BlackRock alerta para ‘decepção’ com apostas em juros nos EUA

Com visão de que Fed só cortará juros em meados de 2024, gestora prefere títulos de curto e médio prazos, e está “underweight” em Treasuries de longo prazo

Gestora rebaixou para neutra sua visão estratégica de longo prazo para ações de mercados desenvolvidos
Por Anchalee Worrachate
06 de Dezembro, 2023 | 02:52 PM

Bloomberg — A BlackRock diz que o otimismo do mercado quanto ao alcance dos cortes dos juros no próximo ano pode estar indo longe demais e recomenda evitar títulos com vencimento mais longo.

Embora alguns investidores estejam posicionados para que o Federal Reserve comece a reduzir as taxas já no primeiro trimestre, estrategistas da BlackRock esperam que o afrouxamento só seja iniciado em meados do ano.

“Vemos o risco de essas esperanças serem frustradas”, escreveram estrategistas como Wei Li e Alex Brazier. “Juros mais altos e maior volatilidade definem o novo regime.”

Nesse ambiente, a gestora de ativos prefere títulos de curto e médio prazos como fonte de rendimento, mas permanece “underweight” (abaixo da média do mercado) em títulos do Tesouro dos Estados Unidos de longo prazo em sua alocação estratégica, de acordo com o “2024 Global Outlook” publicado nesta semana.

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Como a expectativa é que as taxas permaneçam acima dos níveis pré-pandemia, a BlackRock também rebaixou a sua visão estratégica de longo prazo para ações de mercados desenvolvidos para neutra, citando “valuations” elevados e fraco cenário econômico. Ainda mantém uma posição “overweight” (acima da média do mercado) em empresas relacionadas à inteligência artificial.

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“Os mercados oscilam entre a expectativa de um pouso suave e receio de uma recessão”, escreveram. “Esse não é o ponto. A economia está se normalizando após a pandemia e sendo moldada por fatores estruturais. A desconexão resultante entre a narrativa cíclica e a realidade estrutural alimenta ainda mais a volatilidade.”

As restrições de oferta causadas pela geopolítica, o encolhimento da força de trabalho como consequência do envelhecimento da população e a transição para uma economia de baixo carbono propiciam mudanças que resultarão em menor crescimento, inflação estagnada acima das metas oficiais e maior incerteza, alertou a BlackRock.

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Isso cria o tipo de ambiente volátil onde gestores ativos se destacarão, escrevem os estrategistas.

Fora de sincronia

Ainda assim, as recomendações podem parecer dessincronizadas com os recentes movimentos do mercado.

Ações e títulos, de curto ou de longo prazo, subiram. A volatilidade caiu à medida que traders abraçaram a narrativa de que o Federal Reserve teria encerrado o aperto monetário. Agora o foco está em quando o Fed começará a cortar as taxas e quanto.

Traders reforçaram apostas em cortes dos juros nas últimas semanas em meio a dados que mostraram desaceleração da inflação e da economia. Os mercados monetários implicam atualmente que o Fed vai começar a reduzir as taxas em maio, com cortes de pelo menos 125 pontos-base no próximo ano tanto do banco central dos EUA quanto do Banco Central Europeu (BCE).

O crescente peso da dívida dos EUA é outra razão para evitar Treasuries de longo prazo, disse a BlackRock.

Se as taxas permanecerem perto de 5%, dentro de alguns anos o governo poderá acabar gastando mais em pagamentos de juros do que em benefícios de saúde, escreveram os estrategistas.

Isso poderá levar à uma inflação enraizada e a um crescimento instável, à medida que os bancos centrais tentam responder a uma economia frágil com cortes agressivos nas taxas, como fizeram no passado.

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“Isso aumenta o risco a longo prazo de uma inflação mais elevada, pois os bancos centrais se tornam menos agressivos em relação à inflação”, afirma o relatório. “Também vemos um aumento no prêmio do prazo, ou a recompensa que investidores exigem para ficar com títulos de longo prazo.”

-- Com a colaboração de James Hirai.

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