Como um condomínio de bilionários em Paraty se tornou rota líder em helicópteros

Heliponto do Condomínio Laranjeiras se tornou o principal destino litorâneo da Revo, plataforma digital para voos de helicópteros; ‘Imagine a Fazenda Boa Vista ou a Quinta da Baroneza com uma praia’, disse o CEO, João Welsh, à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Paraty, um paraíso do litoral do Rio de Janeiro, pontuado por dezenas de ilhas e Mata Atlântica, nunca abrigou tantos poucos e decolagens de helicópteros como agora.

Próximo do centro histórico da cidade, o Condomínio Laranjeiras, que reúne mansões de bilionários brasileiros, se tornou uma das principais rotas das aeronaves da Revo, plataforma digital de mobilidade urbana do grupo português OHI (Omni Helicopters International) lançada há cerca de dois anos.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Revo, João Welsh, revelou que o resort de luxo possui um heliponto usado pela companhia para embarques e desembarques de sua frota de helicópteros e está entre os três principais destinos dos voos realizados a partir de São Paulo.

“Uma das surpresas que tivemos desde o lançamento da Revo em 2023 foi ver que bilionários, que possuem seus próprios jatinhos, também buscam nossos serviços”, afirmou Welsh no estande da companhia no aeroporto privado Catarina, da JHSF (JHSF3), em São Roque, no interior de São Paulo.

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O executivo português mantém o sigilo sobre os nomes dos seus clientes. Ele disse apenas que o heliponto do Condomínio Laranjeiras é o segundo mais utilizado em todo o país pela plataforma, atrás apenas da rota entre a avenida Faria Lima e o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

“Nosso destino número 1 de litoral é Laranjeiras, um condomínio fechado ao lado de Paraty. Imagine a Fazenda Boa Vista ou a Quinta da Baroneza com uma praia”, descreveu o CEO da Revo.

O resort de luxo de Paraty abriga ou já abrigou mansões de membros de famílias bilionárias como Setubal e Villela (Itaú), Marinho (Globo), Moraes (Votorantim), Saad (Bandeirantes), Camargo (Construtora Camargo Corrêa), Klabin (da indústria homônima de celulose e papel) e Klein (Casas Bahia), entre outras, segundo uma reportagem da revista Piauí publicada em julho de 2021.

Distante 25 km do centro histórico de Paraty, o condomínio projetado no início da década de 1970 ocupa uma área de 1.131 hectares, sendo 95% são cobertos por Mata Atlântica, em uma planície entre a montanha e o mar.

O CEO da Revo contou ainda que outros destinos litorâneos com demanda ficam localizados no Estado de São Paulo, como a Praia de Juquehy e Ilhabela, no litoral norte, e Guarujá, na Baixada Santista - que tem no Jardim Acapulco o seu condomínio considerado mais exclusivo e de casas mais caras.

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“Percebemos o fenômeno da terceira casa. São famílias que moram na capital, possuem uma segunda residência no campo, na Fazenda Boa Vista ou no Quinta da Baroneza. E a terceira casa fica na praia. Para chegar até ela, preferem ir de helicóptero”, explicou Welsh.

O Laranjeiras não é o primeiro condomínio residencial a dispor de voo da Revo. O primeiro foi o Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, a cerca de 100 km da capital paulista. Hoje é a terceira principal rota da Revo.

O empreendimento da JHSF, próximo ao seu aeroporto privado Catarina, se tornou também uma espécie de cidade de bilionários e já recebeu até Elon Musk, o homem mais rico do mundo, que aterrissou em seu Gulfstream G650ER, um jato estimado em US$ 70 milhões, em visita a um evento no Hotel Fasano Boa Vista em maio de 2022.

Outro heliponto movimentado, segundo Welsh, é o da Quinta da Baroneza, que fica em Bragança Paulista, a cerca de 90 km de São Paulo.

Demanda com terminal VIP do BTG

Nos dias úteis, a Revo se concentra em voos que permitem que executivos do principal corredor financeiro do país economizem tempo que perderiam no intenso trânsito da capital paulista e seus arredores.

A rota com origem ou destino no aeroporto de Guarulhos usa o heliponto do edifício Internacional Plaza II, na esquina da Faria Lima com Juscelino Kubistchek, e também o do Cidade Jardim Continental Tower, na marginal Pinheiros.

O condomínio residencial de Alphaville, em Barueri, na Grande São Paulo, também possui uma base usada pelos helicópteros da Revo.

A inauguração do terminal privado do BTG Pactual (BPAC11) no aeroporto de Guarulhos em dezembro também contribuiu para a liderança do trajeto entre as operações da plataforma digital, segundo o CEO da Revo.

“O terminal do BTG fala com nosso público. Hoje a rota Faria Lima-Guarulhos representa de 20% a 30% dos nossos voos, dependendo da época. O voo dura entre 8 e 10 minutos e custa, em média, R$ 2.500. Prevalece a venda por assento. É nossa rota que cresce mais rápido”, disse Welsh.

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Os helicópteros da Revo pousam e decolam do pátio privado do aeroporto paulista, o mais movimentado do país. Se o cliente for do BTG Pactual, ele encontra um carro preto modelo Volvo à espera no terminal do banco para deixá-lo na escada do avião ou no finger (ponte de embarque), se for o caso.

Próxima rota: avenida Paulista

A Revo, que está em seu segundo ano de operação, ainda não atingiu breakeven, segundo Welsh.

“Nosso investimento mira o longo prazo. Não tínhamos expectativa de chegar ao segundo ano já no breakeven”, explicou o CEO.

Ele apontou a experiência de 25 anos do Grupo OHI na aviação como um dos trunfos da Revo. No Brasil, o conglomerado português atua na logística do setor de petróleo e gás, com o transporte de pessoal em alto-mar até as plataformas da Petrobras (PETR4), por exemplo.

“Os bilionários do [condomínio] Laranjeiras conhecem a importância da segurança na aviação, pois possuem suas próprias aeronaves. Quando decidem viajar com a Revo, significa que eles confiam no nosso serviço”, disse Welsh.

O próximo passo da companhia é encontrar e negociar um heliponto na região da avenida Paulista, outro importante corredor de instituições financeiras, industriais e culturais da capital paulista.

Nesse trabalho, o CEO vê detalhes como a área do heliponto, já que a Revo precisa de espaço para o concierge de atendimento e a espera dos clientes antes do voo.

No bairro nobre dos Jardins, nem todos os helipontos estão disponíveis. É o caso da base do Hotel Emiliano, na rua Oscar Freire, um dos mais movimentados da região, mas disponível exclusivamente para os hóspedes.

Além de São Paulo e o litoral de Paraty, a Revo também voa para a capital fluminense, mas apenas para o aeroporto Santos Dumont, perto do centro.

No Rio, um dos preferidos dos passageiros de altíssima renda é o aeroporto de Jacarepaguá, mais perto de alguns dos bairros frequentados por esse público, como a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes, segundo o CEO da plataforma de fretamento Flapper, Paul Malick.

Para aumentar a visibilidade da Revo com seu público, o Welsh disse apostar na imagem de celebridades que são naturalmente influenciadores, com nomes como Sig Bergamin, Álvaro Garnero, Fabi Saad e Carol Bassi.

“Não temos a intenção de ampliar nosso grupo de embaixadores. Estamos satisfeitos com as pessoas que estão nos ajudando a construir a marca e o serviço”, disse o CEO.

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