (Foto: Alex Kraus/Bloomberg)
12 de Agosto, 2025 | 01:54 PM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg Línea — Para o UBS, o forte desempenho dos ativos latino-americanos em 2025 não é um fenômeno isolado. O banco identifica um ambiente internacional excepcional, que favorece a região, impulsionado por uma desvalorização do dólar, tensões comerciais globais e um realinhamento da liderança nos mercados de ações.

Alejo Czerwonko, Managing Director e Chief Investment Officer (CIO) para mercados emergentes nas Américas do UBS, acredita que essa mudança de contexto abre uma janela estratégica para investimentos na América Latina. Em sua opinião, o reequilíbrio global do capital pode dar destaque aos mercados emergentes e, especialmente, aos mercados latino-americanos, cujas avaliações permanecem atraentes em comparação com outras regiões.

PUBLICIDADE

“Os Estados Unidos não serão o líder indiscutível daqui para frente, mas mercados como a América Latina terão espaço para ultrapassá-los”, disse Czerwonko em uma entrevista à Bloomberg Línea, referindo-se à rotação de liderança que o UBS projeta para os próximos anos.

Leia também: Citi prevê dólar fraco para o restante de 2025 por causa de incertezas nos EUA

Novo mapa global

Para o UBS, a recuperação dos mercados regionais faz parte de um ambiente internacional marcado pelas “tarifas mais altas dos EUA em 100 anos”, grandes conflitos militares e uma desvalorização do dólar, com sua maior queda para o início do ano desde 1973. Nesse cenário, o debate sobre o “excepcionalismo dos EUA” foi reavivado e os investidores globais reconsideraram sua exposição geográfica.

PUBLICIDADE
Aranceles

O CIO do UBS explica que “um dólar fraco é um vento favorável fenomenal para os ativos emergentes e latino-americanos, porque as regiões e os países que têm muitas dívidas denominadas em dólares podem pagá-las com muito mais facilidade se a moeda estiver fraca”. Isso, acrescenta ele, facilita as condições financeiras e dá “mais espaço para respirar” às economias da região.

Czerwonko argumenta que a América Latina tem se destacado como “um porto relativamente mais seguro do que outros na tempestade” em meio à turbulência do comércio global. Entre os motivos, ele menciona que muitos países da região têm déficits comerciais com os Estados Unidos, o que implica tarifas efetivas mais baixas em comparação com outras economias. Além disso, ele destaca a ausência de conflitos armados e a abundância de recursos estratégicos, como petróleo, gás, lítio, cobre e terras raras.

A opinião do UBS é que, em um horizonte de três a cinco anos, haverá “uma rotação mais ativa da liderança do mercado acionário”, com espaço para que os mercados acionários latino-americanos superem o desempenho dos EUA, apoiados por avaliações atraentes tanto das ações quanto das moedas.

PUBLICIDADE

Leia também: Por que as economias da América Latina não conseguem se aproveitar do dólar fraco

Brasil e México, motores diferentes

O Brasil enfrenta as maiores tensões com os Estados Unidos após a imposição de tarifas de 50% sobre determinados produtos. No entanto, o UBS acredita que “o impacto econômico direto desse conflito no Brasil é limitado”, uma vez que as exportações para o mercado americano representam apenas 2% do PIB e que vários setores foram isentos das tarifas.

Czerwonko prevê que o Banco Central está próximo de iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros, o que historicamente tem impulsionado o mercado de ações. Ele também lembra que, em períodos de dólar fraco, o mercado acionário brasileiro tende a reagir positivamente.

PUBLICIDADE

Com as ações sendo negociadas a “8,5 vezes os lucros, abaixo de sua média histórica”, e uma eventual mudança política para o centro ou para a direita, o UBS mantém uma posição construtiva em relação ao país.

No caso do México, a tese do UBS baseia-se em sua profunda integração econômica com os Estados Unidos, protegida pelo acordo T-MEC. “O México é parte da solução para os problemas dos EUA e não contribui materialmente para os problemas“, explica Czerwonko.

O analista ressalta que a economia mexicana é fundamental para que os EUA se desvinculem da China sem desestabilizar suas cadeias de suprimentos e para manter os preços de bens e serviços sob controle.

Com relação à política monetária, o UBS estima que o mercado já descontou “entre dois e três cortes nas taxas de juros pelo Banco do México” neste ciclo de baixa e que um dólar mais fraco favoreceria o peso, mesmo que a autoridade monetária continue com a normalização.

Leia também: Recuperação do dólar expõe desafios enfrentados pelas moedas da América Latina

The Bank of Mexico (Banxico) headquarters in Mexico City, Mexico, on Wednesday, Nov. 6, 2024. The Mexican peso, which is often seen as the currency most vulnerable to Trump's trade policies, trimmed losses after falling as much as 3.5% earlier — reaching its lowest since August 2022.

Entretanto, ele reconhece que 2025 é “um ano complicado para o México” devido à incerteza comercial e à queda nos investimentos. O novo governo, acrescenta ele, busca “limpar as contas fiscais” após uma deterioração em 2024, o que implica custos econômicos de curto prazo, mas benefícios estruturais de médio prazo.

Colômbia e Argentina: riscos e expectativas

Na Colômbia, o banco suíço identifica a deterioração das finanças públicas como a principal vulnerabilidade. " Esse completo desrespeito à regra fiscal é realmente preocupante", adverte Czerwonko, que observa que o problema é anterior à atual administração de Gustavo Petro, mas se acelerou nos últimos anos.

Embora parte desse risco já esteja refletido nos preços, com o país “sendo negociado com uma classificação implícita inferior à sua classificação atual", o especialista acredita que uma mudança de governo com um plano econômico confiável poderia criar espaço para uma melhoria nos ativos.

Banco de la República de Colombia, en Bogotá.

Na Argentina, o UBS vê o acesso aos mercados internacionais como “praticamente já uma realidade”, embora gradual. “Não acho que seja uma coisa do tipo ‘zero ou um’, mas um processo gradual de continuar a aumentar a confiança”, diz Czerwonko.

Recentemente, o país colocou dívidas denominadas em pesos com investidores globais, mas o analista acredita que o governo de Milei parece estar esperando para consolidar as reformas e os resultados econômicos antes de recorrer aos mercados em maior volume.

O especialista considera que a liberalização da taxa de câmbio foi “magistral” e “uma das mais limpas da história dos mercados emergentes”.

No médio prazo, o futuro da Argentina é “binário e altamente correlacionado com o resultado político”: se Milei consolidar o poder e aprofundar as reformas estruturais, o investimento estrangeiro direto e a exploração de setores como Vaca Muerta e mineração poderão se acelerar; caso contrário, o país correrá o risco de voltar a ciclos de volatilidade.

Javier Milei, Argentina's president, speaks during the Conservative Political Action Conference (CPAC) in National Harbor, Maryland, US, on Saturday, Feb. 22, 2025. The Conservative Political Action Conference launched in 1974 brings together conservative organizations, elected leaders, and activists. Photographer: Kent Nishimura/Bloomberg
Carlos  Rodríguez Salcedo

Periodista colombiano, especializado en economía. Fui periodista, editor y macroeditor del diario La República, con experiencia en temas macroeconómicos, empresariales y financieros. Además, pasé por la agencia de noticias Colprensa.