Listagem nos EUA seria ‘passo natural’ após Marfrig incorporar BRF, diz Molina

Ações da Marfrig subiram 9% nesta sexta (15) com informação de potencial listagem em Nova York - ‘desde que traga mais valor e reduza custos’ - e perspectiva de pagamento de dividendos pela empresa resultante da união dos negócios

Marcos Molina, fundador da Marfrig e principal acionista da nova MBRF, empresa resultante da fusão entre Marfrig e BRF
Por Clarice Couto
15 de Agosto, 2025 | 07:23 PM

Bloomberg — A Marfrig Global Foods deu nesta sexta-feira (15) o seu maior salto na bolsa brasileira desde maio, depois que seus executivos expuseram os benefícios esperados de sua planejada aquisição da BRF, em anúncio que incluiu um aumento nos dividendos e uma listagem potencial nos Estados Unidos.

O grupo resultante da fusão pode gerar aos acionistas da BRF um pagamento maior do que o que o esperado atualmente, dados os ganhos com as sinergias das empresas combinadas e os créditos fiscais que devem impulsionar a geração de caixa, disse o presidente do conselho e acionista controlador da Marfrig, Marcos Molina, durante uma teleconferência de resultados nesta sexta.

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“Após três anos de intenso trabalho, a BRF voltou aos trilhos e começou a pagar dividendos. A MBRF [nome da futura companhia] continuará a pagar dividendos de forma consistente e a remunerar os acionistas”, disse ele.

As ações da Marfrig saltaram até 9% na sexta-feira, a maior alta desde 16 de maio. A BRF subiu até 7%. No fechamento, os ganhos foram de 8,75% e 5,62%, respectivamente.

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Embora a proposta da Marfrig para comprar as ações da BRF que ainda não possui esteja no aguardo da aprovação antitruste do Cade, os executivos disseram que esperam que o negócio seja fechado até setembro.

A empresa reiterou que, após o sinal verde da autarquia de defesa da concorrência, planeja se preparar para a listagem de ações no mercado americano.

A listagem nos EUA está no “radar” e é um passo natural, desde que traga mais valor e reduza os custos de capital, disse Molina.

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Esse movimento poderia atrair um conjunto mais amplo de investidores para a empresa, potencialmente aumentando o valor de suas ações e o retorno financeiro dos acionistas.

O plano vem depois que a JBS, a maior fornecedora de carne do mundo, transferiu sua listagem principal de São Paulo para Nova York em junho.

A Marfrig se beneficia dos resultados da BRF, uma vez que a fornecedora de frangos continua a obter lucros com a forte demanda global, o que ajuda a resistir ao impacto de uma grave escassez de gado nos EUA.

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Os lucros operacionais da Marfrig caíram menos que o esperado no segundo trimestre, enquanto a BRF também superou as estimativas dos analistas.

A Marfrig, que controla a National Beef, produtora de carne bovina dos EUA, está entre as empresas que estão sendo pressionadas pela pior escassez de gado em décadas.

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Processadores de carnes - incluindo as grandes rivais JBS e Tyson Foods - têm sido forçados a pagar preços recordes pelos animais para abate, ao mesmo tempo em que enfrentam dificuldades para repassar esses custos aos consumidores.

A demanda crescente por frango e os baixos custos da ração para aves têm ajudado a Marfrig a amortecer o impacto, mesmo com as proibições comerciais que se seguiram a um surto de gripe aviária no Brasil em maio, que prejudicou os resultados no segundo trimestre.

“A BRF reportou um trimestre melhor do que o esperado, uma surpresa positiva, apesar do impacto negativo das restrições de exportação da China e da UE [União Europeia] sobre o frango brasileiro”, disseram analistas da XP, incluindo Leonardo Alencar, em uma nota aos clientes.

“A perspectiva de preços mais baixos dos grãos, juntamente com uma demanda sólida, continua, com um excedente de margem esperado após o fim das proibições comerciais”, escreveram.

A BRF espera que a China e os países europeus retirem suas proibições e retomem as compras de aves muito em breve, disse o CEO, Miguel Gularte, durante uma call de resultados na sexta-feira.

Embora se espere que a oferta de frango no Brasil e em outros países produtores cresça até 2% no curto prazo, a demanda mundial deve continuar a aumentar em um ritmo mais rápido, de acordo com Gularte e o diretor financeiro da BRF, Fabio Mariano.

O crescimento da renda no Brasil, no Oriente Médio e na Ásia, bem como a iniciativa da BRF de aumentar seu portfólio de produtos de valor agregado, também devem ajudar a elevar os preços.

O lucro da Marfrig antes de itens como juros e impostos caiu 11% em relação ao ano anterior, para R$ 3 bilhões nos três meses encerrados em junho.

Isso se compara a uma média de R$ 2,12 bilhões das estimativas dos analistas compiladas pela Bloomberg. A BRF reportou lucro ajustado de R$ 2,5 bilhões, superando as estimativas de analistas de R$ 2,39 bilhões.

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