Syngenta quer encontrar o ‘Nubank do agro’ para destravar o crédito rural no Brasil

Fintech Syde, da gigante global de insumos, movimentou R$ 80 milhões com seu marketplace de crédito que conecta players financeiros a produtores em 2024; o head Fabio Neufeld conta à Bloomberg Línea os planos de expansão

Growing beds for seed development at the Fields of Innovation crop site, operated by Syngenta AG, in Grootebroek, Netherlands, on Wednesday, Sept. 29, 2021. The Fields of Innovation spotlights Syngenta's efforts to provide solutions to help growers overcome the challenges caused by changes in the environment – volatile climate conditions, severe soil erosion and increasing biodiversity loss. Photographer: Yuriko Nakao/Bloomberg
26 de Junho, 2025 | 06:17 AM

Bloomberg Línea — No coração de uma das maiores multinacionais do agronegócio, uma equipe tenta resolver um dos gargalos mais persistentes do campo brasileiro: o acesso ao crédito para produtores rurais, sobretudo pequenos e médios.

Com mentalidade de startup, tecnologia própria e estrutura enxuta, a Syngenta montou a Syde, uma fintech dentro de casa que vem expandindo um marketplace de crédito que já movimentou R$ 80 milhões em 2024, mesmo em meio a um cenário macroeconômico mais desafiador com taxas de juros de dois dígitos.

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“O que estamos tentando fazer é mudar a forma como o agro acessa crédito no Brasil”, disse Fabio Neufeld, que lidera o braço financeiro da Syde, à Bloomberg Línea durante o World Agritech Summit, evento realizado nesta semana em São Paulo.

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O executivo tem a experiência de ter trabalhado no Itaú BBA e no Rabobank, em que estruturou “a primeira solução financeira para a Syngenta que funcionou”, lembra sobre a operação realizada em 2007.

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Naquele ano, a Syngenta já atuava com estruturas de financiamento como FIDCs (Fundo de Investimento em Direito Creditório) e CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) para sustentar as vendas de insumos a prazo via distribuidores. Em 2023, a empresa deu um passo além com o lançamento da Syde.

“Vim para a Syngenta a convite do CFO, para estruturar uma área de soluções financeiras separada da tesouraria. Em paralelo, fui chamado para liderar o projeto da fintech, ainda em embrião”, disse.

Mais que digitalizar o acesso ao crédito, a empresa tem como objetivo mudar a lógica do relacionamento financeiro no agro, disse o executivo.

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“Você não tem hoje um Nubank do agro. Queremos encontrar esse parceiro. Ou sermos esse elo para que ele apareça.”

Fabio Neufeld lidera a Syde, fintech que nasceu dentro da Syngenta

A lógica do negócio da fintech é simples mas poderosa, segundo o executivo. O produtor rural, muitas vezes, não consegue financiamento adequado nem junto ao governo (via Plano Safra) nem no mercado privado.

“O prazo no agro é muito mais longo, de 180, 220 dias, e a revenda acaba financiando o produtor, mesmo sem estrutura para isso.”

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Sem opções no mercado, o produtor acaba comprando insumos a prazo da revenda, o que sobrecarrega o capital de giro dos distribuidores, e, em última instância, também a indústria.

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“Chegamos a ter uma carteira de crédito maior do que muitos bancos. Mas esse não é o nosso core. Nosso negócio é vender defensivos, sementes, biológicos. Dou crédito porque preciso, mas não ganho dinheiro com isso”, explicou.

Apesar disso, o mecanismo tem seu apelo comercial e leva o produtor a angariar os produtos da Syngenta.

A tese da fintech é justamente tirar esse peso da indústria.

Na prática, o aplicativo da Syde permite que o produtor preencha seu pedido de crédito, com dados da lavoura, valor desejado, garantias e prazos, e o sistema encaminha a demanda para uma rede de parceiros financeiros.

BTG Pactual, Itaú, Santander, fintechs como Cultivo e AL5, além de cooperativas como a Cressol, são algumas das pontas que já ofereceram capital por meio da plataforma da fintech.

Cada parceiro analisa e devolve uma proposta. E o produtor faz a escolha final. O papel da Syngenta, contou Neufeld, é intermediar e conectar as pontas interessadas no negócio.

Apesar do momento de cautela, com juros altos há alguns anos, crédito restrito e problemas climáticos que afetam regiões produtoras no país, a Syngenta vê espaço para crescimento do negócio e do setor.

“O agro é cíclico. Viemos de quatro anos muito bons. Agora é um ano de ajuste. Mas o Brasil é altamente produtivo, eficiente e tecnologicamente avançado. Vamos passar por isso.”

Expansão pela América Latina

A fintech Syde, por ora, opera apenas no Brasil. Mas o intuito, segundo o executivo, é exportar o modelo para outros países e regiões, como a América Latina, que está no radar.

“A regulação de fintechs no Brasil é muito avançada. Temos uma estrutura que favorece a inovação. Mas a ideia é levar esse know-how para fora em um ou dois anos.”

Na operação, a empresa busca mais parceiros, financeiros e regionais, para ampliar o alcance do marketplace. E reforça a mensagem de que não entra no risco de crédito nem oferece garantias.

“Cada parceiro analisa, define e formaliza com o produtor. Nossa missão é destravar o crédito de forma mais barata e inteligente.”

“Se o agricultor tiver acesso a crédito de melhor qualidade, ele se torna mais saudável financeiramente. E, se ele estiver mais saudável, é melhor para mim também. No fim das contas, ele compra mais de nós.”

A Syngenta movimenta cerca de US$ 600 milhões a 750 milhões por ano em soluções financeiras, tendo atingido um pico de US$ 1 bilhão em 2022.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.