Agro argentino espera que medidas de Milei aumentem safra de trigo em 60%

Desvalorização do peso e fim de impostos sobre exportação podem alavancar produção. Expectativa do setor também é de que volta das chuvas contribua

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Por Jonathan Gilbert - Clarice Couto
12 de Dezembro, 2023 | 05:37 PM

Bloomberg — A ascensão de Javier Milei, recém-eleito presidente da Argentina, abriu a perspectiva de uma expansão rápida na produção de trigo no maior exportador sul-americano do grão.

A promessa de Milei de desfazer controles cambiais que limitam as receitas agrícolas e o objetivo de abandonar tarifas de exportação agrícola devem estimular o aumento no cultivo. A produção pode aumentar mais de 60% na próxima safra, chegando a até 25 milhões de toneladas métricas, segundo Mariano D’Amore, produtor de grãos e membro do conselho da Bolsa de Grãos de Bahia Blanca, na região que é forte produtora de grãos na Argentina.

Há precedentes históricos para esse tipo de aumento. Da última vez que a Argentina desregulamentou seu mercado de trigo, há oito anos, quando o então presidente Mauricio Macri eliminou limites e impostos sobre exportações, a produção aumentou 52% e continuou subindo para novos recordes. O salto sob Milei pode ser ainda maior porque as colheitas também estarão se recuperando de uma grave seca que prejudicou a produção este ano.

O setor agrícola da Argentina representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto. Antes da eleição de Milei, alguns agricultores se sentiam prejudicados por governos que retiraram cerca de US$200 bilhões dos produtores apenas nas últimas duas décadas para pagar orçamentos inchados, sustentar o peso argentino e controlar a inflação.

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“As mudanças prometidas são radicais em comparação com os governos anteriores, então as expectativas entre o setor agrícola são enormes”, disse Alejandro Castro, presidente da Câmara de Arbitragem de Grãos de Bahia Blanca.

Mais produção da Argentina provavelmente pressionará o mercado mundial de trigo, que já está sob pressão devido às grandes ofertas do principal exportador, a Rússia. Os contratos futuros de trigo estão cerca de 20% mais baixos este ano nas negociações em Chicago. A queda no mercado de grãos ajudou a conter a inflação global de alimentos.

Na Argentina, uma desvalorização do peso em relação ao dólar provavelmente incentivaria mais exportações, uma vez que os embarques rendem dólares em troca. D’Amore da bolsa de Bahia Blanca disse que espera uma taxa de câmbio melhor para vender commodities, além de pelo menos uma redução parcial nos impostos de exportação.

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O Ministro da Economia, Luis Caputo, transmitirá uma mensagem gravada sobre suas primeiras medidas na terça-feira à noite, após as 17h, horário local, de acordo com o porta-voz-chefe do presidente. Caputo também deverá se reunir com grupos de exportadores de commodities na terça-feira após seu anúncio televisivo.

Na administração de Macri, a desregulamentação incentivou os agricultores a aumentarem a área cultivada de trigo, e D’Amore espera que isso aconteça novamente. Isso marcaria uma reversão após os investimentos diminuírem nos últimos anos.

Embora os preços do trigo estejam em baixa este ano, ainda há incerteza sobre os suprimentos da região do Mar Negro devido à guerra da Rússia na Ucrânia. Ao mesmo tempo, a China tem comprado importações recentemente. Colheitas abundantes da Argentina ajudariam a aumentar as reservas globais.

Aumentos na área cultivada de trigo na Argentina provavelmente ocorreriam às custas da soja. Muitos agricultores esperam que Milei elimine os impostos de exportação para trigo e milho, mas os mantenha para a soja, como ocorreu sob Macri.

Além disso, a perspectiva de um clima melhor pode beneficiar os agricultores após várias secas consecutivas. Mais chuvas impulsionadas pelo El Niño ajudariam na safra de trigo de 2024-2025, que é plantada principalmente em junho e julho.

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