Bloomberg Línea — Os fundos que investem em mercados emergentes aumentaram sua exposição à América Latina no primeiro trimestre de 2025, segundo uma análise liderada por Jennie Li, estrategista de ações para América Latina da Bloomberg Intelligence.
Após um desempenho fraco no trimestre anterior, os gestores reavaliaram os ativos da região, com posições de destaque em ações como Mercado Livre.
Li afirma que “depois de um desempenho inferior no trimestre anterior, a América Latina recuperou alguma representatividade tanto nas carteiras de fundos de mercados emergentes quanto no índice MSCI de mercados emergentes”.
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A exposição média subiu para 11%, ante 10,2%, e o peso no MSCI EM aumentou de 6,1% para 6,6%. Embora ainda abaixo da média histórica, o posicionamento melhorou em relação ao trimestre anterior.
Segundo Li, “no primeiro trimestre, 90 dos 100 maiores fundos de mercados emergentes estavam sobreponderados ou neutros em América Latina, contra 80 no trimestre anterior”.
Além disso, ela detalha que os fundos que apostam na compra aumentaram para 10, ante 6, embora a posição média tenha se mantido moderada.
Brasil e México concentraram as principais posições nas carteiras de fundos emergentes.
De acordo com o relatório, o Brasil destacou-se por ter a maior diferença no posicionamento em relação ao índice MSCI EM, com uma posição overweight de 1.376 pontos-base sobre seu peso no índice.
De forma geral, uma posição overweight (equivalente à compra) sugere maior confiança ou expectativa positiva sobre um país ou ativo, enquanto uma underweight (equivalente à venda) reflete cautela ou menor interesse relativo.
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A cobertura dos países andinos foi limitada. O relatório da Bloomberg Intelligence indica que “cerca de 80% dos fundos não possuíam nenhuma ação colombiana”. Aqueles que tinham mostraram uma sobreponderação média de 0,59%, contra 0,12% do benchmark.
No caso do Chile, aproximadamente metade dos fundos não tinha exposição, embora aqueles que a mantinham apresentassem uma posição overweight média de 50 pontos-base.
A Argentina, embora não faça parte do índice de referência, atraiu posições ativas.
Li indica que “um número significativo de fundos manteve apostas ativas no país, com a maior alocação em 4,1%”. Além disso, “20 dos 100 principais fundos de mercados emergentes tinham alguma exposição ao país”.
Quanto ao México, os analistas da Bloomberg Intelligence apontam que o posicionamento se manteve sólido dentro das carteiras de fundos emergentes, embora com menor dispersão em relação ao Brasil.
Emanoelle Santos, analista de mercados da XTB Latam, considera que essa revalorização da América Latina responde a fundamentos que melhoraram estruturalmente.
“O sólido desempenho das ações latino-americanas até agora em 2025 responde a uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que reposicionaram a região como um destino atraente para os fluxos globais de investimento”, disse a analista.
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Santos antecipa que os setores cíclicos podem oferecer oportunidades caso persista a demanda por recursos estratégicos.
“Diante dos atuais desafios globais de oferta e da crescente demanda por recursos estratégicos para a transição energética, esses setores podem estar excessivamente subvalorizados”, considerou.
Entre as ações mais populares na América Latina, destacaram-se nomes como Mercado Livre, pois, segundo Li, “foi a ação latino-americana mais amplamente mantida nos 100 fundos EM avaliados, apesar de estar excluída do índice MSCI EM”. Além disso, indicaram que foi “a maior posição ativa no universo dos mercados emergentes”.
A lista da Bloomberg Intelligence também identifica Grupo Financiero Banorte (GFNORTE0), Credicorp (BAP), Walmart de México (WALMEX*), FEMSA (FEMSAUBD), Itaú Unibanco (ITUB4), Localiza (RENT3), Raia Drogasil (RADL3), BTG Pactual (BPAC11) e Grupo México (GMEXICOB) entre as 10 companhias mais overweight nas carteiras.
