Prévia do IPCA divide economistas sobre sinalização de inflação em queda

Prévia da inflação oficial do país desacelerou para 0,04% (ante 0,51% em maio), em linha com o esperado, mas trouxe surpresas de alta em itens da categoria habitação

Preços de habitação subiram acima do esperado na prévia da inflação ao consumidor em junho de 2023 (Foto: Paulo Fridman/Bloomberg)
27 de Junho, 2023 | 04:36 PM

Bloomberg Línea — A prévia da inflação ao consumidor em junho medida pelo IPCA-15, divulgada nesta manhã de terça-feira (27), trouxe novos ingredientes para a avaliação dos próximos passos do Banco Central.

A prévia desacelerou para 0,04% (ante 0,51% em maio), quase em linha com a taxa de 0,02% esperada pelo consenso do mercado financeiro. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 3,40%, abaixo dos 4,07% registrados nos 12 meses anteriores. Em junho de 2022, a taxa foi de 0,69%.

A ata da última reunião do Copom, também divulgada nesta terça, mostrou que os economistas não descartam a estratégia de manutenção da taxa em 13,75% ao ano, mas também indicam que uma diminuição pode estar no horizonte para agosto — desde que a inflação continue em queda.

Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, disse acreditar que esse pode não ser o caso. Segundo ele, em junho a inflação teve uma desaceleração por refletir a queda nos preços dos combustíveis e no gás de cozinha anunciada pela Petrobras (PETR3, PETR4) e também o programa de carro popular.

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“Na nossa visão, a inflação acumulada em 12 meses atingirá seu patamar mínimo em junho e voltará a subir a partir de julho. Entre os motivos que corroboram nossa projeção está a saída do cálculo [em 12 meses] das deflações registradas no IPCA no ano passado em razão dos efeitos da desoneração de impostos”, afirmou.

Para Salles, a resiliência da inflação de serviços, a pressão nos núcleos e as expectativas de inflação acima da meta não parecem compatíveis com uma redução rápida da inflação; e o resultado do IPCA-15 de junho não alterou a projeção do C6 de que o IPCA terminará 2023 em 5,8%. Para 2024, a inflação deve desacelerar para 5,5%.

O PicPay também descartou um corte nos juros já em agosto por identificar a melhora na inflação como “insuficiente”. “A nossa principal surpresa negativa, em termos de maior inflação, veio do grupo habitação, especialmente por causa das altas na taxa de água e esgoto e da energia elétrica residencial aplicada em algumas capitais do país”, disseram Marco A. Caruso e Igor Cadilhac.

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Por outro lado, o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, afirmou que, “apesar de a inflação de boa parte dos grupos de serviços ainda estarem acima do desejado pelo Banco Central, os números — assim como os outros divulgados anteriormente — mostram um arrefecimento importante”.

“Esses dados podem ajudar positivamente o cenário do Banco Central. De acordo com a ata, divulgada hoje, os membros do Comitê reconhecem a melhora do cenário inflacionário, mas esperam a divulgação de mais dados”, disse Sung.

“O principal risco de curtíssimo prazo é uma possível mudança nas metas de inflação [a reunião do Conselho Monetário Nacional será na quinta]. Se a inflação continuar melhorando, as expectativas caírem, não haver alteração das metas e o arcabouço fiscal for aprovado sem grandes alterações que flexibilizem a regra, é possível o BC enxergar uma janela de oportunidade para queda da Selic”, concluiu.

Para a Suno, deve haver um corte de 0,25 ponto percentual na Selic já em agosto.

A Warren Rena, por sua vez, disse enxergar uma deflação para o IPCA de junho, mas revisou para -0,06% por entender que “diminuirá a intensidade do efeito da medida provisória de desconto de automóveis em junho e deixará uma parte para julho”. A corretora também entende que, até o final de 2023, a inflação deve continuar em queda, chegando a 4,8% nos 12 meses encerrados em dezembro.

Um segundo processo de desinflação, para Alexandre Maluf, economista da XP, deve ser mais lento e duro do que o primeiro, concentrado em bens e alimentos. Segundo ele, os preços de serviços e métricas dos núcleos ainda estão acima da meta de inflação, o que exige uma taxa de juros ainda elevada.

“A medida de ‘serviços subjacentes’, acompanhada de perto pelo Banco Central, avançou 0,56% mês x mês em junho, bem acima de nossa projeção de 0,29%, refletindo as surpresas altistas dos subitens ‘aluguel’ e ‘condomínio’. Consequentemente, a taxa média móvel de três meses anualizada e ajustada sazonalmente subiu de 6,0% para 6,4%.”

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.