Transição de combustíveis fósseis vira principal disputa climática na COP30

Negociadores buscam consenso para definir uma estratégia sobre como abandonar gradualmente os combustíveis fósseis; reunião do clima da ONU, em Belém, inicia a última semana

Disputa por temas na agenda da conferência marca abertura das negociações da COP30
Por John Ainger
17 de Novembro, 2025 | 12:11 PM

Bloomberg — Os milhares de manifestantes que paralisaram o trânsito no sábado (15), em Belém, imploraram aos líderes que ajam mais rapidamente para combater o aquecimento global. Como as negociações climáticas das Nações Unidas entram na segunda semana crucial, os próximos dias determinarão se esse apelo será atendido.

Os ministros do meio ambiente dos diversos países chegaram à cúpula da COP30. Eles precisarão superar as divergências sobre questões-chave — como acelerar a redução das emissões, oferecer financiamento climático e facilitar o comércio — se eles quiserem chegar a um acordo até sexta-feira (21). E não está claro se os delegados conseguirão atender a uma exigência feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de um roteiro de transição para abandonar os combustíveis fósseis.

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“Tive mais conversas sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis nesta COP do que em qualquer outra, e agora é hora de os ministros cumprirem o apelo do presidente Lula”, disse em entrevista Jennifer Morgan, ex-representante especial da Alemanha para o clima.

“Se houver impulso político suficiente por trás disso, com países suficientes, eles encontrarão um lugar para implementá-lo”, acrescentou.

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A primeira semana foi marcada por um clima conciliatório e um rápido acordo sobre a agenda. Os negociadores brasileiros solicitaram aos países propostas sobre o que esperavam obter da COP30, na forma de “cartas de amor”, enquanto as reuniões foram apelidadas de “sessões de terapia”. Mas manter essa sensação de calma será um desafio, já que o tempo se esgota e os ministros entram em confronto sobre o texto.

O Brasil, anfitrião da COP30, precisará equilibrar qualquer plano de transição do petróleo, gás e carvão com outras demandas fundamentais.

O grupo de negociação de Países em Desenvolvimento com Interesses Semelhantes — que inclui Arábia Saudita e Índia — pressiona as nações desenvolvidas a assumirem compromissos mais concretos sobre o financiamento climático, enquanto a China deseja uma discussão sobre práticas comerciais desleais.

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Também existe uma “resistência significativa” à ideia de um roteiro para os combustíveis fósseis, disse o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, aos repórteres na sexta-feira.

O Brasil provavelmente terá que conciliar os diversos elementos em uma decisão final, preparando o terreno para várias negociações que se estenderão até altas horas da noite, até o término previsto da conferência às 18h de sexta-feira.

André Corrêa do Lago e Simon Stiell

Os negociadores dos países desenvolvidos, que pediram anonimato, disseram à Bloomberg News acreditar que a oposição a um roteiro poderia ser forte demais para que ele fosse incluído no resultado final, e que o trabalho se concentraria, em vez disso, na construção de uma coalizão de países dispostos a avançar com um processo voluntário.

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Estamos entrando na fase política, disse Liliam Chagas, principal negociadora do Brasil, em uma coletiva de imprensa. Ela acrescentou que há muitos pontos de vista sobre as questões em jogo.

Há pouca expectativa de que um plano totalmente definido sobre os combustíveis fósseis seja apresentado até sexta-feira. Um compromisso de discuti-lo ao longo do próximo ano ou mais poderia ser uma possível solução.

Os países devem realizar uma nova rodada de avaliação em 2028, que mostrará o quão distantes estão da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5°C e o que precisa ser feito para fechar essa lacuna.

Em alguns setores da Zona Azul, administrada pela ONU e onde ocorrem as negociações na COP30, há esperança de que se chegue a um acordo sobre o financiamento da adaptação.

Um acordo, firmado em 2021, para dobrar esses recursos para cerca de US$ 40 bilhões expira no final deste ano, e há uma pressão para se estabelecer uma nova e mais ambiciosa meta para a próxima década. Isso poderia potencialmente desbloquear mais apoio para a redução do uso de combustíveis fósseis.

O presidente Lula deve comparecer à conferência nos últimos dias para tentar resolver qualquer impasse, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News.

Embora a presidência brasileira da COP30 tenha se mostrado relutante à ideia de emitir uma chamada decisão de cobertura, ou seja, um documento que resuma os resultados da conferência, já se discute a possibilidade de uma decisão “mutirão” para integrar as diversas questões abordadas.

Um resumo das negociações, publicado pela presidência no final do domingo, mostrou que o resultado final será construído em torno do reconhecimento do progresso alcançado na década desde o Acordo de Paris, da transição da negociação para a implementação e da resposta à urgência da crise climática.

Entre diversas opções para acelerar a ação, o texto mantém aberta a possibilidade de um roteiro, embora não o vincule explicitamente à eliminação dos combustíveis fósseis.

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