Bloomberg Línea — Os desafios relacionados ao clima não terão uma solução sem o envolvimento direto do Brasil, na avaliação de Eduardo Mufarej, sócio e co-diretor de investimentos da Just Climate e fundador do movimento Renova BR.
Na visão de Mufarej, a importância do país na manutenção de florestas tropicais, na produção de alimentos e na geração de energia limpa faz com que o Brasil se coloque em uma posição-chave para desenvolver iniciativas que interrompam ou minimizem o aquecimento global.
“Seja dentro da questão de agricultura e de uso da terra, seja na parte de transição energética, essa é uma pauta em que o Brasil tem todo o potencial de ser um player global”, disse Mufarej em entrevista à Bloomberg Línea.
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No momento em que líderes mundiais se preparam para participar da COP30, em Belém, o investidor disse que o país reúne as características necessárias para ser um líder no combate às mudanças climáticas e na transição energética global.
Ele citou especificamente a grande área de pastagens degradadas ou de baixa produtividade no país, que poderiam ser usadas para uma agricultura mais produtiva ou mesmo para restauração de ecossistemas, para captura de carbono.
Ao mesmo tempo, o Brasil é um grande produtor de alimentos e o mundo continuará a depender do país diante do crescimento populacional. Nesse sentido, há um papel importante em desenvolver um modelo de produção mais sustentável.
“Estamos vendo hoje saturação de determinados modelos de produção”, disse. “A produção de bovinos com um componente de captura de carbono terá um prêmio no mercado internacional”, citou como exemplo de alternativas.
O investidor, que é ex-sócio da Tarpon, foi nomeado recentemente como conselheiro do Prêmio Earthshot, criado pelo príncipe William para coroar iniciativas voltadas para soluções climáticas e cuja cerimônia deste ano ocorreu no Rio de Janeiro.
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Mufarej é o único brasileiro no conselho, em que ele divide a responsabilidade de supervisão e gestão do prêmio com nomes como Jacina Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, e Christiana Figueres, uma das principais articuladoras do Acordo de Paris, além do próprio príncipe William.
Para o investidor, a matriz energética brasileira, baseada em energia renovável, também oferece um atrativo no momento em que cada vez mais eletricidade tem sido demandada por data centers e serviços de inteligência artificial.
Além da força do país em energia renovável, o Brasil está em posição privilegiada para liderar a nova economia de baixo carbono, segundo Mufarej. Ele citou avanços recentes, como a criação do mercado regulado de carbono e os incentivos para biogás e biometano.
“O Brasil, voluntariamente ou não, tem tido uma posição de liderança dentro dessa pauta”, afirmou.
O investidor destacou a eletrificação da frota de veículos e o investimento em armazenamento de energia como áreas em que o país poderia avançar mais rapidamente. “Faz muito mais sentido ter um carro elétrico no Brasil do que na Alemanha”, argumentou. “Aqui, o grid já é limpo.”
Mufarej apontou que um dos gargalos do país, no entanto, é a redução do desmatamento e da preservação das florestas tropicais.
Ele ressaltou que, por um lado, a solução para o problema passa por criar mecanismos que incentivem a manutenção das florestas em pé. E, por outro, é preciso recuperar áreas de pastagens.
Nesse sentido, os bancos públicos que financiam o agronegócio também têm um papel maior a ser desempenhado, adotando uma abordagem mais rígida do que a atual no financiamento à produção em áreas de desmate recente.
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