Busca por ‘hedge’ em dólar dispara com candidatura de Flávio Bolsonaro

O comportamento mais defensivo mostra que o mercado vê uma maior chance de alta do dólar comparada a uma baixa; `Tem algo peculiar sobre a dinâmica recente do real’, diz Thierry Larose, gestor da Vontobel

Notas de dólar: investidores buscam maior proteção contra uma eventual desvalorização do real. (Foto: Xaume Olleros/Bloomberg)
Por Felipe Saturnino - Josue Leonel
18 de Dezembro, 2025 | 02:09 PM

Bloomberg — Os operadores do mercado financeiro elevaram a busca por proteção no mercado de câmbio diante da visão de que o cenário eleitoral de 2026 traz maiores riscos aos ativos domésticos, em especial após o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência da República em 2026.

Há ainda uma demanda por “hedge” depois da queda de mais de 10% do dólar no acumulado deste ano, mesmo com a piora dos últimos dias.

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O comportamento mais defensivo pode ser medido pelo chamado risk reversal 25-delta, que mostra que o mercado vê uma maior chance de alta do dólar comparada a uma baixa.

O indicador para três meses está próximo dos maiores níveis desde julho de 2020, em 3,9%, o que sugere que há, no momento, uma maior demanda por proteção contra uma eventual desvalorização do real.

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“Tem algo peculiar sobre a dinâmica recente do real. Até a semana passada, o dólar à vista vinha caindo com a ampla fraqueza da moeda e a queda generalizada na volatilidade cambial dos mercados emergentes. No entanto, o indicador-chave de aversão ao risco disparou”, diz Thierry Larose, gestor da Vontobel Asset Management, que fica baseado em Zurique, na Suíça.

“O ‘selloff’ abrupto”, disparado pelo anúncio de Flávio Bolsonaro, “confirma que os mercados se tornaram muito complacentes sobre o que se esperava que seria um ‘carry trade’ bem direto no segundo ano seguido”, diz Larose.

'Risk reversal' sugere demanda por proteção contra alta do dólar | Indicador na máxima de 5 anos aponta que investidores aceitam pagar prêmios maiores para 'hedge' via opções

Na linguagem mais técnica, o risk reversal aponta que os agentes de mercado estão aceitando pagar preços cada vez maiores por opções de compra — que apostam em uma alta do dólar — em comparação com as opções de venda de dólar, que são apostas em queda da moeda. A medida reflete ainda as volatilidades implícitas das opções de compra e de venda do dólar.

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A volatilidade implícita das opções sobre o real em três meses, que também é uma referência para determinar o custo para um operador realizar o hedge no câmbio, estava em níveis comportados até o anúncio de Flávio.

Desde então, disparou para o nível de 12,7%, perto das máximas desde outubro, destoando da dinâmica de volatilidade baixa observada em outras divisas, como peso mexicano e rand sul-africano.

Para Larose, da Vontobel, o recente avanço da volatilidade implícita “esfriou a esperança de um caminho previsível para as eleições”.

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Aposta no real

A Vontobel voltou a comprar real contra o dólar após o ‘selloff’ recente da moeda, segundo Larose.

A gestora havia reduzido em novembro a posição ‘overweight’ — alocação acima da média do índice de referência — no real, com a leitura de que muitos investidores já estavam posicionados em apostas favoráveis à moeda e que a divisa estava potencialmente exposta para uma realização de lucros de fim de ano.

Brendan McKenna, economista para mercados emergentes e estrategista de câmbio do Wells Fargo avalia que a moeda estava mais apreciada do que seria justo. Ele pondera, entretanto, que o posicionamento fundos, comprando na moeda, está “um pouco mais limpo” após o anúncio de Flávio, o que poderia reduzir a pressão sobre a divisa.

“Ainda assim, os riscos políticos e fiscais não desaparecerão, especialmente com a proximidade das eleições de 2026”, disse McKenna. “Acho que o risk reversal alto é justificado e que, conforme esses riscos se materializarem, ele vai continuar a subir mais.”

Proteção

Olga Yangol, chefe de pesquisa econômica e estratégia para mercados emergentes do Crédit Agricole, explica que uma posição comprada em real combinada com uma aposta em risk reversal proporciona proteção “contra surpresas negativas bruscas, que são muito comuns no Brasil”.

“Faz sentido que o prêmio para o risk reversal esteja elevado no contexto atual”, acrescentou Yangol, que recentemente abriu uma recomendação para apostar no real contra o peso colombiano para se aproveitar do ‘carry’ da divisa brasileira.

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