Bloomberg — Para os surfistas de São Paulo, pegar ondas era tipicamente um feito logístico que exigia saídas de manhã cedo para praias a pelo menos 80 quilômetros de distância, a fim de evitar o trânsito e a possibilidade de decepções com as condições do mar na costa atlântica.
Mas agora — pelo menos para os financeiramente afortunados — eles terão dois novos clubes concorrentes, com piscinas de ondas, que serão inaugurados no segundo semestre deste ano em ambos os lados do rio Pinheiros, que até recentemente frequentemente cheirava a esgoto.
Os projetos, a apenas seis quilômetros de distância um do outro, oferecem aos indivíduos e suas famílias acesso a um novo e raro clube social na cidade de 471 anos, com atividades que vão além das ondas artificiais, incluindo tênis, squash, simulador de esqui, pista de skate, spa e restaurantes.
O preço atual — que vem aumentando — para uma família de quatro pessoas varia de R$ 700 mil no Beyond the Club a R$ 1 milhão no São Paulo Surf Club, da JHSF (JHSF3).
Leia também: Clubes de elite chegam a cobrar mais de R$ 700 mil de novos sócios em São Paulo
Embora as associações de clubes sejam populares entre os profissionais, especialmente no setor financeiro, é um hobby caro para uma cidade onde a renda média anual é de cerca de R$ 66.000.
“A tecnologia ainda é muito cara”, disse Oscar Segall, sócio-fundador e chefe da KSM Realty, a construtora por trás do Beyond the Club. “Mas os primeiros Teslas e iPhones também eram. No mundo, existem 37.000 campos de golfe, mas apenas 22 piscinas de ondas. Isso tem potencial para 10.000 globalmente. Todo mundo quer surfar.”
E o Brasil é louco por surfe.
Conveniência e luxo
Apesar de não ter muitas ondas de nível mundial ao longo de seus 7.450 quilômetros de litoral, cerca de 30% dos atletas do circuito da World Surf League (WSL) são brasileiros, enquanto sete dos últimos 10 campeões na categoria masculina também são do país sul-americano mais famoso pelo futebol e pelo samba.
A diferença agora é que as incorporadoras de luxo estão aproveitando a demanda para incluir piscinas de ondas entre as comodidades para clientes de alta renda.
Isso significa que um banqueiro, por exemplo, pode começar o dia surfando no clube às 6h, antes de uma curta viagem de carro até o trabalho na avenida Faria Lima, ou dispensar o almoço reforçado para tomar um açaí e pegar algumas ondas ao meio-dia.
Em essência, é uma solução para clientes com mais dinheiro do que tempo. Também é atraente tanto para iniciantes quanto para profissionais — e mais fácil de navegar do que lidar com as marés altas em mar aberto.
“Em uma grande metrópole, trouxemos um clube de surfe para onde as pessoas estão a apenas 10 minutos do coração de São Paulo, em frente a uma ponte icônica”, disse Augusto Martins, CEO da JHSF Participações, durante um tour pelo local. “Estamos focados em empreendimentos de luxo com serviços exclusivos e qualidade.”
Leia também: Clubes de golfe avançam no Brasil e chegam a cobrar R$ 650 mil de novos sócios
Custo de R$ 1,4 bilhão
O Beyond the Club afirmou que o investimento no projeto é de cerca de R$ 1,4 bilhão, com uma expectativa de vendas totais de R$ 2,3 bilhões. Serão vendidos no máximo 3.000 títulos, das quais quase 60% já foram adquiridos.
O projeto também contará com um heliponto para quem busca evitar o infame congestionamento de São Paulo.
Martins, da JHSF, não quis fornecer números sobre investimento, vendas ou assinaturas disponíveis ou vendidas, citando as restrições por ser uma empresa de capital aberto.
Até surfistas que moram no Rio de Janeiro, que ostenta vistas espetaculares e praias famosas como Ipanema e Copacabana, adquiriram assinaturas dos clubes de São Paulo como forma de aproveitar a disponibilidade e a consistência de ondas simuladas de qualidade.
