Como a re.green atraiu de Microsoft a Nestlé e ganhou o ‘Oscar da Sustentabilidade’

Em entrevista à Bloomberg Línea, CEO Thiago Picolo disse que um número maior de empresas enxerga as florestas como ativos importantes para a resiliência de suas cadeias produtivas; e fala dos próximos passos depois de ganhar o Earthshot Prize

En el corazón de la Amazonia, se extrae bauxita de color óxido de una mina que lleva mucho tiempo enfrentándose a acusaciones de contaminación y apropiación de tierras, que luego se traslada a una refinería costera brasileña acusada de enfermar a miles de personas y que, en última instancia, se utiliza para fabricar el aluminio del F-150 Lightning de Ford..
18 de Novembro, 2025 | 05:56 AM

Bloomberg Línea — A startup de regeneração florestal re.green tem passado pelas semanas mais movimentadas de seus quatro anos de operação – e por bons motivos. A empresa foi vencedora do Earthshot Prize, criado pelo príncipe William, do Reino Unido, para reconhecer iniciativas que combatem os desafios ambientais.

Conhecido como “Oscar da Sustentabilidade”, o prêmio serve como grande holofote para o negócio, acompanhado de um cheque de 1 milhão de libras esterlinas (aproximadamente R$ 7 milhões ao câmbio corrente).

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As boas notícias já chegavam antes do anúncio na semana passada.

Na frente de clientes, o primeiro a se destacar foi a Microsoft, com um plano de restauração de 33.000 hectares. Em julho, a Nestlé firmou uma parceria envolvendo 2.000 hectares; e, em novembro, a Vivo acertou a contratação da re.green para uma restauração de 800 hectares.

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Além dos clientes privados, a re.green recebeu um aporte de R$ 250 milhões do Fundo do Clima do BNDES, também neste mês, já durante a COP30. A empresa já tinha firmado um contrato de R$ 187 milhões com o BNDES em 2024.

“Quanto mais conseguimos demonstrar qualidade, integridade e permanência, mais somos valorizados e conseguimos capturar preços premium, no topo da pirâmide”, afirmou o CEO Thiago Piccolo em entrevista à Bloomberg Línea.

“Foi o que fizemos com os clientes que temos hoje. Microsoft, Nestlé e Vivo encomendaram restaurações ecológicas de alta qualidade, e estão dispostos a pagar por isso”, disse o empreendedor.

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Thiago Piccolo, CEO da re.green

Os clientes que contraram os serviços da re.green estão, em geral, em busca da compensação de créditos de carbono para atingir suas metas de redução.

O contrato com a Microsoft, por exemplo, tem a meta de retirar 6,5 milhões de toneladas de CO₂ da atmosfera, o que deve contribuir para a meta de bigtech em ser “carbono negativa” até 2030.

Piccolo disse observar uma tendência de companhias em enxergar, cada vez, as florestas como ativos importantes para a resiliência de suas cadeias.

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É o caso da Nestlé, que contratou a re.green para uma iniciativa que deve gerar 880 mil créditos de carbono certificados e prevê reflorestar mais de 2.000 hectares no sul da Bahia, próximo às áreas de produção de cacau da empresa, segundo noticiado pela Bloomberg Línea em julho.

“É uma iniciativa de [geração de crédito de] carbono mas também é uma visão de resguardar e adicionar segurança e resiliência para uma cadeia de suprimento que é importante para a Nestlé. E esse movimento pode aumentar ainda mais com outras companhias e outras culturas”, afirmou.

“São modelos de negócio que têm sido formados e que ampliam o nosso campo de atuação. E que refletem mais plenamente o valor que uma floresta tropical traz para todos nós”, disse Piccolo.

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Restauração vs reflorestamento

A re.green se define como uma empresa de restauração ecológica, o que, segundo ele, representa diferenças para a estratégia convencional de reflorestamento.

