EUA preparam resgate de US$ 20 bilhões para ajudar Milei em eleições na Argentina

Secretário do Tesouro, Scott Bessent, classificou o socorro financeiro de ‘ponte para a eleição’ como tentativa de recuperar a popularidade do presidente antes de votação legislativa em 26 de outubro

Milei y Trump
Por Daniel Flatley - Patrick Gillespie
24 de Setembro, 2025 | 03:52 PM

Bloomberg — Os Estados Unidos discutem uma linha de swap de US$ 20 bilhões com a Argentina e estão prontos para comprar títulos de dívida em dólar do país, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.

Isso garante ao presidente Javier Milei “uma ponte” até as importantes eleições legislativas de meio de mandato no próximo mês.

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O movimento mostra a disposição do presidente Donald Trump em ajudar seu aliado libertário a afastar uma corrida contra a desvalorização do peso.

Os dois líderes e suas equipes se encontraram na terça-feira (23) à margem da Assembleia Geral da ONU em Nova York, e Milei imediatamente agradeceu ao seu colega dos EUA pelo “firme apoio” nesta quarta-feira (24).

“O Tesouro está atualmente em negociações com autoridades argentinas para uma linha de swap de US$ 20 bilhões com o banco central”, disse Bessent em uma publicação no X. “Estamos trabalhando em estreita coordenação com o governo argentino para evitar volatilidade excessiva.”

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NEW YORK, NEW YORK - SEPTEMBER 23: U.S. President Donald Trump (R) shakes hands with President of Argentina Javier Milei during a bilateral meeting at the 80th session of the UN’s General Assembly (UNGA) at the United Nations headquarters on September 23, 2025 in New York City. This year’s theme for the annual global meeting is:“Better together: 80 years and more for peace, development and human rights.” (Photo by Chip Somodevilla/Getty Images)

Os mercados argentinos, que foram afetados nas últimas semanas após o fraco desempenho de Milei em uma eleição provincial, subiram nesta semana em antecipação ao apoio dos EUA, sinalizado pela primeira vez na segunda-feira.

O peso subiu 2,4%, enquanto os títulos em dólar saltaram em toda a curva. Notas com vencimento em 2035, algumas das mais líquidas, subiram cerca de 4 centavos de dólar, apagando perdas observadas desde a eleição de Buenos Aires.

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“Isso elimina a incerteza sobre as dificuldades de liquidez geradas pelo programa econômico até agora”, disse Federico Filippini, economista-chefe da Adcap Grupo Financiero.

“O anúncio de que o Tesouro estaria disposto a comprar diretamente dívida soberana aumenta significativamente a probabilidade de uma queda do risco-país a ponto de o governo poder emitir dívida no início de 2026.”

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Em declarações à Fox News na manhã desta quarta-feira, Bessent chamou a ajuda de “ponte para a eleição”, referindo-se às eleições de meio de mandato na Argentina, em 26 de outubro, nas quais Milei busca ampliar a presença de seu partido no Congresso, depois que os parlamentares, nas últimas semanas, tentaram derrubar seus vetos a projetos de lei de despesas.

“Não acho que o mercado tenha perdido a confiança nele, acho que o mercado está olhando para o espelho retrovisor e se deparando com décadas — cerca de um século — de terrível má gestão argentina”, afirmou Bessent.

Uma autoridade argentina vê o apoio como um momento para Milei mudar sua política cambial para que o banco central possa reconstruir suas reservas cambiais esgotadas.

Na semana passada, autoridades monetárias gastaram mais de US$ 1 bilhão para manter o peso dentro de uma faixa de negociação estabelecida em abril como parte do mais recente acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Isso ajuda a corrigir as expectativas”, disse Daniel Marx, ex-secretário da Fazenda argentino que agora é diretor da consultoria Quantum Finanzas. “O ideal agora é avançar o mais rápido possível em direção a um mecanismo mais aberto e baseado no mercado” de câmbio, acrescentou.

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Este é o segundo grande alívio financeiro para a Argentina sob o governo Trump, à medida que seu governo assume um papel mais proeminente na política latino-americana.

Durante seu primeiro mandato, em 2018, Trump pressionou o FMI a aprovar um programa inicial de US$ 50 bilhões para o país sob o então presidente Mauricio Macri, um acordo que rapidamente se desfez.

Desde então, o FMI fechou mais dois acordos com a Argentina, incluindo o pacote de US$ 20 bilhões que Milei obteve neste ano.

Agora em seu segundo mandato, Trump alimentou as tensões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ameaçou novas tarifas à presidente mexicana Claudia Sheinbaum, e ordenou ataques a barcos pertencentes a supostos narcotraficantes no Caribe como um aviso a Nicolás Maduro, da Venezuela. Enquanto isso, Milei fez repetidas viagens aos EUA para elogiar Trump publicamente.

Mesmo antes de Bessent detalhar o apoio financeiro nesta quarta-feira, economistas dos EUA criticaram Washington por apoiar as políticas econômicas de Milei depois que a Argentina falhou repetidamente em cumprir integralmente seus programas com o FMI, enquanto sua dívida soberana aumentou três vezes desde 2001.

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