Incerteza e cautela marcam expectativa de economistas por decisão do Copom

Até a véspera da decisão sobre a Selic, 19 dos 31 analistas em uma pesquisa da Bloomberg esperavam que o Banco Central interrompesse seu ciclo de aperto em 14,75%, enquanto os 12 restantes previam um aumento para 15%

Até a véspera da decisão sobre a Selic, 19 dos 31 analistas em uma pesquisa da Bloomberg esperavam que o Banco Central interrompesse seu ciclo de aperto em 14,75%, enquanto os 12 restantes previam um aumento para 15%
Por Martha Beck - Andrew Rosati
18 de Junho, 2025 | 08:17 AM

Bloomberg — Na véspera da decisão sobre a taxa de juros do Brasil nesta semana, o economista-chefe da XP, Caio Megale, agonizou com os dados e os discursos dos formuladores de políticas antes de mudar sua previsão de um aumento de um quarto de ponto para uma manutenção. Analisando os mesmos detalhes, o economista da ASA, Leonardo Costa, seguiu o caminho oposto, abandonando sua aposta em custos de empréstimos estáveis e pedindo um aumento.

Essas mudanças de última hora - longe de serem casos isolados - destacam a tensão que domina os observadores do Brasil nos distritos financeiros, de Wall Street à Faria Lima, enquanto eles quebram a cabeça antes do anúncio de quarta-feira. Até o momento, 19 dos 31 analistas em uma pesquisa da Bloomberg esperam que o banco central interrompa seu ciclo de aperto em 14,75%, enquanto os 12 restantes preveem um aumento para 15%.

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Mesmo assim, muitos são ambivalentes em suas opiniões. Por exemplo, Alberto Ramos, da Goldman Sachs aposta em um aumento, mas vê 45% de chance de uma manutenção.

Leia também: Manutenção dos juros ou alta de 0,25 ponto percentual? Mercado chega dividido ao Copom

O Banco Central do Brasil elevou a Selic em 4,25 pontos percentuais desde setembro, sendo que muitos desses aumentos foram telegrafados por uma orientação explícita. Mas os formuladores de políticas deixaram suas opções em aberto desde a última decisão sobre a taxa em maio, e os discursos dos membros da diretoria desde então têm sido poucos e espaçados. Embora o fortalecimento da moeda e a inflação melhor do que a esperada sejam um bom presságio para uma pausa, o crescimento interno robusto dá motivos para estender o ciclo de aperto.

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O que diz a Bloomberg Economics: “Em sua última decisão sobre a taxa de juros, o Banco Central foi vago sobre suas próximas medidas de política. Desde então, os dados e os acontecimentos deixaram os mercados e os analistas divididos em suas expectativas quanto ao curso de ação dos formuladores de políticas. Esperamos que o Banco Central deixe a taxa de política monetária inalterada em 14,75% na reunião de 18 de junho, encerrando o ciclo de aperto. Isso deixaria a taxa de política real ex-ante em 9,5%, quase duas vezes mais alta do que os 5% que o Banco Central assume como neutro em seus modelos.” - Adriana Dupita, economista do Brasil e da Argentina

O Banco Central publicará a decisão sobre a taxa de juros em seu site após as 18h30, horário local de Brasília, juntamente com uma declaração de sua diretoria. Isso ocorrerá horas depois que o Federal Reserve deverá deixar seus próprios custos de empréstimos inalterados.

Os investidores esperam que os formuladores de políticas do Brasil esclareçam a questão da força da economia. Em maio, o presidente do banco, Gabriel Galipolo, disse que as taxas precisavam permanecer em um nível muito restritivo por mais tempo, aumentando as apostas dos investidores de que os aumentos parariam em junho. Semanas depois, ele endureceu o tom, dizendo que a atividade tem sido “surpreendentemente resiliente” e que o ciclo de aperto ainda está aberto.

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O produto interno bruto do Brasil aumentou 1,4% no primeiro trimestre devido às colheitas abundantes e ao forte consumo das famílias. Mais recentemente, a economia registrou um modesto aumento de 0,16% em abril, de acordo com o principal indicador de atividade do Banco Central.

“Os indicadores de atividade permaneceram resilientes, enquanto a inflação de serviços permaneceu sob pressão”, escreveu em uma nota de pesquisa a analista do BTG, Iana Ferrao, que também alterou sua opinião de manter para um aumento de um quarto de ponto. “Esses fatores, juntamente com a persistente falta de ancoragem das expectativas de inflação, reforçam nossa avaliação de que será necessário um ajuste residual.”

A medida surpreendente do governo, no mês passado, de aumentar o imposto sobre transações financeiras também turvou as perspectivas para as taxas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, queria aumentar o IOF para aumentar a receita e ajudar a atingir as metas fiscais.

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A opinião dos economistas é que impostos mais altos sobre os empréstimos teriam ajudado a política monetária a desacelerar uma economia forte. Mas as perspectivas de maiores custos com essa medida provocaram reações contrárias tanto dos mercados financeiros quanto dos legisladores, levando o governo a voltar atrás e revogar a maior parte do decreto.

O que favoreceu o Banco Central foi a moeda brasileira, o real, que subiu quase 13% em relação ao dólar até agora neste ano. Esse ganho - o maior da América Latina - está ajudando a controlar os custos das importações.

Mais recentemente, a inflação anual do Brasil diminuiu mais do que o esperado em maio, interrompendo três meses de avanços e desacelerando para 5,32%. Embora esse valor esteja bem acima da meta de 3%, uma análise detalhada mostrou um alívio nos preços das principais categorias, incluindo transporte, itens domésticos e alimentos e bebidas.

Para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, essa desaceleração dos preços ao consumidor foi suficiente para manter sua opinião de que as taxas serão mantidas em suspenso esta semana - embora ela reconheça que os discursos de Galipolo a deixaram com dúvidas.

“A política monetária está funcionando”, disse ela.

--Com a ajuda de Robert Jameson e Giovanna Serafim.

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