Bloomberg Línea — Mercados da América Latina têm se beneficiado de um ambiente financeiro global mais “amigável” neste ano, de acordo com Johanna Chua, head global de economia para mercados emergentes do Citi.
Segundo a economista, a combinação de dólar mais fraco no mundo e expectativa de juros mais baixos nos Estados Unidos cria um cenário favorável para os mercados da região e de outros países emergentes.
“Do ponto de vista de estratégia de recomendação, como em taxas de juros, por exemplo, nós ainda estamos comprados no México e no Brasil. Estamos comprados na Índia, na Indonésia. Ainda há um pouco de oportunidade em carry trade nesses países”, afirmou Chua durante painel em um evento do Citi realizado em São Paulo nesta terça-feira (1º).
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Ela observou que a maioria dos países da região passa por uma desaceleração econômica por razões domésticas, como o Brasil, mas não como resultado direto das disputas comerciais globais.
Embora o crescimento esteja perdendo força, o Brasil não sofre os mesmos impactos que economias mais ligadas ao ciclo externo, como é o caso de países asiáticos e de outros da região.
O México foi citado como um caso à parte, por sua integração com a economia norte-americana.
Chua apontou que o país cresce pouco neste ano e poderá sentir efeitos da desaceleração nos Estados Unidos. Se a economia americana se mantiver resiliente, entretanto, o quadro para o país pode mudar rapidamente.
Uma exceção na região é a Argentina, que tem atraído mais atenção positiva de analistas e investidores e que deve registrar uma aceleração do crescimento econômico neste ano, segundo ela.
Chua destacou que a América Latina costuma responder às condições externas, especialmente ao comportamento do dólar. Em momentos de enfraquecimento da moeda americana e estabilidade nas taxas de juros globais, os mercados latino-americanos tendem a atrair fluxo de capital.
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“A América Latina é muito sensível ao ambiente financeiro global. Portanto, em um ambiente ‘Goldilocks’ [nem aquecido, nem recessivo], em que o dólar está fraco e as taxas de juros apontam para uma redução, esse é um ambiente muito amigável para a América Latina”, disse.
Apesar do momento favorável, Chua ressaltou que esse equilíbrio depende da manutenção de uma política monetária mais branda por parte do Federal Reserve, como é esperado por investidores e economistas, com divergência sobre o timing do relaxamento.
Um eventual fortalecimento do dólar, impulsionado por surpresas positivas na economia americana, poderia reverter parte dos fluxos direcionados à região.
Nesse caso, economias mais dependentes de financiamento externo, como algumas da América Latina, podem ser mais sensíveis a mudanças na percepção de risco global.
Instabilidades devem perdurar
A economista também comentou sobre a política comercial no governo de Donald Trump. Para ela, as tarifas e as mudanças unilaterais nas regras do comércio global vão continuar a ser fonte de instabilidade por um longo período.
“Ainda temos três anos e meio de governo Trump. Embora tenhamos passado pelo auge das tarifas e os temores estejam diminuindo, não é impossível imaginar que isso volte a aparecer mais adiante”, disse a economista. “Sempre existe o risco de que, mais adiante, surja uma nova incerteza.”
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Chua também abordou a situação econômica da China. O Citi revisou para cima a projeção de crescimento do país asiático em 2025, de 4,7% para 5%, apoiado por estímulos fiscais e programas de incentivo ao consumo.
Apesar disso, o cenário do país ainda é marcado por inflação próxima de zero e por dificuldades no setor imobiliário, especialmente fora das grandes cidades.
“Estamos no quinto ano do ciclo de baixa no setor imobiliário, e ainda não vemos um ponto de inflexão claro fora dos grandes centros urbanos”, afirmou.
Para ela, o desempenho da China no curto prazo beneficia mercados emergentes, mas os riscos estruturais permanecem relevantes.
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