Bloomberg — A União Europeia publicará o texto final de seu acordo de livre comércio com as economias sul-americanas do Mercosul nesta quarta-feira (3), em meio à corrida para fechar acordos comerciais com parceiros que pensam da mesma forma, em face das tensões renovadas com os Estados Unidos.
A Comissão Europeia, que lida com questões comerciais para a UE, acrescentará medidas de salvaguarda adicionais ao acordo que foi provisoriamente acertado em dezembro para apaziguar os críticos, de acordo com pessoas familiarizadas com o processo que falaram com a Bloomberg News.
O acordo precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e seus 27 estados-membros, embora uma maioria qualificada desses estados seja suficiente para aprovar o acordo. Um pequeno número de países, liderados pela França, ameaçou inviabilizar a adoção do acordo.
A medida de salvaguarda proposta para os produtos agroalimentares monitoraria os volumes, os preços e as participações de mercado em cada estado membro, disseram as pessoas, pedindo para não serem identificadas ao discutir conversas privadas.
Leia também: Efeito Trump: Xi e Modi buscam reconstruir laços diante de tarifas dos EUA
O mecanismo estabelecerá critérios que acionariam medidas para controlar as importações do Mercosul se os volumes aumentassem em 10% ou os preços caíssem em 10%, acrescentaram as pessoas. Um porta-voz da comissão não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

A UE e as nações do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) concluíram as conversações sobre um acordo preliminar em dezembro, após mais de duas décadas de negociações.
A ratificação do acordo criaria um mercado integrado de 780 milhões de consumidores, impulsionando o setor manufatureiro da UE, que se encontra em dificuldades, e a vasta indústria agrícola do Mercosul. Mas países como a França temem o impacto do acordo sobre o setor agrícola europeu.
As salvaguardas adicionais poderiam ser suficientes para que Paris reconsiderasse sua firme oposição ao acordo e consideraria que a comissão levou em conta suas preocupações ao propor um mecanismo robusto, disse uma das pessoas.
A França se opôs ao acordo, argumentando que ele exporia os agricultores europeus à concorrência desleal de seus pares sul-americanos que enfrentam regulamentações supostamente menos rigorosas, enquanto a Polônia e a Irlanda também expressaram críticas. A ratificação exigirá o apoio de uma maioria qualificada dos Estados membros.
A Itália manteve uma posição ambígua sobre o acordo e disse que não o apoiará a menos que haja mais garantias para os agricultores e seu setor agrícola.
Carros e carne bovina
Os exportadores europeus de automóveis também se beneficiarão da remoção gradual das atuais tarifas de 35%. Além disso, as tarifas do Mercosul sobre produtos industriais, como peças de automóveis, maquinário, produtos químicos, roupas e têxteis, também seriam eliminadas para os exportadores da UE.
No total, os exportadores da UE economizarão mais de 4 bilhões de euros (US$ 4,7 bilhões) em tarifas por ano, de acordo com estimativas da Comissão.
Em troca, a UE concederá acesso limitado aos produtos agrícolas dessa região, incluindo alguns produtos agroalimentares sensíveis, como carne bovina, aves e açúcar.
A UE sinalizou um interesse renovado em firmar novos acordos comerciais com países como Índia, Indonésia e Tailândia para diversificar em relação aos Estados Unidos, que atingiram a UE com tarifas comerciais.
A UE também deve anunciar os detalhes de um acordo comercial com o México na quarta-feira. O acordo com o Mercosul fortaleceria a presença da UE em uma região onde a China emergiu como um importante fornecedor industrial e o principal comprador de commodities.
O acordo também beneficiará o Brasil, a maior economia do bloco do Mercosul. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos maiores defensores do acordo desde que assumiu o cargo em 2023.
As exportações relacionadas à agricultura para a UE podem crescer US$ 7,1 bilhões entre 2024 e 2040, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Tribunal dos EUA considera tarifas de Trump ilegais, mas mantém taxas em vigor
Déjà vu no campo: produtores dos EUA enfrentam falta de demanda da China após tarifas
EUA e UE firmam acordo comercial que prevê redução de tarifas sobre carros e aço
©2025 Bloomberg L.P.