Reformas de Milei acirram batalha entre bancos e fintechs na América Latina

Projeto do presidente argentino prevê que trabalhadores possam receber salários em carteiras virtuais, o que gerou críticas de credores tradicionais do país, em uma disputa que se repete também no México e em outros países do continente

O governo publicará sua proposta de reforma trabalhista em 9 de dezembro, um dia antes do início oficial do novo Congresso
Por Ignacio Olivera Doll - Maria Clara Cobo
04 de Dezembro, 2025 | 09:02 AM

Bloomberg — O plano de reforma trabalhista do presidente argentino, Javier Milei, reacende tensões antigas entre os bancos do país e suas plataformas de tecnologia financeira, em rápido crescimento.

Entre as diversas mudanças, os trabalhadores assalariados poderão escolher se desejam receber seus salários em uma carteira virtual ou em um banco, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto ouvida pela Bloomberg News.

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Atualmente, apenas os bancos estão autorizados pela lei argentina a receber depósitos diretos.

A lei poderá beneficiar empresas como o Mercado Pago — a plataforma de pagamentos da gigante do e-commerce Mercado Livre — enquanto os bancos tradicionais, incluindo o Santander, BBVA e Banco Galícia, podem ser afetados.

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O governo publicará sua proposta de reforma trabalhista em 9 de dezembro, um dia antes do início oficial do novo Congresso. Mesmo assim, isso não impediu que associações do setor, que representam tanto bancos quanto fintechs, divulgassem comunicados conflitantes, com críticas mútuas.

Os bancos afirmaram que as fintechs seriam destinos mais arriscados para o recebimento de salários e pensões, e argumentam que elas enfrentam menos fiscalização por parte dos reguladores argentinos.

O desvio de uma parcela maior dos fluxos de pagamento para carteiras digitais também drenaria o financiamento estável dos bancos, restringiria sua capacidade de conceder empréstimos a empresas e famílias e aumentaria os riscos à estabilidade financeira, de acordo com o comunicado.

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Em resposta, o grupo das fintechs disse que os bancos tentavam defender um “negócio cativo”, e não proteger os poupadores.

As contas digitais são supervisionadas pelo Banco Central da Argentina, 100% dos fundos dos usuários ficam em contas segregadas dos ativos da empresa e nunca houve um caso em que um provedor de pagamentos licenciado tenha deixado de devolver o dinheiro de um cliente, segundo um comunicado.

O Ministério da Desregulamentação de Milei, que lidera os esforços de reforma, não respondeu a um pedido de comentário da Bloomberg News.

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Diminuição dos depósitos

A disputa reflete tensões mais amplas na América Latina, à medida que as fintechs, em rápida expansão, buscam ocupar serviços tradicionalmente dominados por bancos.

No México, diversas instituições de crédito digital têm corrido para obter licenças bancárias completas para poderem oferecer contas-salário. Isso contrasta com o plano da Argentina, que permitiria que carteiras digitais recebessem salários sem primeiro passar pelo sistema bancário formal.

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Se aprovada, a medida provavelmente reduziria a base de depósitos da qual os bancos argentinos dependem há décadas, segundo observadores do setor. Enquanto as contas correntes do país geralmente oferecem juros baixos ou inexistentes sobre os depósitos, muitas plataformas fintech pagam juros em torno de 25%, próximas à taxa de inflação do país.

Esta não é a primeira vez que as duas partes se enfrentam. Nos últimos anos, os bancos acusaram o Mercado Pago de “conduta abusiva” em relação aos pagamentos por QR Code.

Meses depois, o Mercado Pago alegou que os bancos agiam como um “cartel”. Um representante do Mercado Pago não se manifestou sobre o assunto.

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