Iate compartilhado: empresários aderem a modelo em busca de luxo e custo reduzido

Modelo de copropriedade naval permite acesso a embarcações de luxo com marinheiro dedicado e cinco navegações mensais; sistema atrai empreendedores que buscam sofisticação, comprometendo menos o orçamento

Okean 52
04 de Outubro, 2025 | 05:54 PM

Bloomberg Línea — A decisão de comprar uma embarcação de R$ 12 milhões deixou de ser exclusividade de indivíduos com fortunas consolidadas. Empresários brasileiros bem-sucedidos descobriram uma fórmula que permite ter acesso a iates, comprometendo menos o orçamento: dividir a propriedade entre sócios, mantendo os privilégios da navegação exclusiva com custos diluídos.

O modelo atrai executivos e empreendedores que buscam sofisticação náutica sem os pesados encargos tradicionais da posse integral. Com direito a cinco navegações mensais, marinheiro dedicado e estrutura de manutenção, o sistema oferece a experiência de propriedade por uma fração do investimento, liberando capital para outras oportunidades de negócio.

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Essa foi a alternativa escolhida por Pablo Ramires, empresário do setor imobiliário de Santa Catarina, que decidiu adquirir uma embarcação por meio do sistema de compartilhamento após anos observando o mercado náutico.

“Tinha vontade de comprar, mas não tinha a certeza em razão dos custos”, disse ele à Bloomberg Línea, quando questionado sobre suas hesitações iniciais com despesas de manutenção, marinheiro e de operação.

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O primeiro contato de Ramires com embarcações do tipo ocorreu em 2018, quando navegou em uma de 70 pés. Embarcações a partir de 40-50 pés (12-15 metros) com múltiplas cabines, flybridge (deck superior) e equipamentos de luxo são classificadas como iates.

Segundo ele, a experiência ficou na memória e ele passou a se interessar mais pelo setor náutico. “Ficava olhando as embarcações. Só que para mim era algo um pouco distante. Sempre gostei, mas tinha muito receio dos custos”, afirmou.

A oportunidade surgiu por meio da empresa responsável pelo compartilhamento. Uma embarcação de R$ 12 milhões, por exemplo, é vendida em quatro cotas de R$ 3 milhões, para quatro proprietários diferentes.

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O modelo de negócio cria uma estrutura societária em que cada cotista se torna sócio. “Eles criaram uma empresa, da qual sou sócio, e o ativo dessa empresa é a embarcação”, contou ele sobre a arquitetura jurídica que facilita futuras transações de compra ou venda de participações adicionais.

Ramires adquiriu uma cota da Okean 52, embarcação que custa a partir de R$ 11,5 milhões, no preço de tabela. Com os opcionais escolhidos, incluindo o estabilizador Seakeeper, o barco foi avaliado em R$ 12 milhões.

“Em vez de comprar um barco de 40 pés, pude comprar uma de 52, com um quarto do custo e um barco novo”, disse o empresário sobre a vantagem financeira do compartilhamento.

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O pagamento foi estruturado em cinco parcelas, com início antes da entrega. O quitamento total ocorreu em março, dois meses após a entrega em janeiro.

Modelo em expansão

O modelo de compartilhamento de embarcações começa a ganhar força no Brasil. Em junho, o Grupo Okean iniciou as operações de seu programa, chamado de Concierge & Co, que oferece acesso compartilhado a embarcações de até 60 pés.

Em recente entrevista à Bloomberg Línea, Roberto Paião, CEO do Grupo Okean, explicou que o projeto funciona como ferramenta comercial para ativar produção e vendas, utilizando Itapema, em Santa Catarina, como laboratório antes da expansão para outros mercados.

“Uma embarcação tem muita disponibilidade, pois o barco fica parado muito tempo”, disse Paião sobre a lógica econômica do compartilhamento para iates menores.

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A clientela do estaleiro inclui industriais, jogadores de futebol, artistas e empresários do mercado financeiro, que são motivados pela experiência marítima tanto para lazer quanto para fechamento de negócios em ambiente diferenciado.

A procura pelo modelo de propriedade compartilhada ocorre em um mercado náutico brasileiro que passa por transformação significativa, com expansão de 60% no segmento de iates entre 70 e 100 pés desde meados de 2024.

A mudança representa uma migração estrutural no perfil de consumo, com diminuição proporcional na procura por barcos até 60 pés e crescimento da demanda por embarcações acima de R$ 25 milhões, que podem alcançar valores entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões.

Em 2024, foram produzidos 4.500 barcos pela indústria náutica no Brasil, sendo que 10,8% das unidades (484 embarcações) foram exportadas para diferentes destinos.

Com 8.000 quilômetros de costa, o país apresenta potencial de crescimento significativo, embora a infraestrutura para acomodar embarcações maiores ainda represente um desafio.

Cinco saídas por mês para cada cotista

Para quem adere ao modelo compartilhado das embarcações, o sistema de agendamento garante cinco saídas mensais por cotista, sempre de quarta a domingo. O planejamento antecipado permite organização familiar e eventual troca de datas entre sócios quando necessário, segundo o empresário Pablo Ramires, de Santa Catarina.

A embarcação do empresário e seus sócios fica em uma marina de Itapema, município do litoral catarinense entre Balneário Camboriú e Bombinhas, com custos operacionais inferiores ao orçamento inicial.

“Conseguimos essa marina por um terço do valor. Então o nosso custo fixo hoje está bem baixo”, disse ele, sobre a redução de despesas que surpreendeu positivamente os proprietários.

A primeira pernoite criou memória marcante para a família. “A primeira vez que dormimos no barco, que acordamos cedo, Naquele dia estava com 3 metros de profundidade e dava para ver o fundo ali do oceano. Uma água bem clarinha de manhã cedo”, descreve o momento que consolidou a experiência náutica familiar.

O compartilhamento também proporciona acesso a novos círculos sociais. O empresário disse que a experiência o levou a conhecer e fazer amizades com outras famílias, a partir de um networking natural que surge durante as navegações e ancoragens próximas.

Ele também tem aproveitado para fazer uso corporativo de forma estratégica, levando clientes para passeios após fechamento de negócios. “O barco gera um sentimento de gratidão, que penso que isso é imensurável”, disse Ramires. “É como se fosse um bônus, e aí isso acaba gerando outros negócios.”

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