Pelo menos um empresário do estado de Mato Grosso do Sul, com forte presença agrícola e a mais de 960 quilômetros da costa, também é membro do projeto da JHSF.
Em um dia frio recente de final de maio, ele saiu de seu primeiro teste de surfe radiante. “Isso é alucinante”, disse Neif Salim Neto, de 46 anos. “Venho todo mês a São Paulo a trabalho. Precisamos de uma dessas onde eu moro.”
Gabriel Medina, tricampeão mundial que se juntou ao Beyond the Club como sócio e embaixador da marca, disse que “é uma loucura o que o Brasil está fazendo com piscinas de ondas” enquanto se preparava para entrar na água ao lado do músico brasileiro L7nnon.
Além das construtoras locais, também há empresas globais concorrentes especializadas em tecnologia de ondas sendo apresentadas nos clubes.
Mercado em crescimento
A Wavegarden, fundada por uma família basca da Espanha, construiu a piscina no Beyond the Club. A American Wave Machines, fundada por uma família no sul da Califórnia, com sua tecnologia PerfectSwell, está no Surf Club.
“O Brasil é o mercado mais importante do mundo para nós no momento”, disse Fernando Odriozola, da Wavegarden, em entrevista à Bloomberg News. “Criamos um novo ativo que está agregando valor a muitos empreendimentos imobiliários.”
Uma piscina de ondas da Wavegarden, com sede em San Sebastián, pode custar entre € 10 milhões e € 35 milhões (US$ 11,5 milhões e US$ 40,2 milhões), disse Odriozola.
A empresa tem 60 projetos em todo o mundo, sendo 10 já em funcionamento, 10 em construção e outros 40 em estudos de viabilidade com compromissos financeiros.
A empresa trabalhou anteriormente com Segall, um veterano da área de incorporação imobiliária, quando ele incorporou uma piscina de ondas no condomínio fechado Fazenda da Grama, localizado no interior de São Paulo, para criar a “Praia da Grama” durante a pandemia.
No Brasil, a Wavegarden planeja uma praia artificial com piscina de ondas em Goiás juntamente com diversos outros condomínios fechados. Globalmente, eles têm planos para outros em Madri, Virginia Beach e Coachella, disse Odriozola.
Segall espera levar a marca Beyond the Club para o mundo todo, imaginando uma associação global com acesso a vários locais.
Leia mais: De parceira das maiores maratonas à relação com CEOs: a estratégia da TCS na corrida
A AWM construiu uma piscina de ondas em Waco, no Texas, há cerca de sete anos, seguida por um projeto no Japão, antes dos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, que incorporou o surfe como esporte pela primeira vez.
Em seguida, trabalhou com a JHSF em seu condomínio fechado Fazenda Boa Vista para uma piscina de ondas, antes de se voltar para o projeto na cidade de São Paulo.
Eles estão prestes a inaugurar um projeto na China e desenvolver outro em Utah.
Willy McFarland, chefe de desenvolvimento de negócios da AWM e filho dos fundadores, disse que eles “desvendaram o segredo do surfe divertido e de alta performance”, que é “viciante e eufórico”, acrescentando que as pessoas às vezes choram ao sair da água após o primeiro tubo.
Então, por que está conseguindo sucesso no Brasil?
“Minha suspeita é que as elites do Brasil são surfistas em maior número do que em qualquer outro lugar”, disse ele. No sul da Califórnia, “há muitos surfistas ricos, mas provavelmente há muito mais golfistas. E o Brasil é o país mais entusiasmado com o surfe”.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Como este bilionário criou um império do esporte que agora terá o Los Angeles Lakers
Decathlon aposta em novo modelo de lojas para acompanhar febre do esporte no Brasil
3G, de Lemann, compra Skechers por US$ 9,4 bi e entra na febre da corrida
© 2025 Bloomberg L.P.