Bloomberg Línea — O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reagiu à carta aberta do mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, e à decisão do americano de impor tarifas comerciais de 50% sobre todos os produtos importados do país a partir de 1 de agosto de 2025.
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, disse o presidente da República em referência às “exigências” de Trump para que o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de estado, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), seja extinto.
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”, escreveu Lula em post na plataforma social X, antes conhecida como Twitter.
Leia mais: Tarifa de Trump é demonstração de força para punir o Brasil por Brics, diz professor
Lula sinalizou ainda que o Brasil pode responder à imposição das tarifas de 50%, sob respaldo legal de uma lei aprovada em abril pelo Congresso para tratar justamente das ameaças de Trump - inicialmente não acionada porque as taxas impostas ao país ficaram em 10%, no patamar inferior do que foi adotado pelos EUA.
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, escreveu o presidente.
Lula, que cumpre seu terceiro mandato como presidente do Brasil, rebateu ainda a alegação de Trump de que os EUA são historicamente prejudicados pelas relações comerciais entre os dois países.
“É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos”, disse o presidente brasileiro.
Neste ano de 2025, com dados de janeiro a maio, os EUA registraram um superávit de US$ 3,227 bilhões com o Brasil, que é um raro país entre as maiores economias do mundo que tem uma relação deficitária com a maior potência.
Leia mais: Trump diz que vai impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto
O post foi publicado às 19h56 no horário de Brasília e tinha cerca de 1,9 milhão de visualizações uma hora mais tarde.
Lula rebateu outras alegações expostas pelo presidente americano em sua carta igualmente aberta e publicada em rede social - na Truth Social.
“No contexto das plataformas digitais [...], no Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira”, disse em referência a decisões do STF de derrubar conteúdo classificado como de ódio ou de ataques à democracia.
Leia abaixo a íntegra da declaração do presidente Lula:
“Tendo em vista a manifestação pública do presidente norte-americano Donald Trump apresentada em uma rede social, na tarde desta-quarta (9), é importante ressaltar:
O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.
O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.
No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática.
No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira.
É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos.
Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo."
Leia também
Exportadores temem entrave no comércio com EUA e pedem retomada de negociações
Tarifas de Trump derrubam o real em escalada de disputa com governo brasileiro