Na outra ponta, Eletrobras (ELET6), Nu Holdings (NU), América Móvil (AMX), Southern Copper (SCCO), Bradesco (BBDC4), Sabesp (SBSP3), Itaúsa (ITSA4), Latam Airlines (LTM), Inbursa (GFINBURO) e Grupo Bimbo (BIMBOA) figuram entre as mais underweight.
Aposta no Brasil
Uma visão complementar surge do relatório mais recente do Bank of America. Os gestores de fundos que atuam na América Latina começam a registrar uma mudança nas preferências de investimento regional: enquanto cresce o entusiasmo pelos mercados do Brasil, Argentina e Chile, o México perde atratividade diante do aumento da incerteza política e econômica.
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Oito a seis por cento (66%) dos entrevistados na pesquisa mais recente do Bank of America projeta que o Ibovespa, principal índice bursátil do Brasil, superará os 140.000 pontos antes do fim de 2025, contra 43% que tinha essa expectativa no mês anterior.
Apesar de as eleições presidenciais no Brasil serem vistas como evento-chave para o mercado, 57% dos gestores consideram que os grandes fluxos de investimento para ativos locais só se materializarão a partir do primeiro trimestre de 2026.
No mesmo relatório, destaca-se que, apesar da exposição dos fundos de mercados emergentes, apenas 3% dos entrevistados mantêm visão positiva sobre os ativos mexicanos no curto prazo.
A incerteza sobre a política comercial dos Estados Unidos, particularmente o risco de novas tarifas, e a falta de consenso sobre o rumo da política monetária do Banxico enfraqueceram a percepção de estabilidade.
Um número crescente de gestores acredita que o Brasil superará o México em desempenho nos próximos seis meses, alinhado a maior clareza econômica e política do país.
Segundo a pesquisa do BofA, 64% dos participantes planejam aumentar sua exposição em renda variável nos próximos seis meses, o nível mais alto registrado desde janeiro de 2024.
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Paralelamente, observa-se um movimento de cautela na gestão de portfólios. Os níveis de caixa subiram para 7,8%, o ponto mais alto desde outubro de 2023, e 55% dos gestores afirmam ter implementado proteções (hedges) contra possível queda dos mercados no curto prazo.
Riscos e setores preferidos
O fortalecimento do dólar americano substituiu as tarifas como principal risco externo para os mercados latino-americanos, segundo gestores consultados pelo BofA.
Embora a maioria ainda espere desvalorização do dólar até o fim do ano, sua valorização recente elevou a volatilidade em moedas como o real brasileiro.
Essa tendência também alimenta a cautela em mercados emergentes altamente sensíveis à dinâmica cambial e aos fluxos globais de capital.
Entre os riscos apontados estão:
- aumento das taxas de juros nos EUA,
- possível desaceleração da economia americana,
- choques geopolíticos,
- desempenho da China e das commodities.
Outro ponto chave é o posicionamento setorial. Utilities (serviços públicos) e financeiros consolidam-se como os setores mais underweight pelos gestores, refletindo preferência por ativos considerados defensivos ou de fluxo estável.
Em contrapartida, energia e materiais continuam sendo evitados, com posições majoritariamente subponderadas, indicando que as perspectivas sobre commodities e exposição cíclica ainda não convencem plenamente os investidores.
Sobre isso, Santos observou que “esses setores enfrentaram longa desvalorização, em parte por sua alta sensibilidade cíclica e exposição às variações nos preços internacionais das commodities”. No entanto, ela indica que as condições de mercado podem favorecer uma recuperação.
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Além disso, Santos prevê continuidade nos fluxos para a renda variável regional, considerando que existem condições para que a rotação para ações latino-americanas se mantenha no segundo semestre, especialmente se persistirem:
- a fraqueza relativa do dólar,
- a volatilidade nos mercados desenvolvidos,
- e o apetite por avaliações mais atraentes.