Dólar e risco eleitoral: os desafios da América Latina em 2026, segundo o Wells Fargo

Banco adverte que a região enfrentará pressões cambiais e financeiras em 2026, em face de um dólar mais forte, crescimento global mais lento e riscos políticos crescentes

Banco espera que a América Latina enfrente um ambiente financeiro externo menos favorável em 2026
20 de Novembro, 2025 | 11:03 AM

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Bloomberg Línea — O Wells Fargo espera que a América Latina enfrente um ambiente financeiro externo menos favorável em 2026.

Em seu relatório anual, o banco identifica riscos ligados ao fortalecimento do dólar no segundo semestre do ano, à desaceleração do crescimento global e à divergência de políticas monetárias entre economias desenvolvidas e emergentes.

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Embora vários países da região tenham adotado políticas ortodoxas para conter a inflação e estabilizar suas moedas, os analistas do banco acreditam que essa postura pode ser insuficiente se os choques se concretizarem os choques se concretizarem particularmente em um cenário de transição política interna.

A exposição a fluxos de capital voláteis, déficits estruturais e condições financeiras mais rígidas representa um desafio adicional para os bancos centrais da América Latina.

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Para o banco, o dólar pode se fortalecer amplamente no segundo semestre de 2026, pressionando as moedas dos mercados emergentes.

Essa correção se seguiria a uma fase de enfraquecimento temporário no primeiro semestre do ano, quando “o Fed flexibilizará a política monetária mais rapidamente do que outros bancos centrais”.

Pressões de câmbio e risco eleitoral

A valorização do dólar esperada para a segunda metade do ano atingiria mais duramente os países latino-americanos.

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“As moedas latino-americanas podem ser as mais vulneráveis, especialmente aquelas associadas a um aumento esperado do risco político durante o próximo ciclo eleitoral“, alertam os analistas.

O relatório identifica o Brasil e a Colômbia como pontos sensíveis.

O documento estima que o real e o peso colombiano enfrentarão um “ajuste para níveis mais consistentes com os fundamentos econômicos e políticos”.

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Essa correção pode coincidir com o aumento da volatilidade financeira associada aos processos eleitorais.

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Em termos de política monetária, reconhece-se que há espaço para mais cortes, mas apenas de forma limitada.

“Os bancos centrais dos mercados emergentes podem ter espaço para flexibilizar um pouco mais, mas não muito”, diz a análise.

No caso do México, espera-se uma postura menos dovish do Banco do México, e projeta uma taxa terminal de cerca de 9%.

Para o Wells Fargo, esse país parece ser uma relativa exceção regional.

“O peso pode se enfraquecer à medida que o dólar se recupera, mas acreditamos que um Banco do México menos dovish e o México atuando como um porto seguro regional durante o ciclo eleitoral podem sustentar sua moeda em tempos de turbulência.”

Restrição monetária

No âmbito interno, o relatório projeta uma economia dos EUA com crescimento de 2,3% em 2026 e um ambiente de taxas de juros menos restritivas.

“Nosso cenário base é que o FOMC reduza a taxa dos fundos federais em mais 75 pontos-base até meados do próximo ano, resultando em uma taxa terminal entre 3,00% e 3,25%“, afirmam.

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Essa moderação responde a um ambiente de inflação ainda acima da meta, mas com sinais de contenção. “Nossa previsão básica do núcleo da inflação PCE de 2,6% em 2026 marcaria uma melhora direcional em relação à inflação atual”, diz o relatório.

O mercado de trabalho permanecerá frágil, com o desemprego em torno de 4,5%. “A falta de demissões generalizadas sugere que o mercado de trabalho não está em queda livre, embora o risco de uma desaceleração mais pronunciada permaneça sobre a mesa“, afirma a análise.

Menos expansão global

O Wells Fargo prevê um crescimento global de 2,8% em 2026, inferior aos 3% estimados para 2025 e abaixo da média histórica de 3,3%.

Esse desempenho será condicionado pela política monetária, pela continuidade das medidas protecionistas e pela situação da China.

De acordo com o relatório, a economia chinesa deverá crescer apenas 4,3%, com pressões sobre seu modelo de exportação, baixo consumo interno e restrições fiscais e monetárias. “A China será o principal contribuinte para a desaceleração global no próximo ano.”

Com relação à política monetária, os analistas alertam que “a capacidade dos bancos centrais internacionais de oferecer mais estímulos foi reduzida”.

Entre os mercados emergentes, “o Brasil e a Colômbia poderiam se voltar para a flexibilização, mas os cortes devem ser graduais e acompanhados de uma orientação prudente“.

O cenário de referência não prevê uma recessão global, mas a persistência de riscos relevantes. Entre eles, o relatório destaca uma recessão na China, uma reversão repentina da política monetária se a inflação aumentar, a decisão da Suprema Corte sobre tarifas e suas implicações fiscais e a instabilidade política nas eleições dos mercados emergentes".