MSD Saúde Animal aposta em diversificação para acelerar crescimento no Brasil

Em entrevista à Bloomberg Línea, executivos da companhia farmacêutica detalham estratégias para expansão nos segmentos de aves, suínos e peixes em meio à desafios sanitários, como a gripe aviária

Na avicultura, a MSD Saúde Animal teve alta de 17% nas vendas em 2024. (Foto: Mary Kang/Bloomberg)
14 de Agosto, 2025 | 03:46 PM

Bloomberg Línea — Uma das principais fornecedoras globais de insumos farmacêuticos para animais, a MSD Saúde Animal tem apostado no crescimento dos segmentos de aves, suínos e peixes e frutos do mar no Brasil, segundo executivos da empresa que falaram à Bloomberg Línea.

Com o aumento da demanda por frango e porco no mundo como alternativa aos preços elevados da carne bovina, a prevenção a doenças tem ganhado ainda mais relevância para produtores no país, especialmente depois de casos recentes de gripe aviária.

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A farmacêutica, que faz parte do grupo americano MSD, viu as vendas no segmento de avicultura crescerem 17% em 2024, tendência que tem se mantido neste ano.

O portfólio de avicultura é quase todo formado por vacinas, com destaque para imunizantes recombinantes aplicados ainda na fase incubatória, que combinam proteção contra doenças como Marek, Gumboro, Laringotraqueíte, Newcastle e bronquite infecciosa – essa última causada por um tipo de coronavírus.

“Nosso grande diferencial está na baixa reatividade das vacinas e na qualidade da emulsão. Isso garante imunização eficaz sem estresse para as aves, o que impacta diretamente a produtividade”, disse Marília Rangel, diretora da unidade de negócios de avicultura e aquacultura.

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A importância da emulsão, explica a executiva, é o que garante que haja antígeno na vacina mesmo em doses pequenas, de 0,5 ml.

A avicultura e a suinocultura representam cerca de 30% da receita da empresa no país e são vistas como plataformas estratégicas para adoção de novas tecnologias.

Leia também: Além da vacina: MSD Saúde Animal quer avançar em prevenção e ‘falar’ com os bichos

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Neste ano, um surto de gripe aviária no Rio Grande do Sul chegou a colocar a produção de aves brasileira em risco, mas as medidas tomadas para conter os focos da doença fizeram com que o Brasil se declarasse livre da emergência sanitária.

Segundo a executiva, a resposta rápida e transparente da cadeia produtiva, aliada a ações de biosseguridade das granjas e nos frigoríficos, ajudou o país a evitar impactos mais severos sobre a sua cadeia.

E, mesmo com vacinas disponíveis contra a gripe aviária no portfólio global da empresa, Rangel explica que a companhia defende que a imunização só deve ser usada em casos excepcionais, sob orientação do governo e do setor.

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“A biosseguridade é o ponto fundamental. A vacina é uma ferramenta, mas não é esterilizante. A decisão sobre vacinar envolve também a questão do status sanitário e do comércio internacional”, disse a executiva, que está há dois anos no cargo e antes trabalhou durante oito anos na Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Além da importância da biosseguridade, a lógica nesse caso, segundo ela, é que a vacinação de gripe aviária pode dificultar o trabalho das autoridades a identificar novos surtos.

Além das vacinas, a empresa também tem feito apostas em novas tecnologias aplicadas à criação de aves.

Com a aquisição da startup Sense Hub Poultry em dezembro de 2021, a MSD Saúde Animal começou a testar sensores em galpões que monitoram temperatura, CO₂, consumo de água e peso das aves em tempo real. A ideia foi ampliar as ferramentas disponíveis para os produtores e “ir além da vacina”.

“Estamos falando de manejo inteligente. A nova geração quer ficar no campo se tiver tecnologia, dados e ferramentas que facilitem a vida. E isso também ajuda o produtor a ser mais eficiente”, disse Rangel.

Em entrevista recente à Bloomberg Línea, o presidente da MSD Saúde Animal no Brasil, Delair Bolis, explicou como os investimentos em tecnologia e dados foram feitos na companhia com intuito de “falar com os animais”.

Suinocultura

Além da avicultura, outra unidade de negócios que tem crescido como uma das apostas da MSD Saúde Animal para o futuro é a suinocultura.

Isso ocorre em um momento crucial para os suínos, que tem crescido em importância no setor de proteínas.

Entre janeiro e julho deste ano, as exportações brasileiras de suínos cresceram 12,9% no volume comparado ao mesmo período do ano passado. Na mesma base de comparação, o valor das exportações aumentou 26,7%, para US$ 2,039 bilhões, segundo dados da ABPA.

Para Fernando Chucid, diretor da unidade de suinocultura da MSD Saúde Animal, o foco está na prevenção desde os primeiros dias de vida do animal, sobretudo com vacinas sem agulhas que causam menos stress e garantem o bem-estar animal.

Nos próximos cinco anos, a expectativa é lançar cerca de 47 novos produtos, o dobro do que foi lançado nos últimos dez anos, disse o executivo. No ano passado, a unidade cresceu 10%, e o intuito é seguir nesse patamar nos próximos anos.

Na unidade de negócios de suinocultura, 70% do portfólio da empresa são biológicos. Os demais 30% são representados pela linha hormonal, parasitários e anti-inflamatórios.

Os antibióticos, que já foram um dos principais carros-chefes da unidade de negócios, têm perdido a relevância, segundo o executivo, por pressão do mercado, por demanda, por entrada de genérico. “A gente tirou o pé nos últimos cinco anos”, disse Chucid à Bloomberg Línea.

“Sabemos que não temos o produto mais competitivo em termos de preço, mas sim de retorno. Quando a suinocultura está em crise, sofremos um pouco, porque o nosso produto tem um posicionamento diferenciado.”

Mercado japonés

Nova fronteira

Enquanto a avicultura brasileira é considerada uma indústria madura, a aquicultura ainda está em processo de consolidação, mas com potencial enorme a ser explorado, segundo Marília Rangel.

Isso se reflete nos números: a divisão de vacinas para peixes da empresa cresceu mais de 40% em 2024, puxada principalmente pela adoção da vacina contra iridovírus em tilápias, lançada em 2022.

“É como se estivéssemos olhando para a avicultura de 40 anos atrás. O setor ainda é muito pulverizado, com baixo uso de imunização, mas tem amadurecido rápido”, disse.

A estratégia da MSD Saúde Animal para esse setor é tentar ampliar o uso de vacinas comerciais, como as contra estreptococose e iridovirose, em um mercado onde a imunização ainda não é obrigatória.

Muitos produtores, explica a executiva, ainda recorrem a vacinas autógenas, feitas com material biológico da própria propriedade.

“Nosso desafio é mostrar que vale a pena vacinar, mesmo sem obrigatoriedade. Quando eles percebem que deixam de perder até 40% da produção por doença, não voltam atrás”, disse Rangel.

Além das vacinas, Rangel disse que outra aposta da empresa foi ofertar biorremediadores para o tratamento da água, após a aquisição da linha aquática da Elanco, em 2019.

A empresa também começou a atuar no mercado de camarão, especialmente no Norte e Nordeste do país.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.