BC corta Selic em 0,50 ponto e indica cortes na mesma magnitude nas próximas reuniões

Copom afirma que ritmo de corte de 0,50 ponto é o apropriado para manter a política contracionista, o que seria necessário para as expectativas de inflação convergirem

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Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil cortou a taxa básica de juros da economia em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira (31). Assim, a taxa Selic passa a ser de 11,25% ao ano. Este é quinto corte desde que o ciclo de alívio monetário começou em agosto de 2023. A decisão entre os membros do comitê foi unânime.

No comunicado, o Copom afirma que é necessário manter a política monetária contracionista, mas que o corte de juros é compatível com a estratégia. A conjuntura atual, segundo a autoridade, “demanda serenidade”.

O Banco Central também prevê redução de mesma magnitude nas próximas reuniões. O ritmo de corte de 0,50 ponto também foi apontando como o apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para a desinflação.

Parte dos economistas que acompanham o Banco Central têm defendido um ritmo mais forte na redução dos juros, citando movimentos possível de 0,75 ponto, por exemplo.

Em 2023, a inflação encerrou o ano dentro do teto da meta pela primeira vez depois de dois anos seguidos acima do alvo. O centro da meta era de 3,25%, com limite de até 1,5 ponto para cima e para baixo.

Já para 2024, no entanto, o centro da meta é de 3%, também com o limite de 1,5 ponto. O mercado financeiro espera que a inflação neste ano fique em 3,8%. Assim, o Banco Central reconheceu que há uma ancoragem das expectativas apenas parcial.

Entre os riscos, o BC cita uma eventual pressão inflacionário global e a inflação específica do setor de serviços no país, que pode permanecer forte.

Quanto ao fiscal, o Copom reforçou mais uma vez a importância de o governo federal perseguir a meta do novo arcabouço.

Nos Estados Unidos, também nesta quarta-feira, o Federal Reserve manteve os juros e disse que ainda não é hora de começar um ciclo de cortes. Em entrevista coletiva depois do anúncio da decisão, o presidente da instituição Jerome Powell reforçou a ideia e disse que é improvável um corte na próxima reunião, em março.

Veja o comunicado na íntegra

O ambiente externo segue volátil, marcado pelo debate sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e por sinais de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, assim como as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,2% em 2024 e 3,8% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

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