Bloomberg Línea — Em duas semanas, o Brasil sediará a COP30 em Belém (PA), a primeira conferência global do clima da ONU realizada na Amazônia. A expectativa é que o evento traga o tema de florestas para o centro do debate climático – e do mercado de carbono.
Para Thais Esteves, diretora de Clima e Sustentabilidade e Impacto Social do Boston Consulting Group (BCG) para a América Latina, será uma oportunidade única de defender visões como a de que créditos florestais podem recuperar a confiança de investidores com melhorias em monitoramento e metodologia, após dois anos marcados por críticas e suspeitas de greenwashing.
A executiva colidera as práticas de Clima e Sustentabilidade e Impacto Social do Boston Consulting Group para a região.
A falta de padronização e transparência metodológica ainda limita o avanço dos projetos florestais, enquanto o amadurecimento do mercado depende também de coordenação governamental e atração do setor privado.
Algumas iniciativas já estão em curso, como o Science Based Targets initiative (SBTi), que busca definir critérios comuns para a contabilidade de créditos de carbono em metas empresariais de descarbonização.
Falta, no entanto, um impulso extra dos governos que poderia ser articulado durante a COP30.
“Ter diferentes governos criando uma convergência sobre a forma como veem esse problema [de padronização e transparência] pode ser muito positivo para destravar esse potencial”, afirmou Esteves em entrevista à Bloomberg Línea.
De acordo com novo relatório da consultoria sobre o tema, as soluções baseadas na natureza podem responder por mais de um terço da mitigação necessária até 2030 para limitar o aquecimento global a menos de 2°C.
Ainda assim, florestas recebem menos de 3% do financiamento climático global, segundo cálculos do BCG.
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O estudo estima que projetos florestais bem geridos podem sequestrar cerca de 300 milhões de toneladas adicionais de CO₂ até o fim da década – uma conquista que fortaleceria a confiança dos investidores no mercado de carbono e também o preço dos ativos.
O BGC destaca três frentes de ação para restaurar a confiança nos mercados de carbono: tratar as florestas como ativos completos, investir em qualidade e diversificar fontes de receita.
A primeira implica enxergar as áreas florestais não apenas como geradoras de créditos mas como sistemas regenerativos completos que combinam biodiversidade e valor econômico de longo prazo.
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No eixo da qualidade, o BCG e a AFF (American Forest Foundation) ressaltam que créditos de alto padrão chegam a valer 40% a mais que os créditos básicos e 250% mais que os de baixa integridade.
O alto padrão é estabelecido quando é possível verificar que o crédito tem permanência e adicionalidade – critério que garante que a redução nas emissões vai além do que ocorreria normalmente.
A terceira frente, voltada à diversificação de receitas, propõe integrar manejo florestal sustentável, bioeconomia e agricultura regenerativa aos projetos de crédito.
O BCG calcula que essa integração pode elevar em até 50% o valor presente líquido (NPV, na sigla em inglês) das florestas ao longo de 30 anos.
Segundo Esteves, isso pode se traduzir, no Brasil, em oportunidades de gerar renda local e conservar biomas, ampliando o impacto social da conservação do meio ambiente.
“A COP30 é o momento de colocar a floresta no centro do debate, mas também de falar sobre as pessoas que vivem nela”.
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