Florestas podem revitalizar o mercado de carbono. E Brasil estará no centro, diz BCG

Em entrevista à Bloomberg Línea, Thais Esteves, diretora do Boston Consulting Group, afirma que uma convergência da forma como países veem a padronização do tema, algo que pode ser tratado na COP30, ajudaria a destravar esse potencial

En el corazón de la Amazonia, se extrae bauxita de color óxido de una mina que lleva mucho tiempo enfrentándose a acusaciones de contaminación y apropiación de tierras, que luego se traslada a una refinería costera brasileña acusada de enfermar a miles de personas y que, en última instancia, se utiliza para fabricar el aluminio del F-150 Lightning de Ford..
27 de Outubro, 2025 | 05:30 AM

Bloomberg Línea — Em duas semanas, o Brasil sediará a COP30 em Belém (PA), a primeira conferência global do clima da ONU realizada na Amazônia. A expectativa é que o evento traga o tema de florestas para o centro do debate climático – e do mercado de carbono.

Para Thais Esteves, diretora de Clima e Sustentabilidade e Impacto Social do Boston Consulting Group (BCG) para a América Latina, será uma oportunidade única de defender visões como a de que créditos florestais podem recuperar a confiança de investidores com melhorias em monitoramento e metodologia, após dois anos marcados por críticas e suspeitas de greenwashing.

PUBLICIDADE

A executiva colidera as práticas de Clima e Sustentabilidade e Impacto Social do Boston Consulting Group para a região.

A falta de padronização e transparência metodológica ainda limita o avanço dos projetos florestais, enquanto o amadurecimento do mercado depende também de coordenação governamental e atração do setor privado.

Algumas iniciativas já estão em curso, como o Science Based Targets initiative (SBTi), que busca definir critérios comuns para a contabilidade de créditos de carbono em metas empresariais de descarbonização.

PUBLICIDADE

Falta, no entanto, um impulso extra dos governos que poderia ser articulado durante a COP30.

“Ter diferentes governos criando uma convergência sobre a forma como veem esse problema [de padronização e transparência] pode ser muito positivo para destravar esse potencial”, afirmou Esteves em entrevista à Bloomberg Línea.

De acordo com novo relatório da consultoria sobre o tema, as soluções baseadas na natureza podem responder por mais de um terço da mitigação necessária até 2030 para limitar o aquecimento global a menos de 2°C.

PUBLICIDADE

Ainda assim, florestas recebem menos de 3% do financiamento climático global, segundo cálculos do BCG.

Leia também: Agro brasileiro busca defender ‘imagem verde’ na COP30 ante pressão de UE e EUA

O estudo estima que projetos florestais bem geridos podem sequestrar cerca de 300 milhões de toneladas adicionais de CO₂ até o fim da década – uma conquista que fortaleceria a confiança dos investidores no mercado de carbono e também o preço dos ativos.

PUBLICIDADE

O BGC destaca três frentes de ação para restaurar a confiança nos mercados de carbono: tratar as florestas como ativos completos, investir em qualidade e diversificar fontes de receita.

A primeira implica enxergar as áreas florestais não apenas como geradoras de créditos mas como sistemas regenerativos completos que combinam biodiversidade e valor econômico de longo prazo.

Leia também: ‘Vale do Silício da biodiversidade’: o sonho grande da Votorantim no Vale do Ribeira

No eixo da qualidade, o BCG e a AFF (American Forest Foundation) ressaltam que créditos de alto padrão chegam a valer 40% a mais que os créditos básicos e 250% mais que os de baixa integridade.

O alto padrão é estabelecido quando é possível verificar que o crédito tem permanência e adicionalidade – critério que garante que a redução nas emissões vai além do que ocorreria normalmente.

A terceira frente, voltada à diversificação de receitas, propõe integrar manejo florestal sustentável, bioeconomia e agricultura regenerativa aos projetos de crédito.

O BCG calcula que essa integração pode elevar em até 50% o valor presente líquido (NPV, na sigla em inglês) das florestas ao longo de 30 anos.

Segundo Esteves, isso pode se traduzir, no Brasil, em oportunidades de gerar renda local e conservar biomas, ampliando o impacto social da conservação do meio ambiente.

“A COP30 é o momento de colocar a floresta no centro do debate, mas também de falar sobre as pessoas que vivem nela”.

Leia também

Fundo florestal de US$ 125 bi proposto pelo Brasil sofre com atrasos antes da COP30

Para a Natura, COP30 é também oportunidade para expressar seu modelo de negócio