Uma delas é a escolha do que vai ser plantado na estratégia de revitalização das áreas para alcançar, como objetivo final, a restauração do ecossistema que existia na região antes do desmatamento.

“Não será apenas uma plantação de árvores com cara de floresta mas, sim, um ambiente em que todos os processos ecossistêmicos estão restabelecidos”, explicou.

“É preciso ter diversidade de árvores, fungos, arbustos, outros tipos de plantas, animais. Isso é importante porque uma floresta com um ecossistema restaurado tem uma resiliência muito maior.”

O processo começa com a escolha das áreas a serem restauradas. A re.green faz uso de modelos científicos e de uso intensivo de tecnologia para mapear áreas que gerem resultados acima da média em benefícios climáticos, captura de carbono e benefícios para as comunidades do entorno.

“Montamos um sistema de tecnologia em nuvem que calcula qual é a área que tem para restaurar, quais são os modelos que devem ser aplicados, quanto vai custar a implementação e quanto de carbono e receita a área vai gerar.”

“Isso nos permite analisar uma quantidade muito grande de áreas muito rapidamente, e então decidir onde investir”, afirmou.

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Outro ponto fundamental é o potencial de escala.

Os municípios escolhidos para atuação precisam ainda ter ampla disponibilidade de terras e baixa competição com culturas bem estabelecidas no Brasil, como soja e milho. “Não queremos competir com segurança alimentar. E, mesmo que quiséssemos, haveria um problema de custo”, explicou.

São 12 modelos de processo diferentes de restauração a depender do nível de desmatamento da área. O portfólio da re.green conta hoje com 37.000 hectares de área entre Amazônia e Mata Atlântica – 17.000 desses hectares são de área de pasto, e os demais, de floresta em diferentes níveis de desmatamento.

O horizonte temporal de trabalho da re.green fica no intervalo entre 15 anos e 30 anos.

Meta de 1 milhão de hectares

Atualmente a re.green atua na Bahia, no Pará, no Maranhão e no Mato Grosso, em propriedades privadas que são compradas ou arrendadas pela startup.

Em geral, são fazendas pouco produtivas de pecuária extensiva, em que, no caso do arrendamento, é feita uma parceria: a terra é restaurada e, depois, os créditos de carbono e a receita gerada com a propriedade são divididas com o proprietário.

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Como próximo passo, o empreendedor vê potencial de explorar também terrenos públicos oferecidas por meio de concessões.

“É uma oportunidade gigantesca. Vislumbro que, no futuro, o nosso portfólio vai ter uma participação relevante de áreas públicas futuro por meio de concessões”, afirmou.

Os leilões de concessões para restauração florestal são recentes, e a re.green ainda não participou de nenhum.

O CEO tem no radar o primeiro leilão federal para restauração florestal com remuneração via créditos de carbono, programado para 3 de março do próximo ano, na B3, que irá conceder 15.000 hectares para reflorestamento.

“Ainda não sabemos se vamos participar do leilão federal. Mas vamos dedicar muita atenção e recursos para entender a fundo o negócio e sermos competitivo caso a gente decida entrar”, disse.

A entrada em áreas públicas pode ser um fator de impulso relevante para a meta ambiciosa da re.green, que já nasceu com o objetivo de conservar 1 milhão de hectares. Piccolo reforçou que é uma meta a longo prazo, de pelo menos 15 anos, e que até lá a companhia deve focar no seu crescimento.

A receita da companhia vem principalmente da venda de créditos de carbono com a monetização das áreas de floresta; e, de uma frente menor, do plantio de espécies nativas para a indústria madeireira – o que representa 9% das áreas do portfólio da startup ambiental.

“Nossa cabeça não está no breakeven. O objetivo hoje é ganhar escala: queremos passar dos 37.000 hectares de portfólio para 1 milhão. Ainda temos muita coisa a fazer pela frente”, disse o CEO da re.green.

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